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Diarioweb (São José do Rio Preto)

Ronco e apneia do sono afetam até 4% dos homens (1 notícias)

Publicado em 18 de maio de 2013

Por Cecília Dionizio

Cerca de 30% dos paulistanos sofrem algum tipo de distúrbio do sono, conforme estudo realizado pelo Instituto do Coração, de São Paulo. O número é reflexo da estimativa da Associação Brasileira do Sono (ABS), que aponta o ronco e a apneia obstrutitva do sono como um problema presente em cerca de 4% da população masculina em todo o país - esses distúrbios afetam de 8 a 10 vezes mais homens do que mulheres. Elas, por seu lado, sofrem a consequência do ronco, pois são as que mais se queixam pelo fato de não conseguir dormir direito com o ronco dos maridos.

A cirurgia dentista Sheila Diniz, de Rio Preto, que há sete anos trata de pessoas com distúrbio do sono, ressalta que é muito comum receber em seu consultório queixas sobre o ronco do parceiro ou parceira. “O importante é que as pessoas saibam que o problema tem solução”, diz. De acordo com o ortodontista Juarez Köhler, especialista em ortopedia facial e membro da ABS, o ronco provoca um barulho incômodo para quem dorme ao lado, que é causado pelo estreitamento ou obstrução das vias respiratórias superiores.

O ar tem dificuldade para passar no canal mais estreito, provocando a vibração das estruturas. “O diagnóstico é realizado com o suporte da polissonografia, uma avaliação que verifica diversos parâmetros do corpo durante o sono. O exame apresenta informações sobre os batimentos cardíacos, o esforço respiratório, os potenciais elétricos da atividade cerebral e a saturação de oxigênio no sangue”, diz.

Fapesp

Segundo o pesquisador Geraldo Lorenzi Filho, diretor do Laboratório do Sono da Universidade de São Paulo (USP), a real incidência da síndrome de obstrução do sono na população ainda é desconhecida. O médico observa, contudo, que nas mulheres o mal se manifesta mais próximo ao climatério, o que leva a pensar na influência hormonal sobre o as vias aéreas durante o sono. Daí a razão para se tratar a questão do sono de forma multidisciplinar, pois são inúmeras as variantes no desencadeamento do problema.

Os distúrbios do sono vão da insônia, sonolência diurna, síndrome das pernas inquietas ao sonambulismo, ronco e à apneia, entre outros. Contudo, só em São Paulo, mais de dez estudos estão em andamento para identificar as principais causas associadas ao ronco, uma das principais queixas, com o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp).

O Incor realizou estudo com cerca de 400 pessoas. Elas passaram por testes de bioimpedância, aferição de Índice de Massa Corpórea (IMC) e medição de circunferência abdominal. De 126 adultos, entre homens, mulheres e adolescentes que passaram pelo teste de bioimpedância, 88% apresentaram níveis de gordura acima do considerado ideal. E dentre as causas mais frequentes para o aparecimento da apneia está a obesidade. Nesses pacientes, segundo os médicos, a apneia é mais comum pelo fato de terem a garganta (faringe) estreitada e com formato mais arredondado, devido ao acúmulo de gordura na região e à posição da mandíbula e do maxilar, que se projetam para trás.

Sintomas diferentes durante o dia e à noite

Os pais de crianças com tendência à obesidade devem ficar atentos aos sintomas noturnos e diurnos relacionados aos distúrbios do sono, conforme constata um estudo conduzido pelo médico Gilberto G.S. Formigoni, do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ele mostra que os pacientes com apneia do sono frequentemente queixam-se de sonolência diurna excessiva ou sensação de que o sono não é repousante. Esse fato está diretamente relacionado à fragmentação do sono, à perda dos estágios mais profundos do sono não-REM e à hipoxemia noturna.

O pesquisador observa que são vários os fatores estruturais e funcionais apontados como responsáveis pelos quadros de apneia obstrutiva do sono, que vão desde a deposição de gordura na região cervical, hipoplasia de maxila ou mandíbula, macroglossia, hipertrofia de amígdalas ou adenoide até o volume aumentado das secreções respiratórias.

Nessas pessoas, Formigoni observa que é comum encontrar alteração nas partes moles, incluindo a deposição de gordura e inchaço, causado pela lesão tecidual decorrente do trauma repetido dos tecidos pelo ronco alto e sucessivos fechamentos e aberturas da via aérea. A boa notícia é que muitas vezes o simples uso de uma placa em acetato de cristal pode auxiliar a pessoa que ronca a se livrar do problema, sem precisar recorrer a uma cirurgia. De acordo com a cirurgiã dentista rio-pretense Sheila Diniz, especialista em distúrbios do sono, os aparelhos intraorais são hoje os principais recursos no tratamento do ronco e da apneia, uma vez que oferecem solução rápida e eficaz.

Sheila observa que o equipamento é confeccionado pelo próprio dentista, que pode ser moldado e instalado nos dentes superiores e inferiores do paciente. A dentista explica que o aparelho projeta a mandíbula para frente, eliminando os ruídos. “De custo acessível, sua durabilidade varia de 3 a 4 anos, dependendo do cuidado e manuseio do próprio paciente”, diz.

ENTENDA

Em um indivíduo normal, o sono não-Rem e o sono Rem alternam-se ciclicamente ao longo da noite. O sono não-Rem e o sono Rem se repetem a cada 70 a 110 minutos, com 4 a 6 ciclos por noite. A distribuição dos estágios de sono durante a noite pode ser alterada por vários fatores, como idade, ritmo circadiano, temperatura ambiente, ingestão de drogas ou por determinadas patologias. Em geral, o sono não-Rem se concentra na primeira parte da noite, enquanto o sono Rem predomina na segunda parte