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O Diário (Mogi das Cruzes)

Resíduos poderão alimentar peixes (1 notícias)

Publicado em 19 de junho de 2004

Pesquisadores do Núcleo de Ciências Ambientais (NCA) da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) conseguiram comprovar a eficiência da utilização de resíduos agrários e da indústria de leites como o resíduo de nêspera e o soro do queijo, na preparação de alimentos para uma espécie de peixe, a tilápia (Oreochromis niloticus). Microrganismos, previamente estudados e selecionados, podem crescer utilizando estes resíduos como nutrientes, gerando no final do processo fermentativo proteínas de alto valor nutricional, que são bem assimiladas pelo organismo dos animais. Utilizados em escala industrial, os resultados do estudo permitirão ganho de tempo e economia no preparo de rações. A velocidade na produção da .ração, o valor protéico (equivalente ao da carne de boi) e a economia de matéria-prima são alguns dos principais avanços da pesquisa da UMC. A bióloga Elisa Esposito, coordenadora do projeto, explica que as leveduras, como são conhecidos os fungos unicelulares utilizados na alimentação dos peixes, se reproduzem muito rápido. A do soro do leite, chamada de Kluyveromyces marxianus, leva apenas 10 horas para transformar um litro do substrato em 45 gramas de comida para tilápia. O Brasil terminou à década de 90, de acordo com números obtidos pelos pesquisadores da UMC, produzindo perto de 21 milhões de litros de leite a cada ano. Da parte empregada na produção de queijos, extrai-se o soro, que é desperdiçado. "O fator econômico também deve ser destacado. Afinal, estamos transformando em algo útil e comercialmente aceitável, por ser mais barato, um substrato que ia direto para o esgoto", lembra Elisa. Já a nêspera (aquelas sem qualidade para consumo) é utilizada pelos agricultores como adubo orgânico. "Mas também é um desperdício muito grande, posto que tem mais valor quando utilizado como substrato para o crescimento de microrganismos". Outra das vantagens da transformação de resíduos agrários e da fábrica de laticínios é que, ao utilizar restos industriais que eram despejados in natura nos canais de esgoto, o trabalho serve também para a preservação do meio ambiente. "Acabamos contribuindo para a redução da poluição. O soro não é tóxico, mas como é produzido em grande quantidade, pode contaminar o solo, rios e até o lençol freático", pontua Elisa. Esse viés rendeu a inclusão da pesquisa entre os 40 finalistas do Prêmio Super Ecologia 2004, criado pela revista Superlnteressante, da Editora Abril. (Leia matéria nesta página) Atualmente, a pesquisa está sendo desenvolvida nos laboratórios do NCA, onde as tilápias são mantidas em aquários e alimentadas com as leveduras Kluyveromyces marxianus, crescida às expensas do soro de queijo, e Cândida utilis, no resíduo de nêspera. Em recipientes próprios, as leveduras são semeadas sobre o substrato. "O açúcar contido tanto no soro quanto na nêspera é utilizado como alimento pelos microrganismos, que, assim, transformam o meio na ração que será, depois, dada aos peixes", detalha a bióloga. A pesquisa para a utilização de resíduos na alimentação de peixes começou em 2001 e está sendo financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp). Colaboraram com o trabalho o gestor do NCA, o químico Nelson Durán, e os alunos Georges Emerson Sabra (mestrado), Luiz Carlos Pereira Silva (mestrado), Marina Fonseca Leite (mestrado), Andréa Licia de Almeida Oliveira (doutorado), Willian Villar Garcia (Farmácia) e Cristiéle da Silva Ribeiro (Biologia).