O Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP realizou, nos dias 1º e 2 de agosto, seu 2⁰ Simpósio de Pré-Iniciação Científica.
O evento reuniu alunos do Ensino Médio de escolas públicas do município e região com o objetivo de introduzir atividades científicas na vivência dos jovens, que tiveram a chance de divulgar seus trabalhos desenvolvidos através de pesquisas em apresentações formais.
No total, 49 bolsistas apresentaram os resultados de seus trabalhos científicos em oficinas coletivas, mesas-redondas, sessão de pôsteres e outras atividades organizadas pelo IQSC. O corpo discente teve orientação de professores do Instituto sobre temas relacionados à Química, como sustentabilidade na indústria de alimentos, desenvolvimento sustentável, tratamento de água, reciclagem de materiais, biodiesel e outras fontes de energia, inteligência artificial nas escolas, entre outros.
Vale reforçar que os alunos inscritos recebem bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no valor mensal de R$ 300,00, durante o período de um ano. A iniciativa também conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), das Pró-reitorias de Graduação e de Pesquisa e Inovação, além da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Nesta edição do Simpósio, participaram alunos bolsistas de sete escolas estaduais de São Carlos e região. O IQSC propõe, com mais uma edição do evento, seguir contribuindo para o estreitamento da relação entre a universidade e a escola pública.
Estímulo à ciência desde cedo – José Galizia Tundisi, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação de São Carlos, entende que estimular a atividade científica desde o Ensino Médio é um processo fundamental para possibilitar a formação de cientistas e pesquisadores mais capacitados no Brasil.
“É o mecanismo para ampliar a nossa capacidade de formar mais cientistas, interessar cada vez mais os alunos do Ensino Médio para fazer ciência e tecnologia e participar em projetos de inovação. Porque, ao participarem de projetos ligados à universidade, os estudantes vão aprender a usar o conhecimento. Hoje o conhecimento não é o final do processo, é o início”, analisou.
Para Tundisi, o fato de ter contato com atividades universitárias ainda na adolescência facilitará a adaptação dos alunos na graduação. Estimular o poder crítico dos estudantes é fundamental.
“Participar de projetos de iniciação introduz uma coisa importantíssima para fazer ciência, que é o método. E ciência nada mais é que método. Então, a iniciação científica ou a pré-iniciação encaminha para esse sentido e, com isso, facilita o desenvolvimento de soluções”, completou o secretário municipal.
Temas ligados à química no cotidiano – Lorena Del Ponte é aluna da Escola Estadual André Donatoni, do município de Ibaté, a 15 quilômetros de São Carlos, e se considera realizada com seu projeto relacionado à conscientização das pessoas sobre a sustentabilidade em casa.
Em meio à conclusão do Ensino Médio, ela buscou em seu projeto preparar um material instrutivo para conscientizar o público mais velho sobre processos sustentáveis em substituição a práticas obsoletas, como o recolhimento do lixo sem a preocupação de separar os materiais recicláveis.
“Através de revisões bibliográficas, eu produzi um material de formação direcionado para os responsáveis dos alunos no sentido de trazer essa informação de sustentabilidade aos adultos. É uma tarefa muito difícil, pois a pessoa já tem seu comportamento formado”, explicou a aluna do 3⁰ Ano do Ensino Médio, que usou a própria família como modelo para testar a eficiência de sua pesquisa.
Até aqui, o resultado foi satisfatório. “Para mim, é um projeto muito pessoal, pois eu consegui alterar o comportamento lá em casa, com uma coleta seletiva em que separamos os resíduos orgânicos. Ajudei outras famílias também, o processo de reciclagem está acontecendo, então posso dizer que estou realizada com meu projeto, tanto profissionalmente como o objetivo pessoal da Lorena, que é conseguir mudar o mundo”, comemorou a aluna de escola pública.
Supervisora do projeto na instituição de Ibaté, a professora Patrícia Regina da Silva orienta Lorena no dia a dia de seu projeto e se vê emocionada pela realização da parceria da E.E André Donatoni com uma universidade de grande porte no Brasil, como a USP.
