Nesta quarta-feira, 19, e nos próximos dois dias acontece na capital Paulista o I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência. Com o tema “Conflitos, Direitos e Diversidade”, o evento visa debater a noção de “deficiência” em suas mais diversas implicações.
É realizado pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo, por meio do Memorial da Inclusão, com a parceria do Diversitas - Núcleo de Estudo das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos – FFLCH/USP; do Programa USP Legal – Comissão Permanente para Assuntos Relativos às Pessoas com Deficiência – USP; e da FAPESP – Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Durante a manhã do primeiro dia de evento aconteceu a solenidade de abertura com as presenças do Secretário Adjunto da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência Marco Antonio Pellegrini, neste ato representando a Secretária de Estado Dra. Linamara Rizzo Battistella; a Diretora do Diversitas Zilda Márcia Iokoi; Ana Maria Barbosa, da USP Legal; e a consultora do Memorial da Inclusão, Lia Crespo.
O Secretário Adjunto Marco Pellegrini ressaltou o quanto a participação dos cidadãos é determinante na busca de reconhecimento por parte de todos que o cercam. “A cidadania hoje é respeitada pela lei”. O secretário destacou, ainda, a relevância da mudança cultural que o movimento das pessoas com deficiência busca. “Tão importante quanto as nossas ações, é a gente conseguir fazer a mudança cultural, a mudança conceitual dentro da população”.
Pellegrini ainda ressaltou: “é uma prioridade do Estado ter o tema da inclusão como uma agenda positiva. A Secretaria tem tido uma atenção do governo muito significativa e isso tem sido respeitado pelas demais pastas”.
- A consultora Lia Crespo deu destaque para a importância que o Simpósio representa para a sociedade. “Buscamos uma sociedade mais inclusiva para todos. Não existe sociedade justa sem que haja inclusão de todas as pessoas”. Ela ainda incentivou a todos para que tenham mais esperança na busca da igualdade. “Vamos acionar a nossa luta”, finalizou.
Ana Barbosa destacou a importância dos trabalhos a serem apresentados durante os dias de evento. “Estamos vindo para cá com muito ânimo, esse espaço foi conquistado e muito esperado por todos nós”. Ressaltou também que juntar essas pessoas que estão batalhando para fazer a inclusão de verdade tem um grande significado. “Todos estamos juntos construindo um caminho para uma sociedade mais justa”.
A professora Zilda falou sobre as manifestações que estão acontecendo atualmente no país e as relacionou com o movimento da pessoa com deficiência. “A diferença não é o resto da soma, a diferença é a possibilidade de convívio com todas as formas do humano”, afirmou.
Na China
A ausência da Secretária de Estado, Dra. Linamara, que é médica e professora de Medicina da USP, se deu porque ela foi a Pequim, China, atender ao convite da Sociedade Internacional de Medicina Física e Reabilitação (ISPRM) para proferir palestra durante o 7º Congresso Mundial da ISPRM.
O tema desenvolvido na China pela Secretária foi “A Experiência do Brasil na Implementação do Relatório Mundial sobre a Deficiência”, apresentado durante a Sessão Internacional de Medicina Física e Reabilitação. Dra. Linamara dá suas boas-vindas aos participantes do Simpósio em São Paulo e profere a Palestra Magna no dia 20/06, pela manhã.
Movimento das pessoas com deficiência
Após a cerimônia de abertura, a médica fisiatra e ex-Secretária Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Izabel Maria Madeira Loureiro Maior apresentou palestra sobre o movimento das pessoas com deficiência.
- “A pessoa com deficiência deve ser a própria razão do estudo no modelo social, e não o objeto”.
Com os recentes acontecimentos na esfera pública, ela salientou que “sem força política, nenhum movimento avança”. Ela cobrou uma maior mudança de atitude. “Desigualdades não devem ser aceitas”.
Izabel também alertou, inspirada no censo do IBGE 2010, sobre o número de pessoas com deficiência nas universidades, 6,18 %. Dessas, segundo a médica, dois terços são universidades privadas.
Segundo ela “precisamos avançar ainda mais dentro dos estudos sobre a deficiência, pensando em conceitos, pois não progredimos tanto como em outras áreas”. Izabel Maior também apresentou um trecho do vídeo “História do Movimento Político das Pessoas com Deficiência no Brasil”, que conta a história desse movimento e como essa ação ajudou para as conquistas desse público.
As discussões continuam e acontecem durante os três dias, 19, 20 e 21, e buscam refletir sobre a condição atual das pessoas com deficiência no Brasil. Dentro desse debate, temas como a experiência da exclusão, os dramas identitários, os preconceitos sociais, a condição do indivíduo com o corpo lesionado, as implicações no espaço e tempo urbanos, as políticas públicas e a legislação, e o papel atual dos movimentos sociais, são analisados numa perspectiva interdisciplinar.
“Corpo, Gênero e Identidade”
Durante a tarde, uma mesa redonda foi formada para discutir “Corpo, Gênero e Identidade”. Livia Barbosa, professora da Universidade de Brasília – UNB e pesquisadora da ANIS – Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero apresentou palestra sobre Deficiência e Igualdade.
O foco principal da palestra foi debater sobre a igualdade e direcionar adequadamente o fato e as necessidades das pessoas com deficiência que são ignoradas nas várias esferas da vida social.
De acordo com Lívia Barbosa, que atua no campo de proteção social às pessoas com deficiência, além de ser mestre e doutora em Política Social pela Universidade de Brasília, a deficiência é o produto de estruturas sociais opressoras, “que restringem a participação paritária por meio da imposição sistemática de barreiras e corpos diversos”.
Após a apresentação de Lívia, Fátima Daltro professora de dança da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia- UFBA apresentou informações sobre as potencialidades do corpo, dança e acessibilidade. Segundo a professora, há urgência em promover ações que possam romper com o discurso midiático em curso, de que o dançarino com deficiência é ‘coitadinho’. Fátima conclui que as pessoas com deficiência precisam descobrir as suas “poéticas”.
Também foi discutido “Corpo e emoções, deficiência e exclusão social”, pelo professor Adjunto do Departamento de Ciências Sociais e do Núcleo de Pesquisa da Universidade Federal de Sergipe – UFS. Segundo o professor, a apresentação teve o objetivo de refletir sobre o tema em uma perspectiva crítica aos modelos de abordagem propostos na área biomédica e nos estudos culturais da deficiência.
A doutora em Psicologia da Universidade Federal Fluminense – UFF, Lilia Ferreira Lobo, falou sobre o estudo genealógico das anormalidades infantis no Brasil e as questões atuais de inclusão e exclusão. Lilia apresenta uma pesquisa baseada no curso de Michael Focault, “O poder psiquiátrico”. Dentro da pesquisa ela desenvolve hipóteses para a investigação do processo em nosso país. Um dos exemplos que a psicóloga deu foi o de incluir as crianças com deficiência em classe regular.
O I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência “Conflitos, Direitos e Diversidade” segue até sexta, dia 21 de junho. Informações e Programação completa em http://www.diversitas.fflch.usp.br/sied