Um estudo feito pela Clinical Infectious Diseases, no dia 6 de maio, publicado pelo portal Uol, sugere que pessoas que já tiveram dengue possuem duas vezes mais chances de desenvolver os sintomas da Covid-19, caso sejam infectadas pelo coronavírus.
O trabalho foi coordenado pelo professor da Universidade de São Paulo (USP), Marcelo Urbano Ferreira e contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
As conclusões do estudo se deram por meio da análise de amostras sanguíneas de 1.285 moradores da cidade de Mâncio Lima, no Acre. De acordo com o professor, o resultado do estudo evidenciou essa propensão maior de contrair os sintomas da Covid-19 em populações que já tiveram dengue, e isso pode estar relacionado aos fatores demográficos.
“Este é um exemplo do que tem sido chamado de sindemia (interação sinérgica entre duas doenças de modo que uma agrava os efeitos da outra): por um lado, a Covid-19 tem atrapalhado os esforços de controle da dengue, por outro, esta arbovirose parece aumentar o risco para quem contrai o novo coronavírus", explicou.
Ainda segundo Ferreira, em setembro de 2020, foi divulgado um estudo de outro grupo, que sugeria o oposto, ou seja, que em locais muito atingidos pela dengue tinham incidência menor da Covid-19, por isso, realizaram o novo estudo, que trouxe o resultado inverso.
"Como nós tínhamos amostras de sangue da população de Mâncio Lima coletadas antes e após a primeira onda da pandemia, decidimos usar o material para testar a hipótese de que a infecção prévia pelo vírus da dengue conferia algum tipo de proteção contra o SARS-CoV-2. Mas o que vimos foi exatamente o oposto", relata.
Metodologia
As amostras foram coletadas em dois momentos, primeiro de novembro de 2019, e o segundo em novembro de 2020. O material foi submetido a testes capazes de detectar anticorpos contra os quatro sorotipos da dengue e, também, contra o SARS-CoV-2.
Os resultados mostraram que 37% da população avaliada já havia contraído dengue até novembro de 2019 e 35% haviam sido infectados pelo novo coronavírus até novembro de 2020. Também foram analisadas as informações clínicas (sintomas e desfecho) dos voluntários diagnosticados com a covid-19.
As causas do fenômeno descrito no artigo ainda não foram concluídas pelos estudiosos. Há a possibilidade que exista uma base biológica, no qual os anticorpos contra o vírus da dengue possam estar contribuindo com o agravamento da Covid-19.
Mas, pode ser também uma questão sociodemográfica, relacionada com a existência de populações mais vulneráveis às duas doenças por características diversas. Independente do motivo, deve-se ponderar que as medidas preventivas contra as doenças devem prevalecer.
"Os resultados evidenciam a importância de reforçar tanto as medidas de distanciamento social voltadas a conter a disseminação do SARS-CoV-2 como os esforços para controle do vetor da dengue, pois há duas epidemias ocorrendo ao mesmo tempo e afetando a mesma população vulnerável. Isso deveria ganhar mais atenção por parte do governo federal", disse Ferreira.
Para o professor da pós de Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica do ICTQ - Instituo de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Rafael Poloni, os constantes estudos podem indicar novos danos relacionados à Covid-19, e que o vírus ainda é um mistério.
“As sequelas estão sendo descobertas aos poucos, haja vista que é uma infecção nova, com comorbidades associadas na maioria das vezes. Ao farmacêutico cabe informar às autoridades competentes essas possíveis sequelas da infecção da Covid-19, identificadas em seus pacientes, bem como estar sempre atento às bases de divulgação de estudos científicos, para que as informações possam ser passadas, aos pacientes e à população em geral, de modo fidedigno”, disse Poloni, ao ICTQ.
Com: ICTQ - Instituo de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico