Quatro milhões de toneladas de papel são recicladas anualmente no Brasil, um volume equivalente a 43,5% do total consumido no país em 12 meses. De acordo com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), esse número pode aumentar com o melhor aproveitamento de nichos de materiais, como os livros didáticos usados por alunos de escolas particulares e públicas, principalmente as últimas, nas quais os exemplares são repassados no final de cada série a novos alunos e descartados somente após três anos de uso.
Segundo dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), quase 138 milhões de exemplares foram distribuídos em 2011.
Considerando as características médias do livro, ou seja, papel miolo com gramatura de 75 g/m², formato de 20,5 x 27,5 cm e 200 páginas, um total de 123 mil toneladas de papel tem potencial para reciclagem.
Por conta disso, o IPT realizou um projeto de pesquisa em amostras do miolo e da capa dos livros que mostrou a viabilidade do reaproveitamento do papel em produtos de maior ou menor valor agregado.
O projeto do Laboratório de Papel e Celulose foi proposto para preencher uma lacuna em estudos específicos sobre a reciclagem dos livros didáticos. Grande parte deles é impressa em quatro cores e tem lombada quadrada e miolo fixado com cola de poliuretano.
Para um reaproveitamento eficiente, a reciclagem deve promover a remoção dos pigmentos coloridos e da cola a fim de evitar a criação no papel reciclado dos chamados.
De acordo com o IPT, embora represente uma redução no uso de recursos naturais, a reciclagem é um processo mais complexo em comparação à obtenção de fibras virgens porque os papéis a serem recuperados consistem geralmente em uma mistura de diferentes fontes.
Eles têm ainda em sua composição uma série de contaminantes, como corantes, revestimentos, tintas de impressão, laminações e adesivos, e materiais que acabaram sendo misturados durante o ciclo de vida ou coleta, como clipes, arames, elásticos e impurezas.
Para a realização do estudo, a equipe do laboratório do IPT selecionou aleatoriamente livros didáticos procedentes de seis editoras diferentes. Foram retiradas as lombadas dos exemplares para a obtenção das aparas e evitar o contato com a seção do livro na qual se encontrava a cola.
Os pesquisadores trabalharam no projeto com dois tipos de amostras, uma formada apenas por aparas do miolo e outra com aparas do miolo e das capas. Os ensaios foram feitos considerando-se dois processos de reciclagem para o estudo, um deles somente da desagregação das amostras e o outro englobando as operações de cozimento em solução alcalina e destintamento.
A equipe do laboratório utilizou no projeto uma série de equipamentos adquiridos no projeto de modernização do IPT, com destaque para a célula de destintamento por flotação, que é o principal método para a reciclagem de materiais impressos pela sua capacidade de retirar partículas hidrofóbicas, ou seja, aquelas que repelem a água.
As características semelhantes das amostras de livros didáticos usadas nos ensaios permitiram a geração de aparas mais homogêneas, o que facilitou os trabalhos de reciclagem.
Segundo a pesquisa, os processos envolvendo cozimento com solução alcalina e destintamento resultaram em papéis com pouca ou quase nenhuma sujidade e com alvura equivalente à dos papéis empregados na confecção dos livros didáticos.
Já a reciclagem pelo método de desagregação não trouxe resultados tão positivos. Os papéis obtidos apresentaram um alto teor de sujidade, a ponto de impedir a determinação de sua alvura, mas isso não descarta a reutilização: sua aplicação pode ser destinada a produtos como chapas de papelão ondulado e cartões multicamada, que não exigem requisitos de aparência.
Mais informações: www.ipt.br
Escrito por Agência FAPESP