Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP descobriram novos mecanismos de sinalização celular que, no futuro, podem contribuir para o desenvolvimento de novas formas de tratamento de diversas doenças, dentre elas a epilepsia e a atrofia muscular.
Em um dos estudos, eles observaram que, numa região importante do cérebro de ratos, o hipocampo, o principal peptídeo (biomolécula resultante do processamento de proteínas) ativo é a angiotensina-(1-7), e não a angiotensina II, que classicamente é considerada o agente mais ativo de um importante sistema de sinalização celular chamado sistema renina-angiotensina, que, entre outras funções, participa do controle da pressão sanguínea.
Segundo o líder do grupo, professor Claudio Miguel da Costa Neto, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da FMRP, esse sistema é responsável pela ativação dos receptores acoplados à proteína G, os GPCRs. “Esses receptores desempenham papel-chave na transmissão de sinais entre o exterior e o interior das células, inclusive entre células.”
Como exemplo da importância dos GPCRs, o professor relata que “cerca de 40% de todos os medicamentos atualmente no mercado agem através desse tipo de receptores”. Esse fato certamente contribuiu para que os achados do laboratório do professor Costa Neto alcançassem grande repercussão no meio científico logo nas primeiras semanas seguintes à publicação de seu artigo, na edição do final de 2013 da revista Hypertension.
Esse trabalho mostrou que a angiotensina-(1-7), além de ser o peptídeo ativo mais presente no hipocampo, “é produzida através de uma nova rota, ou seja, a principal enzima que atua para a produção da angiotensina-(1-7) também é diferente daquela normalmente descrita para esse fim, e essa enzima foi encontrada em maiores quantidades no hipocampo de ratos com epilepsia”, conta o professor.
Atrofia – Outro estudo da mesma equipe foi publicado poucas semanas depois, desta vez na revista Clinical Science. Nessa pesquisa, os cientistas da USP descrevem que um GPCR de um outro importante sistema de sinalização, chamado sistema calicreínas-cininas, leva à regulação específica de eventos envolvidos na atrofia do músculo esquelético.
Esse trabalho mostra que a inibição da sinalização de um tipo de GPCR acarreta uma menor produção de enzimas que participam da degradação de proteínas musculares e, consequentemente, causam a atrofia muscular.
Segundo Costa Neto, todas essas descobertas têm grande potencial de aplicação na medicina, pois abrem perspectivas para o desenvolvimento de novos medicamentos através da inibição ou bloqueio de vias de sinalização específicas.
Ainda como resultado dos estudos em GPCRs, realizados pelo grupo do professor Costa Neto ao longo dos anos, vários dados relacionados a diferentes vias de sinalização dos GPCRs e o envolvimento desses receptores em diferentes doenças são discutidos em um artigo de revisão que acaba de ser publicado também pela Clinical Science (2014). Nele são discutidas a participação de receptores em doenças como câncer, diabetes, reabsorção óssea e desordens do sistema nervoso central. O artigo de revisão recebeu destaque na página da revista Clinical Science e algumas das figuras desse trabalho de revisão foram selecionadas para o Banco de Imagens da revista.
Laboratório – A equipe liderada por Costa Neto acaba de inaugurar um novo laboratório. Financiado pela Fapesp(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) através de um projeto temático, e com apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa da USP, o laboratório é dedicado a estudos de sinalização celular, ativação e bloqueio de GPCRs e utiliza equipamentos de ponta, com abordagens bioquímicas e celulares, permitindo investigar novas substâncias ativas, desde pequena até em larga escala. O laboratório do professor Costa Neto pode ser visitado virtualmente no site www.claudiocostaneto-lab.com.
De Ribeirão Preto