A América Latina produz bioenergia de formas que satisfazem o critério de sustentabilidade muito melhor do que muitas senão todas as alternativas energéticas atualmente disponíveis. A região tem potencial para expandir a geração de bioenergia sem comprometer a produção de alimentos, o meio ambiente e a biodiversidade. A realização desse potencial requererá determinação e diligência na criação de conhecimento e em sua aplicação e regulação. A América Latina está pronta para trabalhar com a comunidade global para entender e aperfeiçoar ainda mais os sistemas de bioenergia e ampliar a aplicação dos mesmos de modos que atendam as prementes necessidades humanas.
A América Latina demonstrou potencial para desempenhar um importante papel no fornecimento de biocombustíveis tanto para a demanda local quanto mundial. A produção de biocombustíveis começou como matéria de segurança energética e progrediu rumo a uma indústria sustentável e lucrativa. A América Latina vê o assunto como uma oportunidade para o desenvolvimento econômico e social baseado em três pilares: povo, planeta e proveito. Existe diversidade local de matérias-primas e, presentemente, a cana-de-açúcar é percebida como a principal matéria-prima para a produção sustentável de etanol. Recursos em terras estão disponíveis sem comprometer a segurança alimentar e os ecossistemas.
A América Latina desenvolveu um modelo de biorrefinaria com sistemas crescentemente integrados de cultivos de matérias-primas agrícolas, coprodutos e ampla redução de emissão de gases de efeito estufa. Existem, no mínimo, dois casos bem-sucedidos em que a bioenergia se mostrou sustentável e possibilitou o desenvolvimento. São eles a produção de biodiesel na Argentina e de etanol de cana-de-açúcar no Brasil. O caso brasileiro é notável e relevante para os objetivos do Global Sustainable Bioenergy Project (GSB): 16% do suprimento energético primário total do país vêm da cana-de-açúcar e o etanol de cana-de-açúcar substitui mais de 30% da gasolina, fazendo da cana-de-açúcar a segunda fonte de energia mais importante do país, atrás do petróleo e à frente da hidroeletricidade e da biomassa tradicional. Existe legislação estabelecida, e crescentemente efetiva, que estabelece um zoneamento agroecológico ambientalmente sólido.
A América Latina possui terras, clima favorável, diversidade de opções de matérias-primas e tecnologia que foram estabelecidas regionalmente e podem ser expandidas continentalmente de forma sustentável. A indústria de biocombustíveis é vista como uma oportunidade para o desenvolvimento rural e a criação de empregos. O desenvolvimento de novas tecnologias pode ser um vetor para ampliar a consciência pública sobre temas de sustentabilidade, promovendo novos estilos de vida e um diálogo entre ciência, governo e sociedade.
O apoio governamental é necessário para normatizar políticas comuns, como as certificações de sustentabilidade e de composição. Tecnologias de conversão econômica precisam ser desenvolvidas para responder à diversidade de matérias-primas, escalas e outras circunstâncias locais.
Uma agenda para a pesquisa e o desenvolvimento de recursos humanos é necessária em face de uma realidade social e tecnológica em mudança ? mais especificamente, novas tecnologias para aperfeiçoar cada elo da cadeia produtiva, a produção flexível de coprodutos complementares e ampla sustentabilidade. A redução das barreiras comerciais e o desenvolvimento de padrões internacionais de certificação levariam à emergência de um mercado aberto, com benefícios para a região e o mundo.
Fonte: www.agencia.fapesp.br