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Sensor portátil da USP vai medir a qualidade da água em casa (111 notícias)

Publicado em 21 de agosto de 2023

Por Fidel Forato

Cientistas do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) desenvolvem um novo sensor portátil, de baixo custo, feito com papelão e nanopartículas de ouro, que poderá medir a qualidade da água de torneira dentro de casa. A ideia é que a medição contribua com estudos regionais de monitoramento sobre os compostos presentes na água tratada.

“São dispositivos [descartáveis] de uso simples, que podem ser distribuídos em escala governamental para que a população monitore a qualidade de água em sua própria casa e repasse as informações para especialistas, possibilitando a criação de um mapa e, consequentemente, de políticas públicas de controle de qualidade de água”, comenta Thiago Regis Longo Cesar da Paixão, um dos autores do estudo, para a Agência FAPESP.

Entenda como funciona a tecnologia de monitoramento das águas

Publicado na revista científica Sensors & Diagnostics, o recente estudo da USP descreve a atual fase de desenvolvimento do novo sensor, com preço estimado em torno de R$ 0,50. Ainda não patenteada, a tecnologia já pode detectar altos níveis de hipoclorito — substância utilizada no controle de qualidade de água da torneira e de piscinas, mas que, em grandes quantidades, é prejudicial para a saúde humana.

Segundo o pesquisador Paixão, a tecnologia é bastante versátil e, por isso, não irá se limitar a este único composto. Por exemplo, será usada no monitoramento de outras espécies químicas de interesse na área de saúde e ambiental, através da identificação de poluentes.

Essas novas formas de monitoramento da qualidade de água são bastante relevantes, ainda mais quando se estima que, em 2100, até 5,5 bilhões de pessoas terão contato regular com água poluída, o que, muito provavelmente, terá efeitos na saúde pública.

Como funciona o sensor portátil da qualidade de água?

Para montar o novo sensor, os pesquisadores usam basicamente três principais elementos: papelão, partículas de ouro e lasers. “O laser carboniza a superfície do papel, transformando a celulose em carbono e, com uma gota de solução de ouro, forma-se nanomaterial na superfície”, detalha o pesquisador Paixão, sobre o mecanismo simples de produção. Eventualmente, outros metais poderão ser usados.

Durante as medições, as nanopartículas de ouro sobre o papel são as responsáveis pela reação eletroquímica que identifica as substâncias presentes no líquido, como as altas concentrações do hipoclorito na água da torneira dentro de casa.

Futuro da pesquisa da USP com o sensor

A pesquisa ainda é incipiente, mas tende a ter desdobramentos promissores. Tanto é que o próximo passo da equipe consiste em realizar um pedido de patente para o processo que permite a criação do sensor, incluindo a forma de síntese dos nanomateriais.

Em paralelo, a ideia é fazer com que o sensor, construído a partir de papelão e ouro, possa identificar outras substâncias, como a quantidade de açúcar. No futuro, “queremos criar um dispositivo para análises médicas feitas pelo sistema público de saúde, como medição de níveis de glicose, ou que possa ser usado por empresas de tecnologia como Google, Microsoft e Samsung em dispositivos vestíveis para monitoramento em tempo real”, completa Paixão.