A prospecção de campo, com base em mapas geológicos e amostragem de solos e rochas, já não é a única alternativa para a localização de jazidas minerais, no País. A avaliação remota de concentrações minerais importantes, a partir de sensores aero-transportados ou instalados a bordo de satélites, está perto de se tornar ferramenta complementar operacional, com menos custos e prazos na busca de novas jazidas.
"Trabalhamos primeiro na montagem de uma biblioteca de assinaturas espectrais de ultra-detalhe dos diversos minerais metálicos de interesse, como ouro, platina, chumbo, zinco, cobre", conta o engenheiro geólogo' Carlos Roberto de Souza Filho, diretor do Departamento de Geologia e Recursos Naturais do Instituto de Geociências da Universidade de Campinas (Unicamp). Com a colaboração do geólogo Álvaro Crosta, também da Unicamp, montou o Laboratório de Espectroscopia de Reflectância, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo - custo de US$ 100 mil, mais cerca de US$ 80 mil para custeio das pesquisas.
Conforme explica, assinatura espectral é a forma característica de cada mineral refletir e/ou interagir com a luz solar, registrada numa imagem. As assinaturas de cada mineral vêm sendo obtidas a partir de análises feitas no aparelho que dá nome ao laboratório - o espectrômetro de reflectância - com ajuda de softwares, desenvolvidos na Unicamp, para adequação aos tipos de solos e rochas brasileiros.
Depois de montar a biblioteca de amostras, com as assinaturas espectrais, os pesquisadores passaram a avaliar a possibilidade de reconhecer o mesmo tipo de resposta em imagens produzidas por sensores remotos, o que indicaria a presença das jazidas: Identificações iniciais foram feitas onde a ausência de vegetação ou a vegetação rala facilitam a calibragem do sistema.
"Com base na assinatura espectral simulamos o comportamento do mineral na resolução de qualquer sensor para saber quanto detalhe é necessário para identificar as jazidas, sem confundir dois tipos de mineral diferentes", diz. Grosso modo já se pode dizer que a resolução espacial necessária fica entre cinco e 30 metros, o que inclui a maioria dos satélites.
O próximo passo será verificar se é possível relacionar certos tipos de cobertura vegetal com a presença de determinados minerais. "A cobertura vegetal fechada, seja um campo com gramíneas ou uma floresta, impede a visualização do solo e, portanto, a identificação dos minerais, mas algumas jazidas estão associadas a anomalias do solo e é possível que tais anomalias se reflitam no tipo de cobertura vegetal, que é uma das questões em estudo", diz Souza Filho.
A avaliação remota com uso de satélites é uma novidade ainda prestes a ser operacionalizada, mas já representa um avanço científico comparada às formas convencionais de identificação de jazidas, como a de urânio, em Santa Quitéria, no Interior do Ceará. Maior reserva do País, foi descoberta no fim de 1975, a partir de um bloco de rocha avermelhada do tamanho de um tijolo diferente das demais existentes nas proximidades. A identificação foi feita por um grupo de geólogos, utilizando cintilômetros - instrumentos de detecção de radioatividade - acoplados a carros que percorriam a área.
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O Povo