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O Liberal Regional (Araçatuba, SP) online

Região de Araçatuba tem um dos mais altos índices de incidência e permanência da dengue (1 notícias)

Publicado em 28 de maio de 2016

Uma pesquisa feita por doutorandos do curso de Geografia da Unesp de Presidente Prudente, no oeste paulista, mostrou que a região de Araçatuba está entre as regiões do Estado de São Paulo que tem a mais alta incidência e permanência da dengue.

Além da nossa região, a dengue também está muito presente nas regiões de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto. Em Araçatuba, até agora, segundo o último levantamento da prefeitura, a cidade registrou 574 casos de dengue em 2016, número bem abaixo se comparado com os casos contabilizados nos últimos anos.

A pesquisa, que teve apoio da Fapesp e do CNPq, foi defendida pelos pesquisadores no departamento de Geografia da Unesp de Presidente Prudente. Rafael Catão foi o autor da tese.

No trabalho, ele apresenta um panorama detalhado dos casos de dengue em todo o Estado de São Paulo. Segundo ele, diferentemente do que ocorreu com o vetor, a doença se difundiu por saltos, em que a hierarquia urbana associada às características ambientais (temperatura e altitude) orientaram a difusão. "Cidades de porte maior do interior do Estado, e em áreas com temperatura e altitude favorável, receberam a doença antes da sua região de entorno e a espalham na sua rede mais próxima", explica.

O principal objetivo do trabalho foi o de compreender quais áreas do Estado não possuíam casos de dengue, ou que possuíam casos e taxas muito abaixo da média. Para tanto, o pesquisador analisou o movimento da doença, associado com a intensidade de casos, para diagnosticar as áreas mais ou menos favoráveis para a ocorrência da doença.

"Essa compreensão está inserida dentro do movimento que a doença fez dentro do Estado (processo de difusão). Primeiramente ocupou as áreas mais propicias do interior, e depois, foi se espalhando para as menos favoráveis, como as de maior população rural, as mais altas e mais frias", ressalta.

O mapeamento começou a ser feito em 1990 com base nos registros de casos oriundos dos centros de saúde, por meio de notificação compulsória, e que são consolidados nos municípios e Estados. "Toda vez que alguém é diagnosticado com dengue gera uma notificação e um acompanhamento que vai ver se confirmar como dengue ou não", diz. "Mapeamos o número de casos por município, desde o primeiro registro, e, posteriormente analisamos a taxa de incidência por cem mil habitantes. Para o Aedes aegypti utilizamos dados municipais da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), desde o primeiro registro em cada município", conta.

Para os mapas espaço-temporais, o pesquisador usou algumas técnicas mais avançadas, como a coleção de mapas, mapeamento de síntese, análise de superfície de tendência e Krigagem, que possibilitam entender a direção, velocidade e o processo de difusão, mostrando de onde veio, e o caminho que tomou.

"Os mapas sínteses possibilitam, ainda, o cruzamento com mais variáveis, como clima, densidade demográfica, proximidade de rodovias, população urbana, entre outras, e permite visualizar padrões espaciais e possíveis respostas no tocante à intensidade e a difusão", aponta.

TRIÂNGULO DA DENGUE

A combinação destes dados, segundo o pesquisador, apresentou o seguinte panorama. No Estado, a região oeste - o triângulo entre Araçatuba, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto - têm uma alta incidência e permanência da doença, assim como a Região Metropolitana de Campinas e da Baixada Santista. As cidades de Bauru, Marília e Vale do Paraíba, apesar da recente difusão do vírus da dengue, apresenta uma alta incidência. A região metropolitana de São Paulo possui um grande número de casos, contudo, por conta da sua população, não apresenta uma taxa muito alta.

A região que apresenta menos casos é a região sul do Estado (entre Botucatu, Itapetininga e o Vale do Ribeira); as áreas mais altas como a de Bragança Paulista, Atibaia, Campos do Jordão; e as da Serra do Mar, nas proximidades do Vale do Paraíba.

O MOSQUITO NO ESTADO

A dengue é uma doença que parece controlada, mas continua existindo no país e no Estado de São Paulo. Existia no começo do século 20 mas desapareceu por conta o combate ao Aedes aegypti no controle da febre amarela urbana. Porém, o mosquito foi reintroduzido no final da década de 1970 e chegou em São Paulo em meados da década de 1980.

Inicialmente o vetor apareceu com focos isolados que permitiam o controle. Depois, surgiu com uma maior abrangência e maior penetração nos municípios.

A doença surge com maior força no Estado, de maneira autóctone, em 1987, com uma epidemia em Guararapes e Araçatuba, no oeste do Estado. Esse surto foi esporádico, não tendo mais desdobramentos. Em 1990, outra epidemia se inicia em Ribeirão Preto e municípios vizinhos. Ela inaugura a fase em que o vírus da dengue se torna endêmico no Estado.