A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp) está comemorando os cinco anos do programa Biota, criado com o objetivo de promover o levantamento e a caracterização da biodiversidade do Estado de São Paulo. Os pesquisadores que trabalham em mais de 50 projetos incluídos no programa padronizam amostras, produzem e armazenam informações relevantes para a conservação e o uso sustentável da natureza, para entender os processos que geram e mantêm a biodiversidade.
O programa Biota destina-se a subsidiar estratégias públicas de planejamento ambiental e envolve mais de 400 profissionais de instituições de pesquisa do Estado de São Paulo. Outros 70 pesquisadores de outros Estados e aproximadamente 50 do exterior também participam dos projetos.
Para marcar os cinco anos de existência do projeto, a Fapesp organizou a exposição Biodiversidade do Estado de São Paulo: Cores e Sombras, aberta no dia 1 de junho, no Centro Cultural Citibank, na Avenida Paulista. A partir de agosto e até janeiro de 2005, a exposição será levada a outras regiões da cidade de São Paulo, em unidades do Serviço Social do Comércio (Sesc), em Itaquera e Interlagos, e para alguns municípios do Estado, como Campinas, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto e Bertioga.
A mostra traz informações sobre a mata atlântica e o cerrado, os dois grandes biomas paulistas. Textos didáticos, mapas e imagens de satélites revelam a situação atual e a distribuição dos ambientes aquáticos, dos centros urbanos e da vegetação nativa remanescente nessas áreas. A exposição foi organizada de maneira que o público conheça os ecossistemas a partir do mar, como se seguisse do litoral ao interior do Estado.
Carlos Alfredo Joly, professor de Ecologia Vegetal do Departamento de Botânica da Universidade Estadual de Campinas e coordenador do programa, considera altamente satisfatórios os resultados obtidos até agora e acredita que a experiência poderia ser estendida em escala nacional: "Sem dúvida, o sistema desenvolvido pelo Biota poderá ser ampliado para outros Estados e regiões do país. Só falta a vontade política do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Ciência e Tecnologia."
Anualmente, o programa Biota/Fapesp é avaliado por um conjunto de pesquisadores do exterior, que vem ao Brasil para acompanhar o desempenho do programa e dos projetos individualmente. A última avaliação foi em dezembro de 2003 e pela conclusão do relatório desse Comitê de Avaliação dá para se ter uma boa idéia do que o Biota representa: "O nível das pesquisas do programa Biota é de alta qualidade e, em alguns casos, se equipara ou supera outros existentes em vários países. Em diversos aspectos, esse programa fornece exemplos e estabelece padrões que muitos países ficariam felizes em seguir. Respeitosamente, gostaríamos de sugerir ao governo brasileiro que considere a possibilidade de tomar o Biota como exemplo para um outro programa nacional que alcance todas as regiões do Brasil."
O programa Biota/Fapesp obedece a uma série de metas estabelecidas que incluem o estudo e a divulgação da biodiversidade local, a compreensão dos processos geradores, mantenedores e impactantes da biodiversidade e a ampliação da capacidade das organizações públicas e privadas de gerenciar, monitorar e utilizar a biodiversidade. Todas essas tarefas estão ligadas à meta principal que é a de inventariar e caracterizar a biodiversidade do Estado, definindo os mecanismos para sua conservação, o potencial econômico e a utilização sustentável. Estão previstas, ainda, as seguintes etapas:
- Desenvolver bases metodológicas e padrões de referência para estudos de impacto ambiental;
- Produzir estimativas de perda de biodiversidade em diferentes escalas espaciais e temporais;
- Subsidiar a tomada de decisão sobre projetos de desenvolvimento, especialmente os de desenvolvimento sustentável;
- Capacitar o Estado e as organizações públicas e privadas para se beneficiar do uso sustentável de seus recursos biológicos genéticos;
- Capacitar o Estado para estimar o valor da biodiversidade e de seus serviços, tais como conservação de recursos hídricos, controle biológico ete;
- Capacitar as instituições do Estado a atender a disposições e instrumentos legais referentes a organismos vivos, tais como o depósito de espécimes.
Uma nova rede, a BIOprospecTA, foi criada para melhor cooperação e integração de pesquisadores e instituições paulistas ligadas ao Biota. O propósito é fazer bioprospecção e ampliar de forma sistemática e organizada o universo de espécies estudadas por meio de bioensaios. O foco da rede será a biodiversidade de São Paulo, abrangendo os microorganismos, a flora e a fauna, terrestre ou aquática, do Estado.
São Paulo possui, atualmente, uma população de 35 milhões de habitantes, aproximadamente 22% da população brasileira, uma densidade demográfica de 135 habitantes por quilômetro quadrado, quatro grandes áreas metropolitanas e a mais complexa rede urbana da América Latina. O Estado poderá atingir 50 milhões a 60 milhões de habitantes no ano de 2010. Num raio de 250 km do centro da cidade de São Paulo, a densidade demográfica supera 500 habitantes por km2, muito superior a países como Alemanha, Japão, Inglaterra e Itália.
A grande densidade demográfica, aliada á expansão não planejada das áreas urbanas, gera problemas como falta de água potável disponível, incapacidade de tratamento de todo o esgoto doméstico e ocupação de áreas de conservação e de mananciais, por exemplo. O Estado de São Paulo é formado, basicamente, pelos biomas mata atlântica e cerrado. A importância desses ecossistemas foi reconhecida com a inclusão de ambos na lista de regiões biologicamente mais ricas e ameaçadas do planeta, organizada pela Conservation International.
Cerca de 13,4% do território do Estado é constituído de mata natural. Desses, 85% são classificados como mata e capoeira; 9%, como as diferentes fisionomias do cerrado; e 4%, entre várzea, restinga, mangue e vegetação não classificada. Cerca de 60% da área remanescente de mata natural localiza-se na região litorânea. Entre 1962 e 1992, a perda de vegetação foi de 57,13%, índice considerado alarmante.
A dificuldade de conservação da fauna paulista e o grande número de animais em perigo de extinção também refletem essa fragmentação do ambiente: cerca de 60 espécies paulistas aparecem na lista de animais ameaçados de extinção no país.
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