A Região Metropolitana de Campinas (RMC) ganhou 21.187 novos imigrantes internacionais em 15 anos, segundo o Atlas Temático do Observatório das Migrações em São Paulo, lançado neste mês pelo Observatório das Migrações em São Paulo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
As informações são referentes aos cadastros de imigrantes internacionais no Registro Nacional de Estrangeiro (RNE) entre 2000 e 2015, segundo o município de residência. O número de imigrantes na Capital paulista (256.979) cadastrados nos 15 anos analisados representa 65,67% do total do Estado (391.282). Excluídos os residentes na cidade de São Paulo, a RMC abriga 15,77% do restante destes estrangeiros.
Além disso, segundo a cientista social Rosana Baeninger, uma das organizadoras do estudo, Campinas é a segunda cidade no Estado com mais imigrantes internacionais cadastrados entre 2000 e 2015. O município é o local de moradia de mais da metade deste novo grupo (13.845) na RMC. Na sequência aparecem Indaiatuba, com 1.607, Americana (1.482) e Sumaré (961).
"Desse total desses imigrantes que chega na Região Metropolitana de Campinas, a maior parte é imigrante com mão de obra qualificada para as empresas transnacionais. A mesma coisa acontece em São Paulo. De um lado, mostra o vigor da região metropolitana, a inserção dela na economia global, com migrantes particularmente qualificados. Tem americanos, alemães, franceses, coreanos, chineses nessa mão de obra qualificada. Mas, ao mesmo tempo, tem uma mão de obra que eu tenho denominado de sul-sul, que também acompanha esse movimento do capital internacional, com menor especialização", explicou a pesquisadora do Núcleo de Estudos de População Elza Berquó, da Unicamp. O termo sul-sul é utilizado para denominação do fluxo migratório concentrado no hemisfério sul.
Outro fator que atrai a vinda dessa população para o interior e Campinas é o aumento na facilidade para a emissão documentações que regularizem a condição migratória, explica Rosana.
"No caso dos latino-americanos, particularmente, a partir de 2009, com o acordo de residência com o mercosul, [...] ele [imigrante] tem visto temporário e pode trabalhar. Então, isso também aumenta essas migrações entre os municípios e esse deslocamento da Capital para o Interior. Por outro lado, os imigrantes internacionais que não são latino-americanos podem solicitar refúgio", exemplificou.
Venezuela
Em meio à crise humanitária vivida na Venezuela, Campinas tem recebido pessoas do país vizinho em busca de uma vida melhor, conforme mostrou reportagem da EPTV, afiliada da TV Globo, em março. "Nós também somos seres humanos, precisamos muito de ajuda. E as pessoas estão em más condições [...] Pelo menos o Brasil está ajudando nesse aspecto", contou uma das imigrantes Ana Mercedes. A estimativa é de que a cidade abrigue hoje cerca de 70 pessoas que deixaram o território venezuelano.
Síria
Nesrin Al Kharrat, o marido e os filhos fugiram da guerra da Síria para a região de Campinas há três anos. Por um ano, a família viveu em Hortolândia, mas depois se mudaram para Campinas, onde abriram um negócio próprio. "Tá bom. Bom de trabalho, tem um restaurante na Vila Pompéia, crianças na escola", contou. Ela aponta que receberam pouco auxílio do poder público local, mas diz que pretende ficar na cidade, por causa do mercado de trabalho oferecido.
Estrutura de acolhimento
Em relação à estrutura de acolhimento ao imigrante na região, principalmente os que fazem a rota sul-sul, a pesquisadora Rosana Baeninger aponta que ainda há uma carência.
"O que o atlas revela [...] é que os municípios que não a Região Metropolitana de São Paulo, que não o município de São Paulo, têm poucas organizações governamentais ou não governamentais de atendimento aos imigrantes", citou.
Ela ainda ressaltou que o Atlas revela que dos 645 municípios do Estado, 580 registraram novos imigrantes. "[Municípios] de todos os tamanhos. E que vão se deparar com uma migração não branca, não europeia, algumas vezes indígena, boliviana, venezuelana, latino-americana. Então, é preciso que o Estado e a sociedade percebam que hoje se trata de novos fluxos imigratórios", detalhou.
A cientista social concluiu que a única maneira de preparar a sociedade para a chegada desses imigrantes é criando políticas sociais. "A partir do momento que esse imigrante possa também estar no mesmo espaço público que um natural é que nós vamos diminuir a distância entre nós e os outros e seremos geradores de transformações estruturais da sociedade, na recepção e nas relações sociais com imigrantes internacionais".
Interiorização
Dados revelado no pré-lançamento do estudo, em 22 de fevereiro, apontam para uma maior interiorização do fluxo migratório no novo século.
Autor/Fonte: Globo.com