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CREMEPE - Conselho Regional de Medicina do Estado de Pernambuco

Remédio contra a chicungunha

Publicado em 09 novembro 2018

Por Mayra Rossiter

Um estudo realizado no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) mostrou que o medicamento sofosbuvir, usado no tratamento da hepatite C crônica, é capaz de eliminar também os vírus da chicungunha e da febre amarela. “Células humanas infectadas por chicungunha foram tratadas com sofosbuvir. O fármaco eliminou o vírus sem danificar as células. A droga se mostrou 11 vezes mais efetiva contra o vírus do que contra as células”, destaca a biomédica Rafaela Bonotto, uma das autoras da pesquisa, realizada durante o doutorado em Genética e Biologia Molecular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e orientação do professor Lucio Freitas-Junior.

O achado tem relevância para, pois uma epidemia de chicungunha está prevista para os próximos dois anos no Brasil, segundo alertam pesquisadores, com base no modelo de surtos da dengue, que reaparece periodicamente. Se chicungunha tiver o mesmo comportamento, novas ondas epidêmicas não são descartadas.

O artigo sobre as descobertas do sofosbuvir para chicungunha foi publicado na plataforma científica aberta F1000Research. Já o estudo relativo à febre amarela deve ser publicado em breve. “O processo para obtenção de um fármaco é extremamente demorado e caro. O tempo entre o início da pesquisa e a disponibilização do produto no mercado é, em média, de 12 anos. O custo é da ordem de 1,5 bilhão de dólares ou mais. O sofosbuvir é uma droga que passou por todo o processo de aprovação para uso humano. Isso possibilita que ela seja utilizada contra a chicungunha em um a três anos. O custo, estimado em cerca de US$ 500 mil, seria muito menor”, frisa Freitas-Junior.

POTENCIAL

O clínico-geral Carlos Brito, professor da UFPE, tem acompanhado os efeitos da epidemia de chicungunha no Brasil, especialmente em Pernambuco, e concorda que antivirais (como o sofosbuvir) possuem potencial para evitar que o vírus se multiplique. “São medicamentos que podem bloquear o efeito do vírus e evitar que a chicungunha leve à inflamação mais intensa”, comenta Brito, membro do Comitê Técnico de Arboviroses do Ministério da Saúde.

Ainda para o especialista, as pesquisas precisam ir além dos experimentos in vitro (no ambiente de laboratório) para se avaliar melhor a eficácia dos antivirais contra a chicungunha em seres humanos. “Em tese, o quanto mais precoce (no início da infecção pelo vírus) a medicação for administrada, melhor seria o resultado. O problema é que, na maioria das vezes, os pacientes chegam às emergências depois que os sintomas aparecem e, nesses casos, já teria passado o momento ideal para o antiviral agir”, frisa Carlos Brito.

Os autores do estudo ainda não sabem como o sofosbuvi atua em termos moleculares. “O que constamos foi o resultado macroscópico: a eliminação do vírus e a preservação das células. No tratamento da hepatite C, o sofosbuvir se mostrou efetivo. Pode ser que ocorra o mesmo no caso da chicungunha, mas o mecanismo de ação precisa ser elucidado”, destaca Rafaela Bonotto.