Assessoria de Comunicação
O professor Robério Santos, do curso de história do Campus II da UNEB, em Alagoinhas, é o autor do livro Tudo pelo trabalho livre! Trabalhadores e conflitos no pós-Abolição (Bahia, 1892-1909).
A obra, que será relançada no foyer do Teatro UNEB (Campus I, em Salvador), no início do próximo ano, é resultado da tese de mestrado em história social defendida pelo docente na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A publicação aborda as condições de trabalho e mobilizações operárias nas ferrovias baianas no período posterior à Abolição da Escravatura (1892-1909).
"Graças às lutas coletivas do passado, hoje temos determinados direitos garantidos por lei e supervisionados pela Justiça. Esses movimentos repercutem nos dias atuais na conquista de direitos, sobretudo para a classe trabalhadora", afirmou o autor.
Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e com selo da editora da Universidade Federal da Bahia (Edufba), a obra foi lançada na capital no último mês de setembro e já está disponível para consulta em bibliotecas públicas e instituições de ensino.
Robério é graduado em história pela Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) e mestre em história social do trabalho pela Unicamp, instituição a qual cursa atualmente doutorado na mesma área. O acadêmico é autor ainda de artigos publicados em livros, revistas e periódicos nacionais.
Em entrevista concedida à Edufba, Robério Santos discorreu sobre o livro e analisou as condições de trabalho na atualidade, além de pontuar sua carreira e projetos futuros.
Edufba: Como e quando o seu interesse pela vida acadêmica se formou e quais os momentos que você destacaria ao longo desta trajetória?
Robério Santos: Fiz a graduação em história na Uefs e, nesse período, comecei a participar de diferentes pesquisas. Primeiro, como bolsista de auxílio estudantil, estagiei no Museu Casa do Sertão onde tive minha primeira iniciação à pesquisa. Depois dessa experiência, transitei por diferentes experiências e áreas de pesquisa. Destaco, nessa direção, o prêmio de pesquisa que recebi no Simpósio Internacional de Iniciação Científica na Universidade de São Paulo (USP) e no Seminário de Iniciação Científica da própria Uefs.
Antes de concluir a graduação fui aprovado no curso de mestrado em história social do trabalho da Unicamp com um projeto de pesquisa cujo tema estava diretamente relacionado às questões do mundo do trabalho. Do mesmo modo, antes de concluir o mestrado, consegui aprovação no curso de doutorado em história social da cultura também na Unicamp.
Edufba: Esta obra traz informações até então pouco abordadas, mas fundamentais para a compreensão da história do final do século 19 e início do século 20. Em suma, quais são essas informações e por que abordá-las?
Robério Santos: Os conflitos vivenciados pelos trabalhadores nesse período histórico revelam muitas questões fundamentais e muitos dos desafios presentes na sociedade brasileira. Dentre elas, podemos citar os embates relacionados às tentativas de exploração, de controle e de disciplinarização da força de trabalho. Nesse processo, subjugar e manter sob controle o tempo, a autonomia e a liberdade dos trabalhadores era, assim, uma questão central para os patrões e para as elites, muitos deles ex-senhores de escravos.
Na Bahia, como em muitas regiões do país, diversos trabalhadores resistiram bravamente às formas de exploração corporificadas em relações de trabalho que remetiam ou lembravam o regime escravista, e as tentativas abertas e veladas de manter sob domínio as suas liberdades. Por essas e outras questões, as ações e lutas empreendidas pelos trabalhadores de várias partes do Brasil, das ferrovias baianas inclusive, no contexto do pós-abolição, são fundamentais para a compreensão de uma parte importante da história social brasileira.
Edufba: Por que a construção da estrada de ferro que liga a Bahia ao São Francisco foi escolhida como um ponto de partida para aprofundar suas discussões sobre as relações de trabalho no Brasil?
Robério Santos: Pois resolvi, como estratégia analítica, desenvolver um capítulo sobre as origens e a trajetória de constituição dessa empresa ferroviária. A história dessa estrada de ferro remetia ao século 19, e também era o primeiro empreendimento ferroviário baiano e o terceiro ou quarto no país.
Edufba: Como você vê a organização da classe trabalhadora e a luta por seus direitos atualmente?
Robério Santos: Mesmo após a conquista de determinados direitos trabalhistas, hoje garantidos na legislação, a exemplo da regulamentação de horas de serviço, salubridade, direito a férias e descanso, a classe trabalhadora ainda se vê impelida a continuar na luta por melhores condições de vida e trabalho. Apesar de certa desmobilização observada em alguns setores da classe trabalhadora, diversos grupos de operários, reunidos majoritariamente em sindicatos, desafiam as tentativas de neutralização e criminalização de suas ações sindicais, encetam estratégias de mobilização e organizam movimentos grevistas e reivindicatórios em todo o Brasil em defesa de direitos trabalhistas que estão ameaçados e, também, na luta por novas conquistas, a exemplo de melhorias salariais e redução da jornada de trabalho.
Edufba: Há planos para a publicação de novos livros? Algum projeto novo em andamento?
Robério Santos: Ideias e projetos de pesquisas que podem resultar em livros sempre existem. Atualmente, desenvolvo uma tese de doutorado sobre as relações de trabalho no período da escravidão. Nesse novo projeto, dentre outras frentes de análise, a ideia é enfatizar as ambiguidades vivenciadas pelos trabalhadores no contexto da sociedade escravista da segunda metade do século 19.