Um novo tipo de equipamento com sensores inteligentes wireless (sem fio) vai ajudar os criadores brasileiros a monitorarem melhor seu gado. A tecnologia, desenvolvida por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em Pirassununga permite fiscalização mais eficiente caso um boi seja roubado ou simplesmente se desgarre, saindo dos limites da fazenda. A diferença desses chips subcutâneos - do tamanho de uma moeda, que podem ser colocados na orelha do animal - para os atuais é que se comunicam entre si. O trabalho inédito foi publicado na revista americana Computers and Electronics in Agriculture.
Os dispositivos normalmente utilizados têm uma base passiva- uma central, a que o fazendeiro tem acesso, onde as informações ficam reunidas -, que apenas recebe os sinais de cada sensor. Essa troca só pode ser realizada de uma maneira bilateral. Então, se a base perde o contato com determinado sensor, a comunicação fica interrompida.
Esse problema é resolvido no novo sistema. Através do wireless floating base sensor network protocol (FBSN), como foi denominado, se o boi fica em um local onde a transmissão de sinais para a central é impossibilitada - por exemplo, devido à distância -, o sensor recebe o comando e envia as informações para o chip de outro boi, que as repassa à base.
- A diferença é a possibilidade de fazer a requisição da base para o sensor - afirma ao JB Ernane Costa, coordenador do Laboratório de Física Aplicada, que desenvolveu a pesquisa.
Além da localização das reses, o chip também serve para guardar informações sobre o perfil do animal, como a matriz genética, as vacinas já aplicadas, entre outros dados que valorizam o produto final. Todas podem ser acessadas e alteradas pelo produtor a qualquer momento, devido à propriedade da central de solicitar os dados. Nos sistemas disponíveis no mercado, os dados são inseridos e ficam armazenados apenas na base.
- Isso vai poder ser usado no futuro para troca de informações sobre os rebanhos entre os criadores, por exemplo, no caso de uma venda - afirma Costa.
O novo tipo de rede de sensores pode ter aplicações práticas também em agricultura.
- Uma empresa já nos procurou com a intenção de adotá-lo na lavoura. Os sensores serão instalados em pivôs de irrigação (aparelhos giratórios que esguicham água), e caso sejam roubados, o que acontece freqüentemente, a central avisa - conta o pesquisador.
A nova tecnologia foi desenvolvida entre 2003 e 2005, durante o projeto em que foi montada uma rede para medir o estresse bovino. A análise era realizada pela captação da freqüência cerebral dos animais. O objetivo do experimento era saber em que condições era detectada tensão no rebanho. O cientista explica que o sofrimento prejudica a criação porque provoca, por exemplo, perda na qualidade da carne, que fica mais dura.
- Cerca de 10 % da produção se perde por causa de estresse - observa o coordenador do trabalho.
As ondas cerebrais eram captadas através de um eletroencefalograma - feito com três eletrodos colados na cabeça do animal -, nos quais os dados recolhidos eram enviados a uma central.
Esse tipo de tecnologia pode ser útil se o pecuarista detectar uma queda no rendimento da produção do gado. Nesse caso, afirma Costa, é só utilizar o dispositivo para se certificar de que o prejuízo tem relação com o estresse.
O projeto, financiado pela Fapesp (Fundação do Amparo de Pesquisa do Estado de São Paulo), teve um custo total de R$ 42 mil. Mas segundo o cientista, para a comercialização o valor deve ser muito mais baixo, porque o primeiro investimento para a criação de uma nova tecnologia é sempre mais caro.
Notícia
Jornal do Brasil