A região de Campinas perdeu 7.852 hectares de vegetação nativa últimos dez anos, o equivalente a 78,52 quilômetros quadrados (11,9 mil campos de futebol), chegando ao período 2000/2001 com apenas 205.806 hectares de cobertura vegetal natural - o equivalente 2.058 quilômetros quadrados. Isso significa uma redução de 3,68% em relação a 1990/1991. Enquanto o conjunto do Estado de São Paulo teve um aumento de 2,04% de vegetação nativa, Campinas e mais cinco regiões caminharam na contramão, totalizando uma perda de 73.404 hectares.
Essa constatação é parte do estudo Situação Atual dos Remanescentes da Cobertura Vegetal Natural do Estado de São Paulo, realizado pelo Instituto Florestal - órgão da Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Esse estudo, que quantificou matas, capoeiras, cerrados, cerradões, campos cerrados, campos, várzeas, mangues e restingas, é parte do Programa Biota, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa Estado de São Paulo (Fapesp). O Biota vem mapeando a biodiversidade existente no Estado.
Pelo levantamento, que utilizou imagens orbitais e fotografias aéreas digitais, é possível avaliar o impacto do desmatamento na região: nos 90 municípios que englobam a Região Administrativa de Campinas e onde vivem milhões de 5,3 habitantes, apenas 7,6% da área tem cobertura vegetal natural. Ou seja, dos 27 mil quilômetros quadrados da região, a vegetação nativa está presente em pouco mais de 2 mil quilômetros quadrados.
Embora entre as regiões que mais perderam vegetação nativa a de Campinas tenha sido a que menos perdeu, nem por isso a situação é tranqüilizadora. "A cobertura atual é muito pouco. Nem as áreas de preservação permanente, como margens de córregos e rios, estão recobertas. Precisamos de um trabalho sério para recompor a vegetação", diz Dionete Santin, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora da Comissão Jequitibá.
Já o acompanhamento sistemático que a Embrapa Monitoramento Por Satélite, da Embrapa, vem fazendo, indica uma estabilização no ritmo da degradação da cobertura vegetal nativa na região de Campinas. As diferenças de enfoque podem estar na escala do trabalho. O Instituto Florestal utilizou escalas de 1:50.000 e 130.000, o que dá uma precisão de 100 e 60 metros, diz o pesquisador Evaristo Miranda. "A variação observada pode estai; assim, dentro da margem de erro", avalia.
"A pequena redução tem acontecido mais em função de obras de grande porte, como a recente construção de um shopping na cidade, o prolongamento da Rodovia dos Bandeirantes, a adequação da malha viária regional", avalia o pesquisador Evaristo Miranda.
OBRAS E POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA SÃO OS PRINCIPAIS VILÕES
O aumento dos empreendimentos imobiliários, o crescimento do chamado efeito de bordas nos fragmentos vegetais e a poluição acentuada são os principais fenômenos, conforme a pesquisadora Dionete Santin, que pressionam a redução da vegetação nativa na região de Campinas.
A remoção da cobertura vegetal natural traz conseqüências sérias: reduz a umidade presente no ar, enquanto a impermeabilização do solo reduz a infiltração, o que vai gerara redução de água armazenada no subsolo. Retirando a cobertura vegetal do solo, a atividade humana abre caminho para a erosão acelerada. A erosão consiste na remoção das partículas de solo de regiões mais altas, seu transporte e sua deposição em partes mais baixas do relevo.
O pesquisador Evaristo Miranda observa, no entanto, que os empreendimentos imobiliários não chegam a implicar em grandes pressões porque a legislação é rigorosa e os órgãos de fiscalização e aprovação de loteamentos têm sido rígidos em relação à preservação de vegetações naturais. "A pressão desse setor tem sido muito pequena. O que pesa mais hoje são as queimadas e as grandes obras, os grandes empreendimentos", diz.
Não é o caso da região de Campinas, mais urbanizada. Mas regiões com perfil mais agrícola têm aumentado a quantidade de cobertura vegetal, especialmente por aumento da fiscalização e de consciência ambiental. Miranda observa que regiões como Ribeirão Preto vêm deixando de plantar cana em áreas de preservação permanente e vêm recompondo a mata ciliar. De fato, nos últimos 10 anos, conforme o estudo do Instituo Florestal, houve um aumento de 2,45% na área de cobertura vegetal natural nessa região.
Mas, para a pesquisadora Dionete Santin, fatores como a poluição acentuada (como chuva ácida) têm levado ao isolamento dos fragmentos vegetais de forma cada vez mais acentuada. "A impossibilidade de contato entre as matas vai condenando os fragmentos e a tendência é diminuir cada vez mais", diz.
Há necessidade de pressões positivas, como, por exemplo, um trabalho efetivo das organizações não-governamentais (ONGs) na fiscalização do desmatamento, aumento de plantios de matas ciliares e projetos de recuperação de áreas degradadas. (MTC)
GANHOS E PERDAS
REGIÃO ADMINISTRATIVA
REGIÕES QUE GANHARAM
Vale do Paraíba
Litoral
São Paulo
Presidente Prudente
Ribeirão Preto
REGIÕES QUE PERDERAM
Araçatuba
São José do Rio Preto
Bauru
Marília
Sorocaba
Campinas
Notícia
Correio Popular (Campinas, SP)