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Jornal do Comércio (RS) online

Seis décadas da Fapergs, segunda mais antiga agência de fomento do Brasil (1 notícias)

Publicado em 04 de dezembro de 2024

Atual equipe da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul, que surgiu na década de 1960 Loraine Luz, especial para o JC

Como segunda agência pública de fomento à pesquisa fundada no Brasil, atrás somente da FAPESP, de São Paulo, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul, a Fapergs, ajudou a pavimentar o caminho onde outras instituições similares se estabeleceram na medida em que o desenvolvimento científico brasileiro amadureceu. E, como acontece em iniciativas pioneiras, o entusiasmo e o idealismo de seus fundadores foram determinantes para dar início a uma longa e ininterrupta trajetória que está completando 60 anos.

Em diferentes setores da sociedade, e muitas vezes repleta de contradições, a década de 1960 ficou marcada por acontecimentos importantes que ajudaram a moldar o País até os dias atuais. A exemplo do que se via na política e na cultura, para citar dois segmentos, do ponto de vista científico e tecnológico o Brasil dava passos transformadores. Avanços notáveis nas pesquisas em doenças tropicais, como malária e febre amarela, são exemplos disto. Também é dessa época um novo olhar sobre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que havia sido criado em 1951 e então se abria a parcerias internacionais. Em 1962, a Universidade de Brasília surge idealizada como lugar para avanços e inovações e, em 1967, foi criada a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

A década terminou com a realização, no Brasil, do primeiro transplante de coração da América Latina, em 1968, pelo doutor Euryclides de Jesus Zerbini, no Hospital das Clínicas de São Paulo. O fato ocorreu apenas um ano após o primeiro transplante mundial ser realizado na África do Sul.

É neste contexto que surgem as agências públicas de incentivo à pesquisa pioneiras no Brasil. A FAPESP é de outubro de 1960; e a resposta gaúcha veio quatro anos depois. A Fapergs é resultado do esforço conjunto de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) para suprir a carência de uma instituição que se dedicasse exclusivamente ao apoio financeiro a projetos de pesquisa, a exemplo do que já ocorria na comunidade científica de outros países.

Em 31 de dezembro de 1964, por meio de um decreto, o então governador, Ildo Meneguetti, criou a fundação. Em junho do ano seguinte, os membros do Conselho Superior já empossados se reuniram para organizar as listas tríplices a serem submetidas ao governador para escolha de quem encabeçaria o grupo. Para presidente, os três nomes mais votados foram Eduardo Zaccaro Faraco, Ivo Wolff e Sylvio Torres . E, para vice, Laudelino Teixeira de Medeiros, Nelson Carlos Gutheil e Pery Riet Corrêa. O engenheiro civil Ivo Wolff, já falecido, foi nomeado o primeiro presidente do Conselho Superior, de 1965 a 1973.

O médico veterinário Sylvio Torres se tornou — não por acaso — o primeiro diretor-científico em 1969, sendo reeleito em 1972 e em 1975. Torres foi um dos maiores entusiastas da iniciativa. Sua contribuição ao longo da vida é considerada tão relevante que há, desde 1977, uma medalha em seu nome entre as iniciativas que distinguem por mérito os pesquisadores gaúchos.

Médico veterinário, professor e pesquisador da Ufrgs, Torres está ligado a avanços no conhecimento de microbiologia e parasitologia veterinária. Em 1928, elaborou a vacina antirrábica visando a sua aplicação em bovinos e equinos . De 1934 a 1936, realizou estudos sobre a transmissão da raiva pelos morcegos hematófagos, com trabalhos de repercussão nacional e internacional.

Publicou dezenas de trabalhos na área da pesquisa agropecuária. De 1960 até sua morte, o professor foi nomeado membro do CNPq e integrou o grupo de trabalho para elaboração do Programa Nacional em Saúde Animal. Até o seu falecimento, em 1977, teve papel importante na definição dos caminhos que fizeram a Fapergs chegar aos 60 anos com relevância incontestável.