Os testes positivos de uma nova classe de drogas que impede a replicação do vírus da Aids foi a melhor notícia da 3ª Conferência sobre Retroviroses e Infecções Oportunistas, realizada em Washington. Apesar de não eliminar o vírus do organismo, testes realizados durante seis meses reduziram os vírus a quantidades ínfimas em 85% dos pacientes soropositivos que foram submetidos ao teste.
Pesquisadores estão otimistas contra Aids
Nova família de remédios pode impedir a replicação do vírus durante seis meses
WASHINGTON - Desde que comunidade científica se viu obrigada a criar meios para combater o vírus da Aids, um tal clima de otimismo não envolvia o trabalho dos pesquisadores. Ao longo da semana passada, a esperança de vitória sobre o HIV passou a chamar-se, definitivamente, inibidor de protease. A nova classe de drogas chegou perto do controle da doença, mais do que qualquer outra iniciativa anterior - ainda que sem eliminar o HIV do organismo.
A nova família, da qual o remédio Indinavir foi o que melhor resultados apresentou, bloqueia a ação de uma enzima fundamental para a replicação do vírus. Um estudo divulgado durante a 3a Conferência sobre Retroviroses e Infecções Oportunistas, em Washington, mostrou que, por 24 semanas, o Indinavir, associado ao AZT e ao 3TC, impediu o vírus de multiplicar-se, mantendo-o em níveis imperceptíveis em 85% dos pacientes.
"Pela primeira vez, podemos estar próximos de alcançar a supressão quase total do vírus da Aids na maioria dos pacientes", disse o diretor da divisão de pesquisas do laboratório Merk, Emilio Emini. A Merck fabrica a droga.
Duração - Mas o remédio promete mais. Vinte e quatro semanas foi apenas o tempo de duração do estudo. Nada impede que o Indinavir mantenha estes resultados por muito mais tempo, ate ser vencido pela capacidade de mutação do vírus. Além do que, o relato de que um paciente vinha sobrevivendo muito bem, medicando-se com Indinavir há dois anos, causou um princípio de euforia entre os cientistas.
"Os inibidores de protease são notadamente mais potentes do que os antiviróticos de que dispúnhamos anteriormente", disse o diretor do Serviço Americano de Alergias e Doenças Infeccionas, Anthony Fauci. Os novos medicamentos também obtiveram bons resultados em pacientes em fases avançadas da doença. Em um prazo de sete meses, o Ritonavir, do laboratório Abbot, reduziu à metade a mortalidade de doentes desse tipo, quando associado a duas outras drogas.
Replicação - O HIV, como todos os outros vírus, não se reproduz naturalmente, mas usa material genético dos seres vivos que invade para fabricar cópias suas. O vírus da Aids penetra nos linfócitos CD4, um tipo fundamental de célula de defesa do organismo humano.
A classe anterior de drogas, os inibidores da transcriptase reversa, tentam interromper a replicação do vírus dentro da célula. Para usar o material genético do CD4, o HIV depende da enzima transcriptase reversa, que medicamentos como o AZT e o ddI inibem.
O Indinavir, o Saquinavir, o Ritonavir e outros inibidores da protease interferem em uma fase diferente. Para redistribuir o RNA que conseguiu fabricar com material obtido com a destruição do CD4, o HIV depende da protease. Os novos medicamentos impedem que o vírus produza esta enzima. No entanto, apenas o Saquinavir já foi aprovado pela FDA, órgão do governo americano que regulamente a comercialização de drogas e alimentos.
A associação de drogas de diferentes famílias é usada exatamente porque os remédio atuam em fases diferentes do ciclo do vírus, criando uma espécie de peneira dupla. As duas famílias interferem na replicação do vírus e, por isso, dificultam a formação de cópias mutantes, resistentes contra os remédios.
Notícia
Jornal do Brasil