Pela primeira vez, a cidade de São Paulo tem mais prédios do que casas. O dado faz parte de um conjunto de notas técnicas, divulgado pelo Centro de Estudos da Metrópole (CEM), Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Segundo o levantamento, que não considera as moradias informais, no ano 2000, São Paulo tinha 1,23 milhão de imóveis residenciais horizontais, com 158 milhões de m2, já os prédios somavam 767 mil unidades, com 108,7 milhões de m2.
Vinte anos depois, as casas passaram para 1,37 milhão de unidades e 183,7 milhões de m2 e as unidades verticais deram um salto para 1,38 milhão de unidades e 190,4 milhões de m2.
"O estudo mostra um processo de longo prazo, de mudança de padrão do estoque residencial da cidade. É um crescimento estável, em um sentido de verticalização maior, uma tendência que já vinha, inclusive ocorrendo, com o estoque residencial passando do padrão horizontal baixo padrão para imóveis verticais de médio padrão. Também observamos um crescimento expressivo de apartamentos de alto padrão (...). Hoje, vemos que temos mais m2 de apartamentos alto padrão do que de baixo padrão. Em termos construtivos, a cidade elitizou", analisa o pesquisador Guilherme Minarelli, do CEM, um dos responsáveis pelo estudo.
PREFERÊNCIA NACIONAL
Outra pesquisa, dessa vez, realizada pela Brain Inteligência Estratégica, mostra que os apartamentos já são preferência nacional, com 43% das famílias brasileiras preferindo esse tipo de imóvel na busca imobiliária, enquanto as casas de rua são desejadas por 36% e as casas em condomínios por 11%.
O estudo não avaliou os motivos da preferência por apartamento, mas a busca por mais segurança pode ser uma aposta. "Eu cresci em uma cidade calma, no interior e quando me mudei para São Paulo me senti mais segura morando em um apartamento", conta Viviane Duranti, 22 anos, moradora da Vila Mariana.
Carolina Meyer, de 25 anos, que mora em Higienópolis, também atribui à sensação de segurança sua escolha por um apartamento quando foi morar sozinha, em 2017. "Sempre morei em casa, mas quando precisei me mudar para perto da faculdade, escolhi um apartamento, pois me sinto muito mais segura. Eu gosto muito de casa, mas acredito que em São Paulo, por conta da violência, prédio é a melhor escolha".
BOM OU RUIM?
A verticalização é um fenômeno global que, mesmo após a pandemia e o número significativo de pessoas procurando por mais espaço e até mesmo mudando de cidade, em decorrência da possibilidade do trabalho em home office, não deve se reverter. Ainda assim, ela gera discussões acaloradas sobre o impacto que o maior número de prédios pode trazer para as cidades e para a qualidade de vida.
"É muito improvável que essa tendência seja revertida, pois a graça das cidades é exatamente a densidade de pessoas. O que pode acontecer é o aumento pela procura por imóveis que tragam mais conforto, inclusive, já podemos ver isso internacionalmente", diz Minarelli.
"Sobre a verticalização ela não é nem negativa, nem positiva. A questão é como verticalizar. De um lado, você pode sobrecarregar a infraestrutura, fazendo com que a densidade construtiva e habitacional seja muito grande em uma região. Por outro lado, você pode ter uma cidade mais compacta, que usa melhor os espaços, garantindo um acesso melhor para as pessoas", finaliza o pesquisador.