Notícia

Gazeta Mercantil

Riscos para a competitividade brasileira

Publicado em 11 junho 1996

Por Vera Saavedra Durão - do Rio
A América Latina e em particular o Brasil correm o risco de perder terreno na economia mundial, andando para trás e se tornando exportadores de bens primários, como aconteceu com o Chile, caso não adotem uma estratégia de médio e longo prazo capaz de lhes garantir uma base de competitividade num mundo globalizado. O alerta veio do economista alemão Dirk Messner, da Universidade de Duisburg, em palestra no Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) sobre "Competitividade Sistêmica". Messner não tem uma visão tão dramática da economia brasileira como a do americano Rudiger Dornbusch, mas se preocupa com o Brasil. "O País perde tempo ao não se dedicar a desenvolver uma política econômica mais ativa no médio e longo prazo para assegurar a competitividade de sua sociedade no futuro". Seu diagnóstico é de que as reformas macroeconômicas em curso em países latino-americanos, como Argentina, Chile, México e o próprio Brasil, não serão suficientes para tornar estas economias competitivas no longo prazo, pois isto requer investimentos em setores diversos, como os de tecnologia, educação, capacitação técnica e profissional. "O perigo é que o modelo neoliberal, focado na macroeconomia e num crescimento moderado e sem industrialização, possa debilitar os países do continente, tornado-os frágeis para enfrentar a concorrência externa e transformando-os em exportadores de produtos com pouco valor agregado. Apesar do sucesso de seu modelo econômico, o Chile vem reduzindo seu espaço no comércio mundial porque sua pauta de exportação é composta basicamente de produtos primários, de pouco valor agregado. "Os chilenos hoje vendem ao exterior madeira, cobre e frutas. Em 1970, este país tinha uma participação de 0,35% nas exportações internacionais, que caiu para 0,28% nesta década porque investe pouco em pesquisa e desenvolvimento", relatou Messner. Na América Latina, inclusive no Brasil, investe-se, em média, apenas 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em desenvolvimento tecnológico e "know-how", o que explica o fraco desempenho exportador do Chile. Já os países da Ásia gastam 3% de sua produção nestes segmentos. Na Alemanha e demais países da Europa também se aplicam 3% dos recursos da produção em inversões tecnológicas. . Tais números sinalizam a distância entre as economias bem-sucedidas e as latino-americanas. A Ásia e a Europa, por exemplo, só produzem e vendem mercadorias de alto valor agregado. Segundo Messner, na Coréia do Sul, país com 40 milhões de habitantes, exportam-se mais manufaturados/ano do que todo o continente latino-americano. E o faturamento chega a US$ 100 bilhões/ano. A maior parte das vendas externas coreanas são de produtos de alta tecnologia. "A América Latina vende menos de US$ 40 bilhões/ano desse tipo de produto", revelou. Para atingir um padrão razoável de competitividade, a América Latina não pode perder tempo, receita Messner. "Junto com a política de estabilização, suas economias devem ter um plano estratégico de longo prazo e tocá-lo adiante, pois a competitividade perpassa diferentes setores da economia, não apenas a macroeconomia. E exige estratégias setoriais para ramos da indústria com alto potencial de exportação e de desenvolvimento econômico." "É preciso criar um "entorno" empresarial eficiente, entendido como a aplicação de recursos em tecnologia, capacitação técnica dos trabalhadores e educação básica com cooperação entre setor público e privado", completa. Os países bem-sucedidos na economia mundial, como os "tigres" asiáticos, trabalham muito para preparar o "entorno" empresarial. A Coréia do Sul lançou recentemente seu Programa 2010 onde vai investir bilhões de dólares em desenvolvimento tecnológico e capacitação técnica nos setores de microeletrônica e biotecnologia até o ano 2010, contou o especialista. A seu ver, a América Latina tem de correr para não perder o bonde da globalização.