Edgar Morin, o sociólogo e filósofo francês que abriu a edição 2008 do seminário internacional Fronteiras do Pensamento Copesul Braskem, é um nome perfeito para exemplificar o que pretendem os organizadores do curso de altos estudos que acontece durante o ano inteiro, na Capital gaúcha. Autor de uma bibliografia formada por mais de 60 títulos, que vai do cinema à filosofia, do relato de viagem à política, com predominância da sociologia e da filosofia, Morin propõe uma transdisciplinariedade que combina saberes de áreas diversas, o que sinalizaria uma das marcas distintivas de nosso tempo. "A ênfase, esta vez, recai sobre o que a arte fez na Pós-Modernidade", sintetiza o professor, escritor e consultor acadêmico do Fronteiras do Pensamento, Donaldo Schüler, ele próprio um dos palestrantes da edição 2007. "A intenção é ter Porto Alegre como um centro de cultura importante", avalia o também ex-patrono da Feira do Livro e tradutor de Homem, Sófocles e James Joyce.
Afora Morin, são aguardados, entre outros, o escritor cubano Pedro Juan Gutiérrez, a crítica literária argentina Beatriz Sarlo, o cineasta alemão Wim Wenders, o músico norte-americano PhiIip Glass, a política holandesa Ayaan HirsiAli, o arquiteto polonês Daniel Libeskind e o historiador britânico Simon Schama - todos apontam, seja pela formação intelectual, seja pela nacionalidade, para a complexidade do mundo tal como é percebido hoje, em que confluem algumas das principais tendências existentes e que ajudariam o espectadora pensá-lo sob esse padrão transdisciplinar exaltado por Morin. "Se na Modernidade tivemos um pensamento simples, na Pós-Modernidade tudo é diferente. Almejamos apreender a diversidade de fatores que agem nos acontecimentos", explica Schüler que integra o conselho responsável por escolher os conferencistas. "A partir de um tema, chegamos a artistas revolucionários, como Fernando Arrabal e Gerald Thomas que estão alinhados à vanguarda teatral e foram reunidos na mesma noite", cita o professor.
No ano passado, o Fronteiras do Pensamento reuniu estrelas do campo político, como o filósofo Luc Ferry ex-ministro da Educação da França, o deputado federal Fernando Gabeira, o ex-ministro Celso Lafer, os jornalistas de guerra Jon Lee Anderson e Asne Seierstad e o historiador Peter Burke, mais alguns expoentes da economia, literatura e ciência. O predomínio, contudo, era para a situação do planeta em termos de direita e esquerda, autoritarismo e democracia, terrorismo e relações internacionais. O sucesso da primeira investida pode ser atestado não apenas pelo fato de que os ingressos se esgotaram rapidamente - o que aconteceu igualmente com a segunda iniciativa-, mas também porque a idéia de um ciclo semelhante foi "vendida" para Salvador, onde ocorre uma edição local do Fronteiras do Pensamento. Para 2009, no entanto, as diretrizes ainda não foram definidas. "De acordo com a repercussão desta edição é que avaliaremos o que se fará no próximo ano", diz Schüler.
Muitos dos selecionados vêm apenas para Porto Alegre, sem cumprir agenda no centro do País. Foi o caso da feminista norte-americana Camille Paglia e do filósofo franco-argelino Bernard Henri-Lévy que estiveram aqui em 2007. "Existe uma tradição de 'fronteira aberta' em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul", garante o estudioso Donaldo Schüler.
Polemistas conhecidos chamam a atenção do público
O seminário internacional Fronteiras do Pensamento Copesul Braskem já teve precursores em outros ciclos semelhantes que aconteceram em Porto Alegre, a partir dos anos 1990 - nenhum, porém, com a dimensão e o alcance do que os interessados acompanharam em 2007 e irão continuar acompanhando este ano (a título de lembrança, entre outros encontros, era possível destacar Intérpretes do Brasil, de 2004, e Metamorfoses da Cultura Contemporânea, de 2006).
Alguns dos nomes mais expressivos da intelectualidade das últimas décadas passaram pela Capital gaúcha na primeira edição do projeto, com destaque para alguns polemistas - em 2007, Camille Paglia, que sacudiu o mundo com o lançamento do ensaio Personas Sexuais, e Michel Houellebecq, cujo romance Partículas Elementares se converteu em sucesso de vendas e voltou a dar espaço à nova literatura francesa, em âmbito planetário.
Ainda que seja difícil prever os caminhos que cada uma das falas poderá tomar, os selecionados para as conferências, que vão até novembro, prometem muito: os cineastas José Padilha, Beto Brant e Win Wenders, os psicanalistas Contardo Calligaris e Jurandir Freire Costa, os músicos Philip Glass e David Byrne e o escritor Pedro Juan Gutiérrez, entre outros escolhidos, são alguns dos convidados - gente, enfim, que ajude a pensar o mundo para além do óbvio e do lugar-comum.