A linhagem do novo coronavírus SARS-CoV-2 que infectou o segundo brasileiro diagnosticado com a doença teve uma rota diferente da primeira, apesar de ambas se originarem na China, afirmam cientistas.
Apesar de ambos os pacientes terem contraído a enfermidade na Itália, no primeiro paciente o vírus está ligado a uma linhagem que passou pela Alemanha, e no segundo a rota do patógeno foi o Reino Unido.
Para traçar a rota do coronavírus, os cientistas comparam o material genético do patógeno com genomas tirados de amostras que infectaram pacientes em outros lugares do mundo. Como o vírus sofre mutações à medida que se multiplica e passa de uma pessoa à outra, comparando as mutações é possível traçar a rota do patógeno.
Ester Sabino, pesquisadora do Instituto de Medicina Tropical da USP que liderou o trabalho, afirma que a descoberta é um sinal preocupante. Em depoimento à agência de notícias da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), instituição de fomento que bancou o estudo, ela diz que a trajetória dessas duas linhagens de coronavírus sugere um "amadurecimento" da epidemia na Europa.
"Já está ocorrendo transmissão interna nos países europeus", diz a pesquisadora. "Para uma análise mais precisa, porém, precisamos dos dados da Itália, que ainda não foram sequenciados."
Os trabalhos de sequenciamento do vírus estão sendo feitos por Ester com Jaqueline Goes de Jesus, pós-doutoranda, em parceria com o microbiologista Claudio Sacchi, do Instituto Adolfo Lutz, e colaboradores das universidades de Oxford e Edimburgo.
Brasil e Reino Unido trabalham em parceria para estudar o SARS-CoV-2 usando a infraestrutura de uma rede de colaboração criada originalmente para estudar vírus transmitidos por mosquitos.
Os sequenciamentos de material genético do coronavírus, que estão sendo compartilhados abertamente entre a comunidade científica global, devem contribuir para o desenvolvimento de fármacos e vacinas, além de ajudarem a rastrear as rotas de transmissão da doença.