“Eu e a professora Ana Claudia (Kasseboehmer, pesquisadora do IQSC ) começamos a idealizar esse projeto desde 2019. E ver na prática a realização desse sonho me deixa emocionada. Estamos na segunda edição e é gratificante poder acompanhar o início do processo desses estudantes, a sua formação, como eles vão amadurecer, desde a sua postura, de sonhar e acreditar. Porque são alunos de escolas de um nível alto de vulnerabilidade, são de periferias. E um dos nossos principais objetivos é oportunizar. Então, me sinto realizada ao participar de um projeto que os prepara para a universidade”, relatou a docente do colégio em Ibaté.
Já Hislene Carvalho Souza, de apenas 17 anos, desenvolveu um projeto para despertar a consciência da população sobre o desperdício de alimentos. A aluna do 3⁰ Ano do Ensino Médio da escola Professor Luiz Viviani Filho, em São Carlos, trabalha com um mecanismo intitulado biodigestor, o qual transforma matéria orgânica em biogás e biofertilizantes.
“O biodigestor usado em nossa pesquisa reaproveita os resíduos desperdiçados no lixo. Então, aqueles materiais que poderiam ser jogados em um aterro sanitário estão sendo reaproveitados em forma de biogás como uma opção alternativa ao gás de cozinha. Ou serem usados nas plantas como fertilizantes de maneira a fazer as plantas crescer mais e de forma mais sustentável”, disse a estudante.
Incentivo a colegas – Hislene recomenda o evento organizado pelo IQSC, pois dificilmente o estudante de escola pública terá base em outras experiências com pesquisas científicas de ponta.
“A experiência de conseguir pesquisar e ter a oportunidade de participar desse evento é muito importante para mim. Com o conhecimento que adquiri nesses últimos meses, tenho a sensação de que sou capaz de entrar numa universidade. Eu indicaria a todos os estudantes, pois se trata de uma experiência única. Você dificilmente terá a chance de vivenciar isso em outros ambientes, a não ser que já esteja dentro da universidade”, encerrou ela.
Seu supervisor na escola, o professor Daniel Matheus da Silva, concorda com Hislene no sentido de que sua experiência em participar de uma pesquisa de Pré-Iniciação Científica serve de inspiração a outros colegas da sala.
“Esse projeto contribui bastante para integrar esses alunos à universidade. Nesse momento, é importante eles entenderem o que é uma universidade, o que é um curso superior e que eles têm a oportunidade de estudar aqui futuramente. Além disso, o programa é muito importante para conscientizá-los do que é a ciência e como é feita a construção do conhecimento. E os temas de pesquisa integram, de certa forma, toda a escola. Essa autonomia de escolherem o assunto a ser trabalho também é importante para o seu amadurecimento e atiça a curiosidade nos seus colegas, que aproveitam esse compartilhamento de informações”, opinou o docente do colégio Professor Luiz Viviani Filho.
Relação da universidade com a escola pública – Uma das organizadoras do Simpósio de Pré-Iniciação Científica no IQSC, a professora Ana Claudia Kasseboehmer defende que o programa impacta positivamente desde a comunidade escolar até a universidade. A intenção da USP é contribuir ao máximo para a formação de pesquisadores mais capacitados na área de Ciências da Natureza.
“Esse programa é muito importante, pois é uma devolutiva que a universidade pública dá para a sociedade de forma a contribuir para a formação dos estudantes e seus professores na Educação Básica. Essa interação entre universidade e escola é vital, tanto motivacional quanto para estimular a evolução da qualidade de aprendizagem da área de Ciências da Natureza na rede básica”, ressaltou a docente do IQSC.
Com a premissa de que ‘o aluno faz a universidade', Ana Claudia espera que a maior parte dos participantes do Simpósio mantenha o interesse em ciência quando ingressarem na Universidade.
“A gente observa um avanço da qualidade motivacional dos estudantes, não somente os bolsistas, mas seus colegas de sala de aula. Ao ver acontecendo a Pré-Iniciação Científica, eles querem também aprender. Os professores nos relatam que a realidade das escolas mudou. Hoje, se fala em vestibular, em qual carreira seguir, Enem. Por isso, esperamos contribuir também na formação de estudantes interessados em seguir a carreira em Química e ingressar no nosso curso de Bacharelado”, encerrou a docente.
Além de Ana Claudia, o IQSC conta com outros cinco docentes que atuam com orientadores dos jovens: Benedito Lima Neto, Bianca Maniglia, Fernanda Souza, Marcos Roberto Lanza e Stanislau Bogusz Júnior.
Por Matheus Martins Fontes, da Assessoria de Comunicação do IQSC/USP
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