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Jornal da Unesp online

Raio-X específico identifica alterações em medicamentos

Publicado em 14 abril 2009

Por Julio Zanella

A ação terapêutica de um medicamento depende da conexão correta entre as moléculas presentes em seu princípio ativo e as que proporcionam a resposta biológica no organismo. Dependendo da forma como as moléculas são organizadas no medicamento, elas podem alterar a dissolução da droga e não fazer o efeito esperado ou até mesmo provocar intoxicação no paciente. Quando isso ocorre, pode ter havido alterações na estrutura cristalina original das moléculas do princípio ativo do remédio, conhecidas como polimorfismo.

O físico Carlos de Oliveira Paiva-Santos, docente no Instituto de Química, câmpus de Araraquara, explica que o polimorfismo ainda é pouco estudado no país. “São compostos químicos com a mesma fórmula original, mas cuja estrutura cristalina das moléculas diferentes”. Para identificá-lo, pesquisadores da Unesp inovam ao utilizar técnicas já empregadas para caracterizar materiais cerâmicos.

Junto com a sua aluna de doutorado, a química Selma Gutierrez Antonio, Paiva-Santos é precursor, no Brasil, na utilização dos métodos Rietveld e Difração de Raios-X por Policristais (DRX). “O DRX detecta o polimorfismo e o método de Rietveld determina a porcentagem em que ele ocorre nos princípios ativos de drogas”, acrescenta o também coordenador do Laboratório Computacional de Análises Cristalográficas e Cristalinas (LabCACC).

“As alterações químicas podem ocorrer durante a fabricação ou no armazenamento dos medicamentos. Isso pode modificar a ação terapêutica, mesmo naqueles que apresentam a mesma fórmula química". Um exemplo histórico de polimorfismo ocorreu nas décadas de 1950 e 1960 e ficou conhecido como os "bebês da talidomida". O fármaco era indicado para combater enjôos matinais em grávidas, mas foi responsável por malformações congênitas de mais de dois mil bebês.

Segundo Paiva-Santos, em alguns países da Europa e nos EUA, o DRX é a ferramenta principal para identificar polimorfismo. “Esperamos a mesma posição da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), órgão responsável pela fiscalização dos medicamentos produzidos e comercializados no Brasil”. Ele salienta, ainda, a importância da formação de profissionais capacitados para fazer análises dessa ordem.

Pesquisa em grupo - O grupo liderado por Paiva-Santos, conta atualmente com cinco pesquisadores. Eles já estabeleceram os procedimentos para detectar polimorfo em cinco medicamentos. “Atualmente estudamos 16 princípios ativos de hormônios e antiinflamatórios vendidos no mercado, genéricos e drogas manipuladas”, completa Selma. “Estamos aprimorando as técnicas e procedimentos para que os resultados sejam inequívocos”.

O estudo está sendo realizado também no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas com a colaboração do físico Fábio Furlan Ferreira. As pesquisas têm o apoio financeiro da Fapesp, Capes e CNPq. Recentemente, nove trabalhos desenvolvidos pelo grupo foram apresentados no II Simpósio Latino Americano de Polimorfismo e Cristalização em Fármacos e Medicamentos. “São pesquisas que vão contribuir para melhorar a qualidade dos medicamentos consumidos pela população”, aponta Selma.