O docente chefe da disciplina de Endocrinologia e Metabologia da Famema (Faculdade de Medicina de Marília), José Augusto Sgarbi, com diversos estudos internacionais sobre hipotireoidismo, concedeu entrevista à Folha de S. Paulo na repercussão do anúncio da aposentadoria do atacante Ronaldo.
A reportagem foi publicada na edição deste dia 15 de fevereiro, no caderno Cotidiano, na página C-6 especial de Saúde, com o título "Hipotireoidismo tem sequelas graves se tratamento não é feito".
Ao lado de grandes nomes da Endocrinologia como o professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) João Roberto Maciel Martins e o presidente da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) Ricardo Meirelles, José Augusto Sgarbi explicou que, a longo prazo, a falta de hormônio altera as funções cardíacas.
"O hormônio da tireoide é muito importante para o funcionamento do coração. Sua falta altera os batimentos, aumenta os níveis de colesterol e pode também causar insuficiência cardíaca", ressaltou Sgarbi à Folha de S. Paulo.
Os especialistas lembram que sem o tratamento do hipotireoidismo pode sim haver o aumento de peso, mas trata-se de alteração leve, efeito da retenção de líquidos e não de maior quantidade de gordura no corpo. Os médicos enfatizaram que a reposição de hormônio é capaz de reverter os sintomas e impedir o ganho de peso.
O hipotireoidismo é um distúrbio caracterizado por uma menor atividade da glândula tireoide, que produz hormônios responsáveis por estimular o metabolismo e o trabalho celular.
A falta de hormônio deixa o metabolismo mais lento. Os principais sintomas são sonolência, cansaço e perda na capacidade de raciocínio.
Mais Bem
A Revista Mais Bem, da Regional de São Paulo da SBEM, publicou em sua 8ª edição reportagem com o título "Hipotireoidismo subclínico aumenta o risco cardíaco". O entrevistado foi o docente chefe da disciplina de Endocrinologia e Metabologia da Famema.
Estudo internacional sobre a relação entre o hipotireoidismo e as doenças coronarianas, realizado com 55 mil pessoas do Brasil, Estados Unidos, Austrália, Japão e alguns países da Europa, entre 1972 e 2007, concluiu que o hipotireoidismo subclínico aumenta o risco cardíaco e o de morte. Esta pesquisa inclusive foi publicada na Jama (Journal of the American Medical Association), no British Journal of Medicine e no Annals of Internal Medicine, e na imprensa nacional.
Sgarbi, que também é secretário executivo da regional de São Paulo da SBEM, se dedicou ao trabalho para a sua tese de doutorado, desenvolvida na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), sob a orientação dos professores Rui Maciel e Luiza Matsumura.
No Brasil, financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), foram pesquisadas 1.330 pessoas por oito anos, em Bauru (106 km de Marília).
O European Journal of Endocrinology mostra os resultados da análise original brasileira.
"O trabalho foi relevante por comprovar que pacientes com hipotireoidismo subclínico têm risco até 89% maior para eventos coronarianos e de até 58% para morte por doença coronariana. O dado é relevante para a prática clínica do endocrinologista, uma vez que o hipotireoidismo subclínico é frequentemente diagnosticado, mas o significado clínico e a necessidade de tratamento não estavam bem definidos. Além disso, os resultados de estudos anteriores eram divergentes", explicou o docente da Famema A Revista Mais Bem.
A moléstia acomete principalmente mulheres após a menopausa e idosos. O perigo de doença coronariana mostrou-se significante para níveis de TSH a partir de 7 uU/mL, particularmente na faixa entre 60 e 79 anos, o que deve produzir um novo paradigma para o tratamento do hipotireoidismo, já que os consensos recomendavam o procedimento médico apenas para níveis acima de 10 uU/mL. "O interessante é que, após os 80 anos, a doença parece reduzir o risco cardiovascular, constatação já observada em outros estudos. Pacientes jovens e adultos acima de 80 anos parecem ser mais resistentes ao risco, mas devem continuar a receber a terapia com TSH acima de 10 uU/mL".
De acordo com Sgarbi, a equipe de 21 investigadores de diversos países vai continuar o estudo sobre hipotireoidismo subclínico. "Em breve, novos resultados da contribuição internacional serão publicados", concluiu.
José Augusto Sgarbi, docente da Famema