Indivíduos da espécie Brachycephalus dacnis foram encontrados vocalizando
Uma nova espécie de sapo-pulga com média de 8 milímetros de comprimento foi descoberta por pesquisadores do Laboratório de História Natural de Anfíbios Brasileiros (LaHNAB), do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. O artigo científico foi publicado nesta sexta-feira (25), na revista PeerJ.
Endêmico da Mata Atlântica brasileira, o anfíbio batizado de Brachycephalus dacnis é considerado o segundo menor vertebrado do planeta, ficando somente atrás da espécie Brachycephalus pulex, encontrada na Bahia e descrita em janeiro.
Após buscas que envolviam métodos visuais e auditivos, o encontro com os indivíduos ocorreu durante trabalho de campo realizado na reserva do Projeto Dacnis, localizada em Ubatuba (SP). O sapinho ocorre em áreas de floresta entre as cidades de Ubatuba e Paraty (RJ).
Segundo o professor Luís Felipe Toledo, primeiro autor do artigo, essa e outras descobertas de vertebrados minúsculos levantam questões acerca do menor tamanho possível de órgãos como coração, pulmão e outras estruturas complexas presentes nos vertebrados.
Além disso, o artigo expõe como esses animais apresentam características únicas relacionadas aos seus tamanhos extremos, incluindo a perda, redução e até fusão de ossos.
Espécies do gênero Brachycephalus, por exemplo, têm esqueletos com ossos fundidos e ausência de alguns ossos cranianos, além de não possuírem dentes comuns em outros sapos. Elas também não têm alguns ossos do ouvido e o tímpano externo.
Outra curiosidade é que sapos desse grupo colocam ovos relativamente maiores e o desenvolvimento dos filhotes ocorre diretamente, sem a fase de girino. Essas características estão ligadas à evolução de corpos extremamente pequenos, o que é conhecido como miniaturização, uma adaptação comum em animais de pequeno porte.
Em relação à nomenclatura do novo anfíbio, o nome específico “dacnis” homenageia o Projeto Dacnis, ONG que tem apoiado a pesquisa de biodiversidade desde 2010 nos municípios de São José dos Campos (SP), Miracatu (SP) e Ubatuba.
Estudo minucioso
Análises genéticas, estudos bioacústicos e até tomografias computadorizadas foram usadas para entender cada aspecto do animal.
E a vocalização do sapinho também surpreendeu. Segundo Toledo, o canto do anfíbio se assemelha ao de um grilo, tanto pela característica do som quanto pelo volume relativamente baixo para um sapo.
Para ele, o uso de ferramentas e métodos de estudo cada vez mais avançados é o que vem possibilitando descrever vertebrados tão pequenos, já que apenas analisando morfologicamente seria impossível fazer distinções precisas.
“Ainda mais no caso desses bichos tão pequenininhos, que encontrar diferenças entre uma espécie e outra fica cada vez mais difícil, porque eles têm cada vez menos estruturas que estão variando a ponto de a gente conseguir perceber a diferença entre espécies”, diz.
Nesse ritmo, o volume de descobertas de sapos-pulgas tende a só aumentar. Isso porque os pesquisadores do LaHNAB já estão trabalhando na descrição de outro exemplar na cidade de Bananal (SP), próxima à divisa com o Rio de Janeiro.
Nas análises preliminares da equipe, a espécie Brachycephalus dacnis não corre risco aparente de extinção, mas o resultado só pode ser estipulado após avaliação pelo ICMBio. O que se sabe é que ela depende da floresta em pé para existir, e não ocorre em áreas desmatadas.