Ontem (13), o Brasil notificou mais de 700 óbitos pela COVID-19 em 24h, e mais de 800 na terça-feira (12) ‚o maior número de novos registros desde a chegada do novo coronavírus (SARS-CoV-2) no país. Os números totais de infectados chegam a mais de 177 mil doentes. Isso porque a infecção respiratória segue se espalhando.
Nos dias 8 e 10 de maio, o estado de São Paulo registrou, em média, 1.839 novos casos diários de pacientes contaminados pelo coronavírus, sendo 1.033 na capital. Além disso, foram registrados 93 óbitos na capital e 168 no estado, isso também na média dos três dias.
A partir desse cenário, projeções foram feitas com um modelo matemático desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os resultados indicam que a adoção de lockdown obrigatório — termo em inglês que pode ser traduzido por bloqueio total — no Estado de São Paulo será inevitável caso o nível de isolamento social não suba significativamente.
Nesta terça-feira (12), o isolamento social no estado foi de 47%, segundo a central de inteligência que analisa os dados de telefonia móvel e indica tendências de deslocamento. Na capital, o índice foi de 48%. "Se o isolamento não for ampliado urgentemente, o estado terá de adotar medidas mais drásticas de contenção, como ocorreu na Itália, ou a situação se tornará insustentável”, explica Renato Pedrosa, professor do Instituto de Geociências da Unicamp e coordenador do Programa Especial Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação da FAPESP.
Possível cenário
Coso a atual taxa de contágio (R0) – que representa o número de pessoas para as quais um infectado transmite o coronavírus – seja mantida, no final de junho, o estado de São Paulo contabilizará 53,5 mil novas infecções por dia, sendo 20,8 mil casos diários somente na capital. Além disso, os número de mortes por dia atingirá 2,5 mil no estado, sendo 1,1 mil na cidade de São Paulo.
Esse cálculo foi feito com base nos dados de crescimento do número de casos ao longo do último mês, que indicam uma taxa de contágio de 1,49 para o estado e de 1,44 para a cidade de São Paulo. Em outras palavras, no final de abril, cada 100 paulistas infectados transmitiam o novo coronavírus para quase 150 pessoas. Isso em um período de 7,5 dias após a contaminação, segundo a modelagem utilizada.
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“Essas projeções têm grandes chances de estarem subestimadas, pois o nível de isolamento vem caindo desde o início de abril e, entre 5 e 9 de maio, não ultrapassou 50%, o que provocará o aumento da taxa de contágio. Isso se refletirá daqui a 15 ou 20 dias no número de novos casos, depois sobre o número de óbitos. Mas, mesmo que se mantenha o nível de contágio estimado até 10 de maio, os valores projetados indicam que ainda este mês o sistema público de saúde da Região Metropolitana de São Paulo [RMSP] atingirá o limite, pois o nível de ocupação de leitos de UTI já está acima de 80%", comenta o professor da Unicamp.
Como foi estimado?
As estimativas da pesquisa foram feitas a partir de um modelo desenvolvido por Pedrosa e descrito em artigo disponível na plataforma online medRxiv, em versão preprint. Com o modelo, foi estimada adinâmica de transmissão do novo coronavírus em diferentes locais, através de variáveis climáticas (temperatura e umidade absoluta), densidade populacional e linha do tempo da doença em diferentes localidades (data em que o país atingiu a marca dos 100 primeiros casos).
Pedrosa utilizou dados de 50 estados norte-americanos e de outros 110 países, incluindo o Brasil. Na pesquisa, os dados referentes à expansão da COVID-19, até o dia 10 de abril, foram obtidos junto ao Centro de Ciências de Sistemas e Engenharia da Johns Hopkins University, nos Estados Unidos, e o Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças, na Suécia.
Como diminuir o contágio?
Com base nos resultados obtidos, o professor estimou a taxa de atenuação do contágio que seria necessária para o controle da COVID-19 em todas as capitais brasileiras e no Distrito Federal, em função da densidade populacional de cada localidade. Entre as cidades mais densamente povoadas do país estão: Fortaleza (7.786 hab./km2); São Paulo (7.398 hab./km2); Belo Horizonte (7.167 hab./km2); Recife (7.040 hab./km2); e Rio de Janeiro (5.267 hab./km2).
Se acaso nenhuma medida de distanciamento social tivesse sido adotada para conter o avanço da infecção respiratória nesses locais, o pesquisador calcula que todas essas cidades teriam uma taxa de contágio superior a 5,8, sendo assim o número de infecções dobraria em menos de dois dias.
“Isso ocorreu no início da pandemia em outros países, como na cidade de Nova York, nos Estados Unidos, em que o número de casos dobrou a cada 1,4 dia durante a semana de maior intensidade da pandemia, logo no seu início. A densidade populacional de Nova York atinge mais de 25 mil hab./km2 em Manhattan, e o caso foi analisado no artigo resultante da pesquisa”, esclarece o pesquisador.
“Para controlar a doença nas quatro cidades mais densamente povoadas do país, é preciso atenuar a taxa de contágio livre em 84%, o que seria possível com pelo menos 60% de isolamento social combinado ao uso obrigatório de máscaras de boa qualidade, por exemplo”, orienta Pedrosa.
No entanto, o efeito das medidas de isolamento demora algum tempo para ser avaliado, isso porque só aparecem após duas ou três semanas. Para acompanhar a eficiência das medidas de isolamento no estado de São Paulo, é possível acessar plataforma do governo aqui.