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G1

Sinais de trânsito em São Paulo não acompanham o ritmo dos idosos (1 notícias)

Publicado em 05 de maio de 2017

Os brasileiros de mais idade enfrentam um desafio enorme, nas nossas maiores cidades.

Como se corre em São Paulo. Muito pelos compromissos, muito pelo hábito. Todo mundo é assim.

Na verdade, nem todo mundo. Na gigantesca capital também há, claro, quem leve a vida num ritmo menos acelerado simplesmente porque o corpo já não responde mais como antes. Todo mundo sabe que existem cada vez mais idosos no Brasil.

Todo mundo, menos a maioria dos nervosos homenzinhos coloridos do semáforo.

O seu Roberto vai começar a travessia. Já começou a piscar o vermelho ali. Vamos ver se dá tempo. Já está vermelho e só agora conseguiu atravessar no limite.

A maioria desses camaradas verdes e vermelhos não leva em consideração as limitações de cada um.

Para eles, em São Paulo, por padrão, todo mundo se desloca numa velocidade média de 1,2 metro por segundo. E quando o carinha vermelho começa a piscar de irritação, o pedestre tem que aumentar ainda mais essa velocidade: 1,4 metro por segundo.

Não tem noção do que significa essa velocidade na prática?

Então vamos tentar deixar isso mais claro usando uma trena para medir a largura de uma avenida bastante grande no centro de São Paulo. Uma avenida que fica pertinho de uma entrada de metrô, então uma avenida com uma movimentação de pessoas muito grande.
A avenida tem 17,6 metros de largura. Fazendo uma conta rápida, a gente percebe que numa velocidade de 1,2 metro por segundo uma pessoa precisaria de pelo menos 15 segundos para conseguir fazer essa travessia.

No cronômetro, o semáforo ficou aberto por 32 segundos. Quer dizer, se a pessoa pegar o comecinho do verde, dá tempo tranquilo.

Mas de que pessoa a gente tá falando? A pesquisadora Etienne Duim comandou um estudo que concluiu que, quando o pedestre é um idoso, a velocidade de caminhada cai para 75 centímetros por segundo.

“Hoje, com a velocidade que temos, cerca de 3% apenas conseguiriam atravessar em segurança no tempo permitido pelo homenzinho verde da faixa de pedestre”, disse Etienne Duim, pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública da USP.

E aí, voltando para o mesmo cruzamento, vamos refazer a conta. A 75 centímetros por segundo a gente nota que um idoso precisaria de quase 24 segundos para fazer a travessia.

Se fica aberto por 32 segundos, você fala “ainda assim dá tempo”. Mas não pode esquecer que, até para começar a travessia, o idoso demora muito mais.

“Ele vai ter que ter todo um planejamento motor e estimar: ‘Será que a distância, a velocidade que eu vou ter. Então, todos esses aspectos influenciam a velocidade que ele vai iniciar e, às vezes, ele nem coloca o pé na faixa de pedestre e já está piscando o vermelho, porque ele demorou um tempo pra se planejar”, completa Etienne.

Quer dizer, um degrauzinho para a gente pode virar um baita desnível onde o idoso pode cair se não for devagarzinho. Na rampa, ele pode se desequilibrar e por aí vai. Tudo isso faz com que a travessia seja compreensivelmente ainda bem mais lenta.

O estudo mostra também que em várias outras cidades grandes do mundo o tempo considerado para a travessia é maior. Se a tal faixa paulistana que mostramos há pouco fosse em Nova York, nos EUA, em vez de 32 segundos o pedestre teria quase 35 segundos para atravessar. E se fosse em cidades espanholas, como Barcelona ou Valência, mais ainda, 40 segundos.

Etienne diz que encaminhou os resultados para a prefeitura, que jura que antes mesmo disso já tinha começado a pensar nesse assunto.

“Já implantamos numa avenida essa alteração, já aumentamos o tempo para atingir esses números que a pesquisa indica. Nós vamos fazer isso em outras sete avenidas durante o mês do maio amarelo, mas é um programa permanente”, explicou Sérgio Avelleda, secretário de Mobilidade e Transportes de São Paulo.

A gestão que começou há poucos meses diz que quer deixar todos os semáforos  de pedestre da cidade mais calminhos.

“Eu acredito que até o final dessa gestão nós teremos condições de implantar uma nova padronização em toda a cidade”, disse o secretário.

Ou seja, ainda pode demorar mais de três anos. Até lá é continuar torcendo para dar tempo. Afinal de contas, nem todo idoso é como a dona Cristina.

“Meu amigo, eu fui atleta. Então, tô sempre de tênis e pronta pra correr”, disse Cristina Couto.

Quero eu chegar nessa fase da vida assim.