Homens com sofrimento mental sofrem mais violência psicológica, física e sexual. Essa constatação é um dos pontos levantados na dissertação Agravos à saúde mental dos homens envolvidos em situações de violência realizada na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) feita pelo psicólogo Fernando Pessoa de Albuquerque, sob orientação da professora Lilia Blima Schraiber. Os formulários avaliados para o estudo permitiram ao psicólogo inferir que sofrer violência tem relação com 30% dos casos de sofrimento mental, o que contribui para prejudicar a saúde desses homens.
Albuquerque constatou também que metade dos homens com sofrimento mental foram vítimas de violência na infância e/ou adolescência. Com esses dados, segundo ele, pode-se supor que situações de ansiedade e angústia, causadas por atos violentos sofridos durante a formação da identidade dificultam, na vida adulta, uma saúde mental mais constante e integrada. ""Experimentar" violência tem efeito cumulativo, e cria mais probabilidade da pessoa adquirir um transtorno mental comum", diz o psicólogo.
Os dados do estudo foram coletados a partir de registros de entrevistas e de prontuários médicos de 477 homens de 18 a 60 anos que frequentaram dois Centros de Saúde-Escola das regiões Central e Oeste da cidade de São Paulo, em busca de atendimentos diversos de saúde. Nestes formulários, registrou-se as queixas que os homens traziam ao serviço, assim como a frequência com que iam ao médico. Os dados foram levantados para uma pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) chamada "Homens, violência e saúde: uma contribuição para o campo de pesquisa e intervenção em violência doméstica e saúde" realizada em 2003.
Tipos
Sofrimento mental consiste em incômodos relacionados às questões psíquicas, sendo uma aproximação do diagnóstico de transtorno mental comum (TMC), ainda que não seja caracterizado como uma doença mental. Seus efeitos provocam queda na qualidade de vida, além de agravo à saúde mental. Um dos fatores associados a essa situação está a violência, em todas as suas formas: física, sexual e psicológica. Para o trabalho, Albuquerque considerou a violência que a pessoa sofre, ou seja, no qual ela é vítima e não autora da ação agressora. O psicólogo optou avaliar os números que representavam a violência sofrida por tipo, por idade e por sobreposição de homens que relataram tanto sofrer quanto praticar agressões.
Segundo o autor, existem poucos estudos sobre saúde mental masculina. Os principais trabalhos envolvem somente eventos com desfechos fatais. "Pouco se sabe sobre os agravos menos imediatos" diz Albuquerque. Na sociedade, o ideal de masculinidade justifica, ou naturaliza, em algumas situações, a agressividade, o que leva a acreditar que a violência é bem vista entre os homens. No entanto, as condições de saúde pioram sob essa influência.
A importância deste tipo de trabalho, concluiu o autor, é introduzir os cuidados psicológicos à saúde masculina na atenção primária das Unidades Básicas de Saúde (UBS). "Homens procuram menos ajuda psicológica, porque a imagem idealizada de homem é o indivíduo que não pode deprimir ou ficar ansioso" conta o psicólogo. Ainda, afirma que pesquisas deste tipo podem ajudar a desenvolver políticas públicas de saúde para homens.
* Publicado originalmente no site Agência USP.
(Agência USP)