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Rastreamento genético do Plasmodium vivax pode impulsionar vacina e tratamentos contra malária (84 notícias)

Publicado em 27 de julho de 2021

Por Sebastião Moura

Conhecimento gerado pelo sequenciamento de genomas do parasito das regiões mais atingidas pela malária no mundo pode ser usado em estudos sobre vacinas e novas terapias

A malária vivax, causada pelo parasito Plasmodium vivax, é a variedade mais comum da doença fora da África, sendo responsável por 80% dos casos no Brasil. Para ela, ainda não existe vacina. Quase dois terços dos casos envolvendo a espécie se concentram em países do Sul da Ásia e parte da África Oriental, mas, apesar disso, ainda há pouca pesquisa sobre a genética do parasito nessas regiões. Para preencher tal lacuna, um estudo analisou amostras recolhidas de viajantes infectados que retornaram ao Reino Unido vindos dessas áreas endêmicas. Os resultados permitiram rastrear a ancestralidade do parasito e identificar mutações associadas a uma resistência a medicamentos que vem sendo observada.

De acordo com o professor Cláudio Marinho, um dos coordenadores do estudo e chefe do Laboratório de Imunoparasitologia Experimental do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, entender como a diversificação aconteceu e reconhecer as diferentes variedades dessa espécie de protozoário é fundamental para o desenvolvimento de vacinas e para a adequação do tratamento levando em conta as resistências que têm surgido a essas drogas.

Dados da pesquisa encontraram, por exemplo, indícios de que o P. vivax pode estar prestes a desenvolver resistência à artemisinina, fármaco mais potente contra a doença (normalmente utilizado para tratamento de infecções por P. falciparum), o que implica a necessidade da tomada de providências para evitar que as alternativas de tratamento existentes hoje se tornem ineficazes.

“Entender como a diversificação aconteceu e reconhecer as diferentes variedades dessa espécie de protozoário é fundamental para o desenvolvimento de vacinas e para a adequação do tratamento levando em conta as resistências que têm surgido a essas drogas.”

stituto de Ciências Biomédicas colaborou para a pesquisa da London School of Hygiene & Tropical Medicine com amostras de sangue de grávidas infectadas – Foto: Jamille Dombrowski/ Arquivo Pessoal

Malária na gestação

A pesquisa foi realizada em parceria com a London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM), na Inglaterra. O laboratório de Marinho estuda já há dez anos os efeitos da malária vivax em grávidas no Acre, também uma região endêmica, e colaborou para a pesquisa com amostras de sangue de grávidas infectadas.

Jamille Dombrowski, pós-doutoranda no laboratório, participou diretamente dos ensaios em Londres durante seu estágio de pesquisa no exterior com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), no doutorado. Ela explica que o P. vivax é especialmente perigoso devido a sua capacidade de viver em estágios dormentes no fígado, que provocam reincidência da doença e cujo combate exige primaquina, um fármaco que não pode ser usado durante a gestação pelo risco de causar hemólise (destruição de células do sangue) no feto. Tais casos demandam um acompanhamento especial com prescrição de cloroquina semanalmente até o fim da gravidez.

Compreender a diversidade genética do parasito em gestantes também é de extrema importância e um dos objetivos da equipe. Este outro trabalho está em fase de conclusão e também é fruto da colaboração entre a LSHTM e o ICB. Jamille afirma estar otimista com os resultados. “O melhor entendimento sobre a genética do P. vivax nessa população de gestantes é mais uma ferramenta para que possamos combater a doença e, assim, criarmos melhores estratégias para reduzir o impacto tanto na mãe como no bebê.”

Mais informações: e-mail jamille.dombrowski@gmail.com, com Jamille Dombrowski, ou e-mail marinho@usp.br, com Cláudio Marinho