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O Povo

Rosto novo, vida nova

Publicado em 15 julho 2006

Agência FAPESP

7 meses depois — Isabelle Dinoire já consegue falar e se alimentar. A equipe responsável pelo primeiro transplante de rosto do mundo avalia a operação como "bem sucedida"
O primeiro transplante de rosto foi avaliado na última terça-feira, 4, pelo grupo de cientistas franceses responsável pelo procedimento histórico ocorrido em novembro do ano passado. A avaliação foi feita na edição eletrônica da revista médica The Lancet. A cirurgia foi realizada em novembro de 2005, em uma mulher de 38 anos que havia perdido os lábios, nariz, queixo e partes de ambos os lados da face ao ser atacada por um cachorro. As mordidas danificaram os tecidos da face até o nível do esqueleto e dentes.
"Como a reconstrução convencional de tecido exigiria pelo menos quatro ou cinco operações para recuperar as quatro unidades anatômicas perdidas, e provavelmente levaria a resultados estéticos e funcionais ruins, o alotransporte de tecido composto foi escolhido como opção terapêutica para reconstruir o rosto do paciente", disseram os autores no artigo.
O transplante foi bem-sucedido. Os médicos fizeram implante de pele, gordura e vasos sangüíneos, que foram removidos de uma doadora com morte cerebral. Segundo os autores, o rosto resultante é um híbrido, diferente do da paciente e do doador.
No artigo, os pesquisadores, liderados por Bernard Devauchelle, do Departamento de Cirurgia Maxilofacial do Hospital Universitário em Amiens, descrevem o detalhado processo que envolveu antes, durante e os quatro meses seguintes à inédita cirurgia.
"As conseqüências demonstram a viabilidade do procedimento. O resultado funcional será mais bem avaliado no futuro, mas a montagem pode ser considerada bem-sucedida em relação à aparência, sensibilidade e aceitação por parte do paciente", disseram os pesquisadores.
Em comentário sobre o artigo publicado no mesmo dia, Patrick Warnke, da Universidade de Kiel, na Alemanha, chama o transplante de "novo marco na medicina", mas alerta para problemas potenciais, especialmente de rejeição. "A técnica do alotransplante exige uma imunossupressão vigorosa e por toda a vida. Falhas no regime escolhido podem se mostrar devastadoras, com a possível perda do rosto transplantado a qualquer momento", disse.
A paciente, posteriormente identificada como Isabelle Dinoire, disse cinco meses depois ter recuperado a sensibilidade total de seu rosto. Consegue falar e se alimentar. Ainda sob vigilância médica, a francesa exibe cicatrizes e um pequeno problema de simetria facial.
Em abril, o segundo transplante facial parcial foi feito na China, em Li Guoxing, de 30 anos, que havia sido atacado por um urso. O procedimento envolveu dois terços do rosto.
O artigo First human face allograft: early report, de B. Devauchelle e colegas, pode ser lido por assinantes da The Lancet em www.thelancet.com.