Notícia

Gazeta Mercantil

Quem não lê não sabe escrever

Publicado em 02 abril 1997

Por Roseli Azevedo *
É muito desalentador observar que a educação brasileira bateu mais um recorde: apenas 1% dos nossos alunos da 3a série do colegial tem domínio adequado da língua portuguesa. A situação carece de uma urgente mudança de paradigma da educação no Brasil. Não basta somente o esforço de associações de pais e mestres; é preciso o engajamento da sociedade como um todo, incluindo educadores, empresários, dirigentes governamentais, bibliotecários, escritores, profissionais do livro, professores e alunos. O "boom" informacional da "Information Age" - ressaltando aqui que nada tenho contra a informática, a multimídia e a realidade virtual - é tão gigantesco que pode até gerar doenças como a ansiedade da informação. As pessoas não sabem mais escolher o canal de transmissão da informação: folhear o jornal, as revistas com fórmulas de rejuvenescimento, ler um livro, ouvir música, assistir a uma fita de vídeo, acessar a enciclopédia interativa em CD-ROM, ouvir um "talking book", assistir aos programas da CNN ou acessar a "Information Superhighway". O que fazer primeiro? Diante de tanta informação, é preciso planejar, organizar, aprender a processar a informação, ou seja, aprender a aprender. Os bibliotecários podem ajudar as pessoas a organizar essa entropia informativa e estão preparados para oferecer aos usuários as fontes mais apropriadas para cada tipo de pesquisador do ano 2000 (em formato impresso, na mídia eletrônica ou nas bibliotecas digitais). Vale mencionar a colocação brilhante de Antoninho Marmo Trevisan (presidente da Trevisan Auditores e Consultores), que, em recente palestra dirigida aos bibliotecários paulistas, ressaltou que atualmente é preciso agregar a informação para transformá-la em conhecimento. "Informações perdidas não geram riquezas. É preciso selecionar, adquirir, processar e disseminar as informações para transformá-las em conhecimento, acrescentou o empresário. Mais do que nunca, todos sabemos que somente o conhecimento pode melhorar a classificação do Brasil no ranking mundial da educação, economia e negócios. É nesse contexto que o papel do bibliotecário se insere de maneira vital para o desenvolvimento do hábito da leitura, para a seleção, catalogação de livros, periódicos, CDs, "áudio books", videoteipes ou ainda para o gerenciamento das informações técnicas e administrativas das empresas. A 14ª Bienal Internacional do Livro em São Paulo comprovou que, se as crianças tiverem livros, elas lerão com freqüência. A Bienal registrou a visita de 1,5 milhão de pessoas, apresentou 152 mil títulos de 22 países, dos quais 3 mil eram lançamentos. O faturamento da exposição foi em torno de R$ 84 milhões. É óbvio que as recentes mudanças econômicas do Brasil influenciaram o desenvolvimento da leitura, trazendo, como resultado, melhor consciência de cidadania. Ante os impulsos demonstrados pelo mercado, se motivarmos os leitores mirins a adquirir o hábito de leitura através das escolas bem equipadas, bibliotecas automatizadas, clubes de livros e livrarias modernas, temos certeza de que os alunos brasileiros enriquecerão seus conhecimentos em diversos campos. Veementemente, diríamos que o Brasil precisa de mais leitores. A sociedade brasileira já retomou a consciência de que é possível resgatar o amor pelos livros. Eles têm o poder mágico de reunião de pensamentos, idéias e conceitos. São verdadeiras fontes de "food for thought" e desenvolvem o raciocínio, o senso crítico e o conhecimento de base. É preciso incentivar os alunos a ler os principais autores nacionais e estrangeiros, periódicos, livros didáticos e obras científicas e humanísticas. Vale ressaltar o alerta do "big boss" da Microsoft, Bill Gates, que categoricamente afirmou: "Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros". * Roseli Azevedo é bibliotecária-chefe da União Cultural Brasil-Estados Unidos e ex-bolsista Fulbright, University of Kansas.