Pesquisadores do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (Cemeai), com sede no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, desenvolvem um projeto que visa a prevenir as quedas de idosos. A iniciativa é composta de testes que permitem mapear o caminhar dessas pessoas. O Cemeai é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O centro é especialmente adaptado e estruturado para promover o uso de ciências matemáticas (em particular matemática aplicada, estatística e ciência da computação) como um recurso industrial.
Os testes são simples e os idosos são preparados para os exercícios pelas alunas do curso de Gerontologia da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Caroline de Oliveira Silva e Patrícia Bet. O grupo de pessoas foi selecionado na Fundação Educacional de São Carlos (Fesc), onde funciona a Universidade Aberta da Terceira Idade (Uati).
Um dos desafios é uma caminhada de seis minutos. O percurso é de 12 metros e o objetivo é caminhar em linha reta, ida e volta, até completar o tempo. Cada passo é acompanhado e cronometrado pelas estudantes. Na cintura, o idoso coloca o acelerômetro, um aparelho que mede a mudança de velocidade durante o trajeto.
Há também outros exercícios de coordenação motora e cognitiva. No TUG (sigla de Timed Up and Go), o idoso intercala o caminhar com o sentar. Ele começa sentado e tem um percurso de 3 metros para fazer, até dar meia-volta, refazer o trajeto (mais 3 metros) e se sentar novamente. A primeira vez é simples assim. Na segunda, o percurso é feito com um copo de água nas mãos. Na terceira vez, é preciso fazer contas de cabeça enquanto caminha. E não só isso: também é necessário trocar algumas moedas de bolso – tudo para saber o quanto a distração influencia no passo do idoso.
Perda de memória – Os idosos também preenchem formulários de identificação e questionários para detectar indícios de perda de memória ou falta de atenção. “Sabemos que existe um alto índice de queda em idosos e que os seus agravos são um importante problema de saúde pública. Já existem alguns estudos que usam o acelerômetro para detectar o risco de queda. Porém, são em ambientes simulados e geralmente com pessoas jovens”, diz Caroline.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que, por ano, ocorrem 424 mil mortes por quedas no mundo. De 30% a 60% da população com mais de 65 anos caem uma vez ao ano, e parte dessas quedas (de 40% a 60%) termina com algum tipo de lesão. “Muitas vezes, o idoso começa a cair muito e se limita, acha que tem que morar com o filho para ter maior suporte. Então, se a gente tiver esse suporte propriamente na casa do idoso, isso possibilitará sua maior independência”, comenta Patrícia.
Depois da coleta, é feita a análise dos dados. No ICMC, eles são interpretados e transformados em modelos matemáticos e algoritmos. O professor Moacir Ponti, do ICMC, explica que todos os testes são convertidos em gráficos e tabelas. Os pesquisadores analisam, por exemplo, a relação intensidade/tempo. “Nós pretendemos, a longo prazo, conseguir extrair um modelo desses dados que permita acompanhar um paciente e prever se houve uma mudança no padrão do seu movimento e que poderia predispor à queda”, completa Ponti.
Quem também integra o grupo de pesquisa é o pesquisador do Cemeai e do ICMC André Carlos Ponce de Leon Ferreira de Carvalho, da área de inteligência computacional. Ele explica que a ideia é fazer com que os idosos usem o acelerômetro em casa e que, em eventual mudança de padrão de caminhada, um responsável ou o próprio médico do paciente seja alertado da possibilidade de queda. Além disso, o aparelho também precisa ser adaptado. “Deve ser uma coisa que o idoso nem perceba que esteja usando. Por exemplo, como um relógio desses mais modernos que têm funções inteligentes e que tenha o acelerômetro”, diz Ferreira de Carvalho.
Para Paula Castro, professora do curso de Gerontologia e coordenadora da pesquisa na Ufscar, a longo prazo a intenção é mudar as estatísticas e introduzir o mapeamento de risco de quedas nas políticas públicas. “As intervenções do sistema público podem ser focadas em atender especificamente as pessoas que caem ou que vão cair, e, assim, melhorar o atendimento do ponto de vista da rapidez e da qualidade e diminuir os gastos com saúde pública”, sugere a pesquisadora.
Além do ICMC, o Cemeai conta com outras seis instituições associadas: o Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da Unifesp, o Instituto de Matemática Estatística e Computação Científica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista, também da Unesp, o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) e o Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP.
Especial para o Jornal da USP