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Inovação Unicamp

Sabesp assina convênio com a Fapesp; investimento conjunto de R$ 50 milhões é parte de reestruturação de atividade de P&D

Publicado em 25 maio 2009

Por Janaína Simões

Como parte do processo de reestruturação de suas atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) assinou no dia 12 de maio um convênio de R$ 50 milhões com a fundação que apoia a pesquisa no Estado, a Fapesp, para financiamento conjunto de projetos nos próximos cinco anos. Os temas passam pelo gerenciamento do lodo que resta nos reservatórios ao monitoramento da qualidade da água.

A Sabesp é uma empresa de economia mista e de capital aberto, que tem como principal acionista o governo do Estado de São Paulo, e ações no mercado, negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e de Nova Iorque. Faturou, em 2008, R$ 6,4 bilhões.

De acordo com o presidente da empresa, Gesner Oliveira, a Sabesp é a quinta maior do mundo no setor de saneamento em volume de clientes. Investe, em média, 0,05% de seu faturamento em P&D. O presidente cita os números de duas outras grandes do setor, a Veolia Water e a GDF-Suez — que investem 0,46% e 0,22%, respectivamente — para explicar a necessidade de reestruturação do P&D da empresa. A previsão de dispêndio na área para 2010 é de R$ 7,1 milhões, contra R$ 3,4 milhões em 2007.

O convênio com a Fapesp prevê a divisão do dispêndio entre as parceiras. Haverá chamadas para projetos de pesquisa por temas. A seleção segue os procedimentos da fundação de apoio. Na ocasião da assinatura, Gesner Oliveira anunciou mais um passo da reestruturação: a instalação de um núcleo de P&D no parque tecnológico de São José dos Campos, no interior do Estado. O presidente da empresa não divulgou o investimento previsto para a instalação do núcleo.

A reestruturação da área de P&D

O presidente da Sabesp contou a Inovação que a companhia já mantém atividades de P&D, que serão integradas no centro que está sendo criado. Em 2009, o investimento previsto nessas atividades é de R$ 4,8 milhões; no ano passado, a empresa aportou R$ 3,5 milhões. O desafio da Sabesp, disse Gesner Oliveira, é a universalização dos serviços, em momento de escassez de recursos hídricos e necessidade de aumento da eficiência operacional e da conscientização do cidadão. "Também temos demandas ambientais que não existiam, uma regulação mais rigorosa para o setor e um ambiente mais competitivo que exige da empresa um salto, ser mais pró-ativa [em pesquisa e inovação]", comenta. A Sabesp atende 23 milhões de pessoas em 366 dos 645 municípios de São Paulo.

"Inovação é o motor do crescimento. Estudo do Ipea [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada] mostra que as empresas que inovam têm o dobro da produtividade", afirma. Para ele, a integração das atividades já existentes e o aumento do investimento pretendem "intensificar" a inovação na empresa. "O objetivo é a difusão das experiências e padronização das melhores práticas", explica.

Em sua palestra durante a cerimônia de assinatura do convênio, Oliveira apresentou alguns projetos pontuais e bem-sucedidos que podem ser levados para todo o sistema da empresa. Ele citou dois casos de utilização do lodo resultante do tratamento de esgoto e de água — como fertilizante e na indústria de cerâmica. "São exemplos de boas práticas, mas não disseminadas. Essa divisão vai ter a tarefa de pensar pesquisa e desenvolvimento como um ingrediente fundamental do nosso processo produtivo", completou.

Hoje, a Sabesp tem oito funcionários na área de P&D, que trabalham na sede da empresa, em São Paulo. "Nas nossas 17 unidades temos várias pessoas se dedicando a pesquisa e desenvolvimento. Vamos especializar pessoas nessas atividades e agregar de maneira organizada os pesquisadores de universidades, centros de excelência, para que construam uma área mais robusta de P&D", explica. Ampliar o número de parceiros em P&D é um dos objetivos da Sabesp com o lançamento do edital com a Fapesp. Essa equipe trabalhará em rede e também atuará no centro operacional no parque tecnológico de São José. Será encarregada de trabalhar nos projetos contemplados no convênio com a Fapesp.

O convênio Fapesp-Sabesp

O que nos atraiu nessa colaboração com a Sabesp foi o fato de a empresa ter uma estratégia em P&D maior do que o convênio com a Fapesp", disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da fundação, na palestra. "A Sabesp entende que precisa ter pesquisadores dentro da empresa para dialogar com os pesquisadores da academia, uma estratégia que vai chegar a algum lugar, do ponto de vista estrutural", afirmou Brito Cruz.

O edital de chamada de projetos de pesquisa deve sair em junho. Os temas, de acordo com Brito Cruz, serão: tecnologia de membranas filtrantes nas estações de tratamento de água e esgoto; alternativas de tratamento, disposição e utilização de lodo de estações de tratamento de água (ETAs) e de esgotos (ETEs); novas tecnologias para melhoria dos processos de operações unitárias (são exemplo desse tipo de operação a captação de água bruta, o tratamento para que ela se torne potável e a distribuição da água nos domicílios); monitoramento da qualidade da água; eficiência energética; economia do saneamento.

Para a eleição dos temas, contou Oliveira, foi usado um software que "vasculha milhares de publicações científicas em todo o planeta", para identificar o que está em debate em saneamento hoje. "Uso de membranas filtrantes no tratamento de água é importante para lidar com a deterioração dos mananciais por diversas razões, como salinização de rios", exemplificou. No longo prazo, por conta do aquecimento global, haverá muitos mananciais de pior qualidade, que exigirão processos de tratamento de água muito mais sofisticados, acrescentou. Outro tema que pode demandar pesquisa e desenvolvimento citado pelo executivo foi a questão regulatória.