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Diário da Saúde

Sensor de papel detecta agrotóxico em alimentos na hora (73 notícias)

Publicado em 07 de março de 2023

Sensor de papel

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um sensor de papel capaz de detectar em tempo real a presença de pesticidas em frutas e verduras.

Ao entrar em contato com maçãs ou repolhos, por exemplo, o sensor, ligado a um dispositivo eletrônico, identifica a presença e mensura a quantidade do fungicida carbendazim - amplamente utilizado no Brasil, apesar de proibido.

Hoje, um exame similar exige um laboratório, onde uma amostra do alimento é triturada e submetida a processos químicos demorados e caros.

"Os sensores vestíveis, como o que desenvolvemos para o monitoramento contínuo da concentração de pesticidas na agricultura e na indústria de alimentos, eliminam a necessidade desses procedimentos complexos. Fica muito mais fácil, barato, além de ser muito mais confiável para um supermercado, restaurante ou importador fazer a verificação," disse o professor Osvaldo Novais.

O novo dispositivo tem grande sensibilidade e se assemelha aos medidores de glicose [glicosímetro] utilizados por diabéticos. Para medir a quantidade de agrotóxico em alimentos, o sensor eletroquímico capta a presença do fungicida e o resultado pode ser acessado, em questão de minutos, por meio de um aplicativo no celular.

"Nos testes que realizamos, o dispositivo teve sensibilidade semelhante à do método convencional. Tudo de uma forma mais rápida e barata," contou o pesquisador José Luiz Bott.

Papel kraft ou pergaminho

O sensor consiste basicamente em uma base de papel modificado com tinta de carbono e submetido a um tratamento eletroquímico em meio ácido para a ativação de grupos carboxílicos - o que permite fazer a detecção.

"Utilizamos o mesmo sistema empregado na serigrafia [estamparia de roupas] para fazer a transferência da tinta condutora de carbono para a tira de papel kraft, criando assim um dispositivo baseado em eletroquímica. O dispositivo é confeccionado com três eletrodos de carbono e mergulhado em uma solução ácida para a ativação dos grupos carboxílicos.

"Em outras palavras, átomos de oxigênio são adicionados na estrutura do eletrodo de carbono. Ao entrar em contato com uma amostra contaminada com carbendazim, o sensor induz uma reação de oxidação eletroquímica que permite a detecção do fungicida. Assim, a quantidade de carbendazim é medida via corrente elétrica," explicou José Luiz.

Os pesquisadores analisaram dois tipos de papel: O kraft, usado em sacolas e envelopes, e o pergaminho. Ambos se mostraram estáveis o suficiente para a construção dos sensores. Porém, a natureza porosa do papel kraft conferiu maior sensibilidade ao sensor e aos grupos carboxílicos formados durante a ativação eletroquímica.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Optimized paper-based electrochemical sensors treated in acidic media to detect carbendazim on the skin of apple and cabbage
Autores: Thiago S. Martins, Sergio A.S. Machado, Osvaldo N. Oliveira, José L. Bott-Neto
Publicação: Food Chemistry
Vol.: 410, 135429
DOI: 10.1016/j.foodchem.2023.135429

Com informações da Agência Fapesp