São Paulo - O economista norte-americano Jan Kregel, professor da Universidade do Missouri, disse ontem que se o Brasil tivesse um controle mais efetivo do capital financeiro, o país poderia sofrer menos os impactos da crise europeia e da desaceleração da economia chinesa. O resultado seria uma taxa de câmbio menos apreciada, diz o economista.
Kregel, um dos principais acadêmicos keynesianos dos Estados Unidos, avalia que se o BNDES não existisse, o Brasil praticamente não teria nenhum financiamento de longo prazo para desenvolver sua indústria.
O norte-americano afirma ainda que o capital financeiro, ao contrário de contribuir para o desenvolvimento, tem sido um fator de desestabilização do país e das economias da América Latina, nos últimos anos. "O capital especulativo só trouxe riqueza para gente do próprio mercado financeiro".
Kregel chega a São Paulo hoje para participar do Programa Avançado de Reavaliação de Macroeconomia e Desenvolvimento da América Latina (Laporde, na sigla em inglês), um programa de debates sobre os novos rumos do desenvolvimento da América Latina, organizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Ordem dos Economistas do Brasil.
Segundo ele, o impacto da crise europeia e da desaceleração da economia chinesa para o Brasil, e o demais países da América Latina, virá principalmente da queda da demanda da China por produtos agroindustriais da América Latina.
"A China já enfrenta problemas como queda na produção industrial e baixa no preço dos imóveis. A Europa também vai sofrer com a desaceleração chinesa, já que o país é o principal mercado de exportação para os europeus. Além disso, muitas economias latinoamericanas já sofrem com taxas de câmbio sobrevalorizadas e haverá uma deterioração dos saldos externos", avaliou o economista.
Para ele,para conter os efeitos da crise no continentge, basta o controle sobre o capital financeiro, que é necessário para que os países latinoamericanos administrem a taxa de câmbio e retenham competitividade.
Sem atitude - "Além disso, a maioria dos países da região não tomou nenhuma atitude para fortalecer ou expandir seu mercado interno e tornou-se mais exposta aos ciclos internacionais e ao capital externo. América Central e México ainda têm excessiva dependência dos Estados Unidos para exportação. A América do Sul já não é tão dependente dos americanos para exportação, mas tem dependência financeira", observou.
Conforme o economista, o Brasil poderia escapar dos efeitos diretos da crise se tivesse um mercado consumidor mais forte. A América Latina também precisa de políticas mais agressivas para melhorar o equilíbrio entre a produção da indústria e a produção agrícola em suas economias. "O Brasil tem feito isso, mas não avançou no controle de capitais financeiros". (AG)