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Ao Mestre com Carinho

Resultado afirmativo

Publicado em 13 abril 2009

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP

Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) entre 2003 e 2005 revelou que estudantes provenientes de escolas públicas têm maior potencial acadêmico do que os das escolas privadas, demonstrando melhor desempenho ao longo do curso.

A pesquisa ajudou a orientar a criação do programa de ação afirmativa adotado pela Unicamp em 2004 e, desde então, os autores têm feito o acompanhamento semestral do desempenho dos alunos, utilizando a mesma metodologia.

A conclusão preliminar do acompanhamento é que a medida efetivamente aumentou a porcentagem dos egressos de escolas públicas na universidade, especialmente nos cursos de alta demanda, garantindo a presença de estudantes de pior condição socioeconômica e melhor potencial acadêmico.

O trabalho foi realizado por Renato Pedrosa, do Departamento de Matemática do Instituto de Matemática Estatística e Ciência da Computação (Imecc), José Norberto Dachs e Rafael Maia, do Departamento de Estatística do Imecc, e Cibele Yahn de Andrade, do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas. Benilton Carvalho, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, completou o grupo da Unicamp.

O acompanhamento semestral das turmas, segundo Pedrosa, foi uma das condições exigidas pela universidade para a implantação do programa. "Constatamos que, nas turmas que foram acompanhadas até agora, o resultado tem sido o mesmo: os alunos beneficiados pela ação afirmativa têm o desempenho melhorado ao longo do curso, em relação aos outros".

Logo no primeiro ano do programa a presença de alunos egressos de escolas públicas aumentou 15,4%, passando de 29% para 34%. O maior impacto foi nos cursos de maior demanda.

Eqüidade em estudo

O estudo começou em 2003, quando o debate público sobre políticas de ação afirmativa ganhava corpo diante da constatação de que a maior parte dos alunos das melhores universidades vinha de escolas privadas. Na Unicamp, a proporção de estudantes nessas condições era de cerca de 70%.

"A reitoria consultou a comissão responsável pelo vestibular, da qual eu faço parte, sobre a existência de estudos que justificassem academicamente as políticas de ação afirmativa. Como não havia estudos detalhados, coube a nós tomar a iniciativa", disse Pedrosa.

Pedrosa e Carvalho avaliaram então o desempenho dos cerca de 7 mil estudantes que ingressaram na universidade entre 1994 e 1997 - a maioria dos quais, à época do estudo, em vias de formatura -, comparando a colocação dos alunos no vestibular à colocação alcançada na média total das notas ao fim do curso.

Segundo o professor do Imecc, a comparação indicou que os estudantes provenientes da rede pública melhoravam de posição ao fim do curso, em relação aos estudantes vindos de escolas privadas. Cada curso foi avaliado separadamente.

"Percebendo essa diferença favorável aos estudantes da rede pública, fizemos uma modelagem mais detalhada, transportando a experiência de Norberto Dachs na área de estatística em eqüidade em saúde para observar a questão da eqüidade em educação", explicou.

Pedrosa ressalta que o programa de ação afirmativa, implantado já no vestibular de 2005, não foi diretamente derivado da pesquisa, mas serviu para justificar a adoção e determinar aspectos como, por exemplo, o número de pontos a ser acrescentado à nota do estudante egresso da rede pública.

"Nossa estimativa é que, com a variabilidade estatística da nota, os alunos cujas notas diferem em 10 ou 20 pontos estão, na prática, empatados. Por isso o programa acrescenta 30 pontos aos alunos de rede pública e mais 10 para os pretos, pardos ou índios nessas condições", disse.