Pesquisadores de uma pequena empresa química de Campinas desenvolveram processos de síntese de fármacos destinados ao tratamento de algumas doenças raras e pelo menos três deles deverão chegar ao mercado com preço até 40% inferior às drogas importadas. Um desses fármacos, o alitretinoina utilizado no tratamento de Sarcoma de Kaposi (um tipo de câncer de pele) deverá ser comercializado, pelos cálculos do laboratório, com preço 80 % inferior à droga que é vendida nos Estados Unidos.
"De um total de 17 fármacos que estamos desenvolvendo processos de síntese três deles estão prontos para serem produzidos e estamos negociando a produção com dois laboratórios farmacêuticos", informa o químico Durval Marcos Vieira, da Erythro Assessoria Química. Esses fármacos esta sendo desenvolvidos com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), por meio do Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe). Esse programa financia projetos de pesquisa para o desenvolvimento de produtos e processos tecnológicos inovadores apresentados por pesquisadores ligados a pequenas empresas sediadas no Estado de São Paulo. A Erythron obteve um financiamento de R$ 299,6 mil, utilizados na aquisição de equipamentos.
Os fármacos que estão com processo de síntese em desenvolvimento são mantidos em sigilo, especialmente porque na área que a empresa decidiu investir são poucos os laboratórios que atuam. "Nossa meta é desenvolver processos para substituir importação e atender principalmente os portadores de doenças raras e das chamadas doenças negligenciadas", observa Julien Douglas Spindola. São doenças negligenciadas pela indústria de medicamentos, como esquistossomose, leischmaniose, hanseníase, tuberculose, chagas, malária, dengue, febre amarela e filariose onde boa parte dos medicamentos utilizados nas terapias foi desenvolvida nos anos 40.
No caso da alitretinoina, que segundo Vieira é bastante eficiente no tratamento de Sarcoma de Kaposi, (essa medicação é capaz de curar a doença em 80% dos casos), o preço praticado nos EUA é muito alto. Uma bisnaga de 60 gramas custa cerca de US$ 2 mil, suficiente para três meses de tratamento. O Brasil, diz, não importa essa droga. "Se tivermos a produção local desse fármaco haverá um ganho muito grande para os pacientes", informa Vieira. O Sarcoma de Kaposi é um tipo de câncer que surge como doença oportunista em pacientes com imunodeficiência, especialmente Aids. O laboratório farmacêutico que deverá produz ir esse medicamento já está buscando o registro da droga no Ministério da Saúde, afirma o químico.
A Erythro, com laboratório na Vila Marieta, se dedica à pesquisa e desenvolvimento de processos de sínteses orgânicas e extrativos bioativos. Essa pequena empresa já deu grande contribuição para que o país conseguisse produzir medicamentos para o tratamento da Aids com preços inferiores aos importados. A Erythro desenvolveu processos de síntese do AZT, DDI e outros fármacos antivirais.
Um dos fármacos que já estão prontos para serem produzidos é o procarbazina, um antibiótico utilizado no tratamento de alguns cânceres, como doença de Hodgkin e outros linfomas. A indústria que produzia essa droga interrompeu sua fabricação, deixando muitos pacientes prejudicados e que tiveram que recorrer a importação. A Erythron já desenvolveu o processo de síntese dessa droga e está negociando a produção com uma empresa farmacêutica.
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Diário do Povo