Pesquisa desenvolvida pelo Núcleo de Pesquisa em Doenças Negligenciadas da Universidade Univeritas/UNG, em Itaquaquecetuba, descobriu que o ácido mefenâmico, medicamento utilizado para cólicas menstruais, pode ser eficiente para o tratamento da esquistossomose, doença causada pela infecção por vermes parasitas de água doce de países tropicais e subtropicais. Descoberta realizada pelos pesquisadores Eloi Marcos Lago e Josué de Moraes estuda o reposicionamento de fármacos, ou seja, novos usos para medicamentos já existentes. Mesmo estudo mostrou, ainda, que a substância reduziu em mais de 80% a carga parasitária em camundongos infectados com o verme Schistosoma mansoni.
Segundo os pesquisadores da Univeritas/UNG, esse percentual ultrapassa o “ padrão ouro ” estipulado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para novos medicamentos. Após análises em laboratório e experimentos com animais, serão necessários testes clinicos em humanos para que o anti-inflamatório possa ser receitado para combater a verminose.
De acordo com Eloi Marcos Lago, pesquisador e reitor da Univeritas/UNG, a esquistossomose é uma doença negligenciada, ou seja, é recorrente em locais sem saneamento básico porque é transmitida pelo contato de água com caramujos infectados pelo parasita Schistosoma Mansoni “ Esta doença afeta, em sua maioria, as populações mais pobres e o novo tratamento é uma alternativa barata e acessível ”, explicou o estudioso. De acordo com Moraes, no mundo, mais de um bilhão de pessoas são acometidas por uma verminose e, dentre essas doenças, a esquistossomose é a mais preocupante em termos de morbidade e mortalidade.
“Segundo a OMS, 240 milhões de pessoas têm a doença e, anualmente, essa população precisa ser tratada e nos dispomos de apenas um medicamento, que nem todas as pessoas respondem bem ao tratamento, sendo essa a única alternativa ”, explicou o pesquisador. Ainda segundo Moraes, para suprir essa demanda e a verminose falta de opção, precisaríamos desenvolver uma nova droga e isso custaria em torno de R$ 6 bilhões, valor superior ao orçamento anual de determinados Estados brasileiros, além de demorar uma década para a conclusão.
“Associando apenas uma medicação para tratar milhões de pessoas e o tempo e custo elevado para desenvolver uma nova droga, optamos pelo reposicionamento de fármaco, que é pegar uma medicação que já está disponível no mercado e verificar se ela tem outra finalidade ”, informou o pesquisador. Este estudo de reposicionamento de fármaco desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa em Doenças Negligenciadas da Univeritas/UNG teve início com a análise de 73 não asteroidais comercializados no Brasil e em outros países.
O ácido mefenâmico foi o que apresentou resultados mais promissores como antiparasitário. A descoberta, que teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi publicada na revista EBioMedicine, do grupo Lancet.