Uma pesquisa feita por doutorandos do curso de Geografia da Unesp de Presidente Prudente, no oeste paulista, mostrou que a região de Araçatuba está entre as regiões do Estado de São Paulo que tem a mais alta incidência e permanência da dengue.
Além da nossa região, a dengue também está muito presente nas regiões de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto. Em Araçatuba, até agora, segundo o último levantamento da prefeitura, a cidade registrou 574 casos de dengue em 2016, número bem abaixo se comparado com os casos contabilizados nos últimos anos.
A pesquisa, que teve apoio da Fapesp e do CNPq, foi defendida pelos pesquisadores no departamento de Geografia da Unesp de Presidente Prudente. Rafael Catão foi o autor da tese.
No trabalho, ele apresenta um panorama detalhado dos casos de dengue em todo o Estado de São Paulo. Segundo ele, diferentemente do que ocorreu com o vetor, a doença se difundiu por saltos, em que a hierarquia urbana associada às características ambientais (temperatura e altitude) orientaram a difusão. "Cidades de porte maior do interior do Estado, e em áreas com temperatura e altitude favorável, receberam a doença antes da sua região de entorno e a espalham na sua rede mais próxima", explica.
O principal objetivo do trabalho foi o de compreender quais áreas do Estado não possuíam casos de dengue, ou que possuíam casos e taxas muito abaixo da média. Para tanto, o pesquisador analisou o movimento da doença, associado com a intensidade de casos, para diagnosticar as áreas mais ou menos favoráveis para a ocorrência da doença.
"Essa compreensão está inserida dentro do movimento que a doença fez dentro do Estado (processo de difusão). Primeiramente ocupou as áreas mais propicias do interior, e depois, foi se espalhando para as menos favoráveis, como as de maior população rural, as mais altas e mais frias", ressalta.
O mapeamento começou a ser feito em 1990 com base nos registros de casos oriundos dos centros de saúde, por meio de notificação compulsória, e que são consolidados nos municípios e Estados. "Toda vez que alguém é diagnosticado com dengue gera uma notificação e um acompanhamento que vai ver se confirmar como dengue ou não", diz. "Mapeamos o número de casos por município, desde o primeiro registro, e, posteriormente analisamos a taxa de incidência por cem mil habitantes. Para o Aedes aegypti utilizamos dados municipais da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), desde o primeiro registro em cada município", conta.
Para os mapas espaço-temporais, o pesquisador usou algumas técnicas mais avançadas, como a coleção de mapas, mapeamento de síntese, análise de superfície de tendência e Krigagem, que possibilitam entender a direção, velocidade e o processo de difusão, mostrando de onde veio, e o caminho que tomou.
"Os mapas sínteses possibilitam, ainda, o cruzamento com mais variáveis, como clima, densidade demográfica, proximidade de rodovias, população urbana, entre outras, e permite visualizar padrões espaciais e possíveis respostas no tocante à intensidade e a difusão", aponta.
TRIÂNGULO DA DENGUE
A combinação destes dados, segundo o pesquisador, apresentou o seguinte panorama. No Estado, a região oeste - o triângulo entre Araçatuba, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto - têm uma alta incidência e permanência da doença, assim como a Região Metropolitana de Campinas e da Baixada Santista. As cidades de Bauru, Marília e Vale do Paraíba, apesar da recente difusão do vírus da dengue, apresenta uma alta incidência. A região metropolitana de São Paulo possui um grande número de casos, contudo, por conta da sua população, não apresenta uma taxa muito alta.
A região que apresenta menos casos é a região sul do Estado (entre Botucatu, Itapetininga e o Vale do Ribeira); as áreas mais altas como a de Bragança Paulista, Atibaia, Campos do Jordão; e as da Serra do Mar, nas proximidades do Vale do Paraíba.
O MOSQUITO NO ESTADO
A dengue é uma doença que parece controlada, mas continua existindo no país e no Estado de São Paulo. Existia no começo do século 20 mas desapareceu por conta o combate ao Aedes aegypti no controle da febre amarela urbana. Porém, o mosquito foi reintroduzido no final da década de 1970 e chegou em São Paulo em meados da década de 1980.
Inicialmente o vetor apareceu com focos isolados que permitiam o controle. Depois, surgiu com uma maior abrangência e maior penetração nos municípios.
A doença surge com maior força no Estado, de maneira autóctone, em 1987, com uma epidemia em Guararapes e Araçatuba, no oeste do Estado. Esse surto foi esporádico, não tendo mais desdobramentos. Em 1990, outra epidemia se inicia em Ribeirão Preto e municípios vizinhos. Ela inaugura a fase em que o vírus da dengue se torna endêmico no Estado.