Inspirados no modelo paulista, que resultou no seqüenciamento do genoma da bactéria Xylella fastidiosa, núcleos de pesquisa do RJ vão liderar a pesquisa do genoma da bactéria Gluconacetobacter diazotrophicus.
Responsável por fixar nitrogênio na cana-de-açúcar, a bactéria é alvo da iniciativa que envolve a criação de uma rede de centros seqüenciadores no estado. A primeira fase da pesquisa, que custou R$ 800 mil, inclui dois seqüenciadores automáticos já instalados na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e na UFRJ.
Em 2001, mais três seqüenciadores serão instalados no Instituto de Biofísica da UFRJ, na Uerj e no laboratório da Embrapa Solos.
"Até o fim do ano que vem, o Estado do RJ investirá mais R$ 1,2 milhão no projeto", adianta o secretário estadual de C&T, Wanderley de Souza. Os recursos serão repassados através da Fundação de Apoio à Pesquisa do RJ (Faperj).
Identificada pela equipe da engenheira agrônoma Johanna Dobereiner, da Embrapa Agrobiologia, em Seropedica, a Gluconacetobacter diazotrophicus é o principal recurso natural para a lavoura canavieira fluminense.
Presente da raiz às folhas da cana-de-açúcar, o microorganismo se alimenta de moléculas de carbono e fornece nitrogênio, utilizado pelo vegetal em seu metabolismo.
"Com a bactéria, podemos dispensar o uso de fertilizantes químicos, que são arrastados pela chuva ate' os lençóis freaticos", explica o engenheiro agrônomo Ivo Baldani, da Embrapa Agrobiologia. Com a obtenção do genoma do microorganismo, os pesquisadores esperam fazer com que ele supra toda a necessidade de nitrogênio da cana.
"Ao contrário da Xylella, essa bactéria tem uma fisiologia bastante conhecida, o que facilitara' a aplicação do conhecimento genômico", diz o secretário estadual de C&T.
"Esperamos conhecer os mecanismos biológicos e de infecção da bactéria para torná-la mais eficiente", completa o engenheiro agrônomo Gonçalo Apolinário de Souza Filho, da Uenf.
Segundo Paulo Ferreira, coordenador da pesquisa, uma das possibilidades de melhoramento da bactéria é a manipulação genética. Outras aplicações do conhecimento do genoma poderão ser obtidas em colaboração com o Projeto Genoma da Cana, liderado por SP. "Com os dois genomas, entenderemos como a interação da bactéria e do vegetal acontece", diz Paulo.
Financiado pela Fapesp, o projeto de seqüenciamento da cana-de-açúcar também conta com a colaboração da Uenf. À Universidade cabe o seqüenciamento de 4 mil dos 50 mil genes do vegetal. Os pesquisadores já colocaram em ordem 60% do fragmento e devem concluir o trabalho em dezembro. Depois, a função de cada gene será' estudada pela Uenf e UFRJ.
O primeiro passo para o seqüenciamento da bactéria será' dado no fim do mês, com a assinatura de convênio entre as secretárias estaduais de C&T do RJ e SP. Wanderley pretende, ainda, assinar convênios com o Paraná' e Brasília. (GL)
(Jornal do Brasil, 17/7)
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