Uma pesquisa realizada entre pacientes com asma grave verificou que a característica mais comum entre os portadores da doença é não aderir aos tratamentos. Os resultados revelaram que muitos pacientes com asma grave apresentaram obstrução irreversível, mas o fenótipo clínico mais relevante foi constituído pelos pacientes resistentes ao tratamento habitual, que inclui o uso de corticosteróides.
O objetivo do estudo, publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia, foi estabelecer os fenótipos clínicos (características comuns) em portadores de asma grave. O trabalho, realizado por pesquisadores do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE), identificou quatro tipos de fenótipos. Os mais comuns foram asma “resistente ao tratamento”, “com obstrução persistente”, “associada à rinosinusite alérgica” e “sensível à aspirina”.
De acordo com uma das autoras, Flávia de Almeida Filardo Vianna, coordenadora do Ambulatório de Asma Grave do Serviço de Pneumologia do HSPE, a determinação dos fenótipos de asma grave é importante para melhor entendimento dos mecanismos fisiopatológicos da doença e da resposta ao tratamento.
“É importante identificar esses fenótipos, uma vez que os pacientes apresentam comportamentos semelhantes quanto à evolução, doenças associadas e resposta ao tratamento. Dentre os fenótipos encontrados, o de asma resistente ao tratamento deve ser salientado, por ser de difícil controle e implicar na não-resposta ao uso de corticosteróides”, disse Flávia à Agência Fapesp.
Participaram também do estudo Carlos Alberto de Castro Pereira, diretor do Serviço de Pneumologia do HSPE, e a pneumologista Roseliane de Souza Araújo, do mesmo setor.
Diversos fenótipos têm sido descritos, como os clínicos, inflamatórios e, recentemente, os genéticos. Entretanto, como destaca Flávia, a definição precisa dos fenótipos ainda levanta discussões.
Realizada no ambulatório de asma grave do HSPE, entre 1999 e 2004, a pesquisa teve participação de 111 pacientes. Foram analisadas as fichas de consultas, enquanto o diagnóstico e o seguimento da doença foram feitos por um pneumologista. Os dados referentes aos critérios de controle da doença foram obtidos após três consultas, feitas com intervalo mínimo de três meses.
Os resultados mostram que 88 pacientes foram considerados aderentes e 23 não-aderentes ao tratamento. “Alguns pacientes melhoram e suspendem o tratamento, outros não têm condições financeiras para continuar e parte deles subestima sua doença. Já outros acabam só tratando nas crises”, disse.
De acordo com a pesquisadora, os pacientes resistentes ao tratamento tinham maior freqüência de sintomas noturnos, maior número de exacerbações e uso mais freqüente de broncodilatador de resgate. Aqueles com obstrução persistente tinham idade mais avançada e maior tempo de doença. As pessoas com rinossinusite alérgica geralmente eram não-fumantes com obstrução predominantemente reversível.
O estudo identificou ainda um grupo de asmáticos que inicia as crises quando ingere aspirina ou antiinflamatórios. De acordo com Flávia Vianna, a determinação dos fenótipos clínicos pode servir como ferramenta para melhor entendimento e condução dos casos de asma grave.
“Sugerimos que o tempo de acompanhamento para a determinação da refratariedade da asma ao tratamento seja estendido para cerca de um ano, visando a controlar os fatores desencadeantes e agravantes e a própria inflamação, antes de considerar a asma como resistente. Verificamos que a classificação inicial de gravidade de asma permanece falha, principalmente no que diz respeito à predição do controle final”, alertou.
Fonte: Agência Fapesp