Notícia

Gazeta Mercantil

Sangue americano na soja mineira

Publicado em 06 março 1996

Por por André Lacerda — de Belo Horizonte
Um cruzamento de brasileiras com norte-americanas promete conquistar as áreas verdes do cerrado. Resultante do encontro da variedade nacional Numbaíra à Bragg, originária dos Estados Unidos, a soja "Conquista" será lançada hoje no município de mesmo nome no Triângulo Mineiro. A variedade é recomendada para cultivos do grão em Minas Gerais e Mato Grosso, estados em que supera a média de produtividade de suas concorrentes de mesmo ciclo. Há dois anos, pesquisadores baianos também já testam com sucesso a nova soja. A "Conquista", designada cientificamente por MGBR-46, é resistente a três das piores pragas que infestam as culturas de soja do País. A variedade não se curva diante dos ataques de cancro-da-haste, pústula bacteriana e mancha olho de rã. Os pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e Emater (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais) também avançam no desenvolvimento de uma linhagem resistente ao nematóide de cisto. "Estamos adiantados nas pesquisas de uma nova variedade, e esperamos entregar as primeiras sementes aos produtores dentro de dois ou três anos", promete o engenheiro agrônomo Neylson Eustáquio Arantes, que esteve à frente das pesquisas da "Conquista". Os produtores brasileiros ainda não contam com variedades de soja que resistam ao nematóide de cisto. Os testes da linhagem lançada hoje foram feitos em 26 diferentes ambientes em dois estados ao longo dos últimos três anos. O principal cartão de visitas da "Conquista" é a produtividade que atinge frente a variedades de ciclo precoce, no Mato Grosso, e semi-tardio em terras mineiras. Os melhores resultados, em torno de 3,3 mil quilos por hectare, foram obtidos em experimentos feitos em Uberlândia (MG) e Rondonópolis (MT). Doze ambientes serviram de laboratório em Minas e outros 14 no Mato Grosso. Nas áreas do Planalto Central, a média de produtividade ficou em 2.550 quilos por hectare, colhidos em 109 dias. O número supera em 19,4% as médias alcançadas nos plantios com a variedade-padrão, a FT Estrela Em Minas, o resultado apontado foi de 2.628 quilos por hectare, 9,4% acima das médias da IAC-8 para ciclo de 140 dias. A "Conquista" se sai bem em solos de fertilidade entre média e alta. "São terrenos onde é aplicada alta tecnologia. Em solos pobres, como os de cerrado, o resultado também pode ser bom, desde que já tenham sido cultivados pelo menos uma vez", observa Arantes. Embora seja inicialmente recomendada apenas para Minas e Mato Grosso, a nova linhagem já é testada na Bahia, onde vem se saindo bem, Goiás e Mato Grosso do Sul. Experimentos em instituições oficiais não necessários para permitir acesso a financiamentos bancários aos interessados em plantar as novas variedades. As sementes desenvolvidas em Conquista serão agora repassadas a cerca de 50 produtores, entre pessoas físicas e jurídicas, dos dois estados para multiplicação. Arantes ainda não sabe qual a quantidade de sementes vai ser distribuída aos multiplicadores. A "Conquista" deverá estar disponível para plantio apenas na safra 1997/98. O pesquisador da Embrapa destaca a facilidade de adaptação da nova soja como um de seus principais atributos. "A 'Conquista' foi desenvolvida buscando a resistência às doenças e a alta produtividade, mas a sua adaptação a diferentes regiões é um trunfo importante", afirma. Arantes integra equipe de seis melhoristas ligados ao Centro Nacional de Pesquisa de Soja, da Embrapa, sediado em Londrina (PR). Segundo ele, os pesquisadores da instituição estão hoje espalhados pelo País em busca de variedades mais apropriadas ao ambiente brasileiro - como a "Conquista".