O governo de São Paulo anunciou nesta quinta-feira (10) a construção da primeira estação de abastecimento de hidrogênio renovável a partir do etanol, em colaboração com empresas de energia e transporte, órgãos públicos e pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), cujo campus sediará o projeto.
O hidrogênio é considerado o combustível verde do futuro e um possível substituto para os combustíveis fósseis, essencial para alcançar a "descarbonização" até 2050, conforme prevê o governo.
A principal vantagem da produção de hidrogênio a partir do etanol é o custo mais baixo e a obtenção de um produto mais ecológico, capaz de viabilizar uma alternativa aos combustíveis fósseis, explicou Julio Meneghini, diretor executivo e científico do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa da USP.
Na "primeira" usina-piloto do mundo de produção de hidrogênio a partir de biocombustível, a opção de alto potencial será testada quanto à "escalabilidade e eficiência", acrescentou o especialista.
Por sua vez, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, celebrou a iniciativa: "Aquilo que o mundo está buscando, a gente está um passo à frente", afirmou, prometendo "estruturar a legislação" para promover a transição energética.
Prevê-se que a estação esteja em funcionamento no primeiro semestre de 2024, produzindo 5 de hidrogênio, inicialmente para abastecer três ônibus que circularão no campus universitário e um veículo leve, informou o governo paulista.
O projeto conta com um investimento de 50 milhões de reais da Shell Brasil, além da colaboração de outras empresas, como a produtora de etanol Raízen, a startup brasileira Hytron, que desenvolveu a tecnologia de conversão, e a Toyota, cujo modelo 'Mirai' testa a viabilidade do uso de hidrogênio.
"No momento, mais de 90% do hidrogênio produzido é baseado em gás natural", explicou Meneghini.
No entanto, ainda há limitações em relação ao alto custo de transporte, armazenamento e infraestrutura.
Frente a isso, especialistas destacaram que o hidrogênio a partir do etanol resolve o problema logístico, pois a produção ocorreria em cada ponto de abastecimento, sem a necessidade de transporte.
Isso significa que os caminhões continuariam carregando etanol para chegar aos motoristas, como fazem atualmente, evitando as complicações do transporte de hidrogênio a baixas temperaturas e alta pressão.
A conversão é resultado de um processo químico ao qual o etanol é submetido e que pode ser realizado in loco, apontaram os especialistas.
Os preços do hidrogênio, segundo Meneghini, estariam entre 6 e 9 dólares por quilo, em comparação com cerca de 13 dólares do produzido atualmente na Califórnia.
O Brasil é um dos maiores produtores de etanol do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
O anúncio ocorre após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser anfitrião de uma cúpula de representantes dos oito países amazônicos em Belém, no Pará, onde a exploração do petróleo foi um tema central de discussão.