Atual equipe da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul, que surgiu na década de 1960 Loraine Luz, especial para o JC
Como segunda agência pública de fomento à pesquisa fundada no Brasil, atrás somente da FAPESP, de São Paulo, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul, a Fapergs, ajudou a pavimentar o caminho onde outras instituições similares se estabeleceram na medida em que o desenvolvimento científico brasileiro amadureceu. E, como acontece em iniciativas pioneiras, o entusiasmo e o idealismo de seus fundadores foram determinantes para dar início a uma longa e ininterrupta trajetória que está completando 60 anos.
Em diferentes setores da sociedade, e muitas vezes repleta de contradições, a década de 1960 ficou marcada por acontecimentos importantes que ajudaram a moldar o País até os dias atuais. A exemplo do que se via na política e na cultura, para citar dois segmentos, do ponto de vista científico e tecnológico o Brasil dava passos transformadores. Avanços notáveis nas pesquisas em doenças tropicais, como malária e febre amarela, são exemplos disto. Também é dessa época um novo olhar sobre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que havia sido criado em 1951 e então se abria a parcerias internacionais. Em 1962, a Universidade de Brasília surge idealizada como lugar para avanços e inovações e, em 1967, foi criada a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
A década terminou com a realização, no Brasil, do primeiro transplante de coração da América Latina, em 1968, pelo doutor Euryclides de Jesus Zerbini, no Hospital das Clínicas de São Paulo. O fato ocorreu apenas um ano após o primeiro transplante mundial ser realizado na África do Sul.
É neste contexto que surgem as agências públicas de incentivo à pesquisa pioneiras no Brasil. A FAPESP é de outubro de 1960; e a resposta gaúcha veio quatro anos depois. A Fapergs é resultado do esforço conjunto de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) para suprir a carência de uma instituição que se dedicasse exclusivamente ao apoio financeiro a projetos de pesquisa, a exemplo do que já ocorria na comunidade científica de outros países.
Em 31 de dezembro de 1964, por meio de um decreto, o então governador, Ildo Meneguetti, criou a fundação. Em junho do ano seguinte, os membros do Conselho Superior já empossados se reuniram para organizar as listas tríplices a serem submetidas ao governador para escolha de quem encabeçaria o grupo. Para presidente, os três nomes mais votados foram Eduardo Zaccaro Faraco, Ivo Wolff e Sylvio Torres . E, para vice, Laudelino Teixeira de Medeiros, Nelson Carlos Gutheil e Pery Riet Corrêa. O engenheiro civil Ivo Wolff, já falecido, foi nomeado o primeiro presidente do Conselho Superior, de 1965 a 1973.
O médico veterinário Sylvio Torres se tornou — não por acaso — o primeiro diretor-científico em 1969, sendo reeleito em 1972 e em 1975. Torres foi um dos maiores entusiastas da iniciativa. Sua contribuição ao longo da vida é considerada tão relevante que há, desde 1977, uma medalha em seu nome entre as iniciativas que distinguem por mérito os pesquisadores gaúchos.
Médico veterinário, professor e pesquisador da Ufrgs, Torres está ligado a avanços no conhecimento de microbiologia e parasitologia veterinária. Em 1928, elaborou a vacina antirrábica visando a sua aplicação em bovinos e equinos . De 1934 a 1936, realizou estudos sobre a transmissão da raiva pelos morcegos hematófagos, com trabalhos de repercussão nacional e internacional.
Publicou dezenas de trabalhos na área da pesquisa agropecuária. De 1960 até sua morte, o professor foi nomeado membro do CNPq e integrou o grupo de trabalho para elaboração do Programa Nacional em Saúde Animal. Até o seu falecimento, em 1977, teve papel importante na definição dos caminhos que fizeram a Fapergs chegar aos 60 anos com relevância incontestável.