Homens que tiveram Covid-19 apresentaram alterações hormonais e de fertilidade durante meses após a recuperação da doença, segundo em estudo feito na USP (Universidade de São Paulo). Nos testes iniciais, foram analisados 26 pacientes e mais da metade deles apresentaram inflamação no epidídimo.
A inflamação foi identificada na estrutura responsável pelo armazenamento dos espermatozoides e onde eles adquirem a capacidade de locomoção. Os homens têm uma idade média de 33 anos e são acompanhados desde o início de 2020 pelo andrologista Jorge Hallak.
O pesquisador é professor da FM-USP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e coodernador do IEA-USP (Grupo de Estudos em Saúde do Homem do Instituto de Estudos Avançados).
“Temos visto, cada vez mais, alterações prolongadas na qualidade do sêmen e dos hormônios de pacientes que tiveram Covid-19, mesmo naqueles que apresentaram quadro leve ou assintomático”, disse Hallak à Agência FAPESP.
O pesquisador acredita que a Covid-19 poderá causar um crescimento nos índices de infertilidade masculina. Atualmente, entre 15% e 18% dos casais enfrentam dificuldades para conceber e 52% dos casos são por questões masculinos.
Por serem testes iniciais, eles não têm condições de diagnosticar fertilidade ou infertilidade. As análises tem indicado uma queda na habilidade dos espermas de vários pacientes em se mover e fertilizar o óvulo. O índice normal é de 50% mas foi reduzido para 8% e 12% mesmo um ano depois da infecção pelo SARS-CoV-2.
Os níveis de testosterona também reduziram após a Covid-19. Os índices do hormônio variaram abaixo de 200 ng/dL (nanogramas por decilito), quando o nível normal é de 300 a 500ng/dL.
Segundo os pesquisadores, a doença também infecta os testículos e prejudicam a capacidade das gônadas masculinas ao produzir espermatozoides e hormônios.
“É muito preocupante como o novo coronavírus afeta os testículos, mesmo nos casos assintomáticos ou pouco sintomáticos da doença. Entre todos os agentes prejudiciais aos testículos que estudei até hoje, o SARS-CoV-2 parece ser muito atuante”, disse Hallak.
O pesquisador recomenda que o ensino de autoexame como política de saúde no pós pandemia. Outra indicação é que adolescentes, jovens e adultos em idade ou com desejo reprodutivo procurem um urologista ou andrologista para mensurar os efeitos da Covid-19 no sistema reprodutivo.
“Ao contrário de uma infecção bacteriana clássica ou por outros vírus, como o da caxumba, que causa inchaço e comumente desconforto ou dor nos testículos em um terço dos acometidos, a epididimite causada pelo novo coronavírus é indolor e não é possível de ser diagnosticada por apalpamento [exame físico] ou a olho nu”, explica Hallak.
Segundo o médico esses indivíduos devem ser acompanhados por um a dois anos após a infecção porque a evolução da doença ainda não é conhecida.
*Com informações da Agência Fapesp.