Pesquisadores do câmpus de Pirassununga, da Univeridade de São Paulo (USP), desenvolveram uma rede sem fio (wireless) que é testada no monitoramento de bovinos. A tecnologia é inédita no Brasil e já tem reconhecimento internacional, pois seus resultados acabam de ser publicados numa revista científica norte-americana. A partir do invento e sua colocação no mercado, a expectativa é que brevemente o sistema de sensores inteligentes se torne um eficiente aliado da pecuária brasileira.
Os testes são realizados no Laboratório de Física Aplicada e Computacional (Lafac) da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA). O wireless floating base sensor network protocol (FBSN), como foi denominado o sistema, é composto de uma rede de sensores móveis que captam os sinais elétrico-cerebrais de bovinos. A pesquisa surgiu a partir da tese de mestrado da aluna Ana Carolina de Souza Silva, que teve como orientador o professor Ernane Costa, que também coordena o projeto.
A pesquisa demorou dois anos para ser desenvolvida. Em cada animal é instalado um sensor sob a pele ou fixado na orelha - do tamanho de uma moeda de 10 centavos, capazes de indicar a localização de cada animal. Sensores pouco maiores, do tamanho de uma caixa de fósforos, podem captar reações cerebrais do animal e controlar sua temperatura, por exemplo. Estudos com este tipo de monitoramento já foram realizados com sucesso.
"A idéia surgiu da necessidade de monitorar o estresse de bovinos e medir suas variáveis fisiológicas. Mas sem se aproximar do animal, pois poderia comprometer seu estado", adiantou Costa. A base da tecnologia foi assim explicada: "Enquanto as redes wireless convencionais são controladas por uma estação de rádio com base fixa, nosso sistema é composto de sensores móveis que formam uma rede. Os sensores comunicam-se entre si e transmitem as informações para uma base principal".
Compatibilidade e mercado
No sistema desenvolvido no Lafac, um computador centralizará as informações enviadas via rede sem fio. "Caso um boi se desgarre do rebanho, a capacidade de comunicação dos sensores permite que um sinal seja encaminhado a um computador central, que alertará sobre a ausência", exemplificou. A tecnologia pode ser adaptada e usada para outras finalidades, como na função de alarmes inteligentes e em operações militares, ou para registros de deslocamentos de tropas.
Os pesquisadores finalizam acordo para prestar assistência a uma empresa do setor agrícola, que irá implantar o sistema em pivôs de irrigação. Isso porque é comum em grandes plantações ocorrer roubos de peças destes equipamentos, sendo que a rede de sensores permitiria a detecção. Conforme Costa, a tecnologia poderá ser implantada e disponível em mercado dentro de seis meses a um ano.
O sistema foi desenvolvido ao custo de R$ 42 mil, com verba cedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Caso fosse feito sobre encomenda por uma empresa especialista na área, o valor atingiria R$ 133,4 mil. O preço reduzido foi obtido a partir da adaptação de tecnologias e equipamentos. Mais informações pelo e-mail: ernane@usp.br.
Notícia
Folha de S. Paulo - Vale (São José dos Campos)