Indústria brasileira investe para superar atraso e competir
Pressionada pelo vigoroso acirramento da competitividade global e o contínuo desembarque de grupos estrangeiros dispostos a assegurar a maior fatia possível de um bolo que permaneceu intacto durante décadas, a indústria brasileira prepara-se para um salto tecnológico capaz de garantir sua própria sobrevivência no novo milênio.
"Existe um hiato tecnológico histórico entre o Brasil e os países industriais mais avançados, mas com a abertura da economia, na década de 90, essa diferença já foi reduzida e a tendência é de uma aproximação maior nos próximos anos", afirma Flávio Castelo Branco, coordenador adjunto da unidade de política econômica da Confederação Nacional da Indústria (CM).
Embora o Brasil tenha um parque industrial bastante diversificado, recente relatório da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) recomenda que esse parque tem urgentes necessidades de modernização, o que vai requerer pesados investimentos em vários setores.
A influência da abertura e da competitividade pode ser observada com todas as suas cores no setor de telecomunicações. Nesta área, empresas nacionais e estrangeiras, conforme projeções do governo, deverão investir pelo menos US$ 80 bilhões até o ano de 2003, sem contar os US$ 5 bilhões que serão aplicados por operadoras de TV por assinatura, também nos próximos cinco anos.
Não estão incluídos os recursos que deverão ser arrecadados com a transferência dos ativos das estatais brasileiras para a iniciativa privada, que não deverá sofrer qualquer atraso, em razão da morte do ex-ministro das Comunicações, Sérgio Motta. O valor de mercado da "holding" Telebrás varia entre US$ 57 bilhões e US$ 75 bilhões.
"Estamos trazendo o que há de melhor em tecnologia, desde a fábrica até equipamentos. Se não for assim, não há competitividade dentro da economia globalizada", diz Ophir Toledo, presidente da Motorola do Brasil Ltda. A subsidiária, inaugurada em 1992, investiu cerca de US$ 100 milhões em máquinas e em seu complexo fabril de Jaguariúna, no interior do Estado de São Paulo, até 1997.
"Nos próximos três anos, aplicaremos mais US$ 200 milhões", revela Toledo. Segundo ele, não há mais hiato tecnológico entre a subsidiária brasileira e a matriz norte-americana. A diferença ainda está no aproveitamento do mercado.
Nas páginas 3 e 4, os esforços para a modernização dos parques industriais que vêm sendo feitos pelos outros três sócios do Mercosul - Argentina, Uruguai e Paraguai -, para fazer frente à concorrência internacional.
De um faturamento global da ordem de US$ 30 bilhões no ano passado, apenas US$ 2,1 bilhões foram gerados na América Latina - onde o Brasil é responsável pela maior parte -, região onde a Motorola espera crescer entre 30% e 50% em 1998, conforme Toledo.
Eduardo Bassi, diretor da consultoria Global Management Consulting, adverte que, apesar de estarem em franco processo de modernização, as indústrias latino-americanas ainda permanecerão como importadoras de tecnologia durante muito tempo. "Desde meados do século XIX, a criação tecnológica acontece na Europa e nos Estados Unidos. Uma mudança desse perfil só acontecerá no longo prazo", afirma.
INVESTIMENTO EM PESQUISA
No Brasil, conforme Castelo Branco, da CNI, menos de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) é destinado à pesquisa e desenvolvimento, um percentual ainda muito baixo. Os investimentos em geral, aliás, também já foram maiores. Na década de 70, eram equivalentes, em média, a 4,6% do PIB, participação que caiu para 3,4% nos anos 80 e para 2,8% no biênio 1992/93. A recuperação começou a ser observada entre 1995 e 1997, quando os investimentos passaram a representar 3,5% do PIB.
A indústria automobilística é responsável por boa parte desse avanço. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os aportes das empresas que já operam no mercado brasileiro e das que estão chegando ao país deverão somar US$ 20 bilhões até o ano 2000, montante que engloba novas fábricas, projetos de modernização e os investimentos das companhias de autopeças.
"Apesar dos investimentos, há um longo caminho para a indústria automobilística brasileira alcançar os padrões dos países desenvolvidos", diz o professor José Roberto Ferro, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), especialista no setor. Segundo ele, o nível de produtos fabricados no Brasil ainda é simples. "Há vários problemas, entre eles equipamentos antigos, conceitos atrasados é uma, política de recursos humanos que precisa melhorar", diz Ferro.
No geral, as indústrias extrativas e de transformação preparam o desembolso de cerca de US$ 120 bilhões até o ano 2000, conforme estudo do Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo (MICT). O setor de produtos químicos concentra 23,8% do total, seguido por alimentos e bebidas (12,2%), metalurgia básica (11,9%) e papel e celulose (11,3%).
VANTAGENS COMPETITIVAS
De acordo com o estudo, essa distribuição permite concluir que o movimento de especialização da indústria brasileira está reforçando a posição de segmentos industriais nos quais o país já possui vantagens competitivas no mercado internacional. A onda de investimentos, ainda conforme o governo, está sendo estimulada pela estabilidade monetária, pela abertura comercial, pelo programa de desestatização, pela liberalização de preços e pela eliminação das restrições para a entrada e saída de capital estrangeiro.
Notícia
Gazeta Mercantil