Expressões como zirconato de bário e molibdato de estrôncio estão longe do entendimento do público em geral. Mas substâncias específicas citadas comumente em experimentos de laboratório ganham sentidos totalmente adversos e inesperados quando encaradas pela perspectiva estética.
Na exposição "Nanoarte", iniciativa do professor do Instituto de Química da Unesp Élson Longo e aberta em Franca na Pinacoteca "Miguel Ângelo Pucci" até fevereiro, partículas protagonistas de um universo invisível aos olhos humanos, na casa de milionésimo de milímetro, adquirem formas que, se não lembram um caudaloso rio em meio a uma mata ou um planeta imaginário, intrigam o leigo observador.
"Essas pesquisas são relativamente áridas e quase nunca atraem a atenção do público. Os pesquisadores então tiveram a ideia de atrair jovens para a atividade científica", explica o professor de comunicação e engenheiro Nei Vilela, de São Carlos, curador da mostra com 40 painéis de 50 por 80 centímetros.
Cada uma das obras está avaliada em aproximadamente R$ 1 mil e requer um processo técnico repleto de detalhes, com envolvimento de cientistas de USP, Unesp e UFSCar ligados ao Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos e ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Materiais em Nanotecnologia.
Elevar ao estado da arte substâncias utilizadas na pesquisa de equipamentos eletrônicos e de produção de luz branca é tarefa que demanda, antes de tudo, um microscópio eletrônico de grande potência avaliado em US$ 150 mil ou R$ 280 mil. Além disso, agregam-se os custos dos técnicos de laboratório responsáveis pelas captações e de um software próprio para a ampliação.
As imagens selecionadas são coloridas, de acordo com um senso artístico e científico, explica o curador. "Não é tão artificial. Tem uma lógica. Eles escolhem cores de acordo com determinados comprimentos de onda." Mas o importante é que o resultado final desperte curiosidade e diferentes interpretações. "Para que o público possa fazer suas associações as imagens são polissêmicas", afirma o curador, que também atua na Oficina Cultural Sérgio Buarque de Holanda, em São Carlos.
A nanoarte não é iniciativa exclusiva dos cientistas brasileiros, mas Vilela aponta um diferencial no que as universidades do país têm feito nos últimos dez anos, com circulação pelo exterior, a exemplo de Nova York. "Mantém-se por muitos anos, existe uma continuidade", diz, citando experiências de jovens em São Carlos que descobrem vocações através do trabalho, sobretudo para áreas de física, química e ciência dos materiais.
Nos últimos cinco anos, com o mesmo intuito de atrair novos adeptos da nanotecnologia, a mostra já passou por várias cidades do Estado, como São Paulo e São José dos Campos, com apoio de instituições de fomento à pesquisa como Fapesp e CNPq. "Para que as imagens consigam atrair novos pesquisadores e para que possam atrair o público em geral com uma percepção do surpreendentemente belo."
SERVIÇO
Projeto "Nanoarte"
Local: Pinacoteca "Miguel Ângelo Pucci" (Rua Campos Salles, 2210, Centro - Franca)
Data: até 11 de fevereiro
Horário: 8h às 20h (segunda a sexta-feira); 9h às 13h (sábado)
Informações: (16) 3723-6377