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Quem é Atila Iamarino e por que você deve prestar atenção ao que ele está dizendo

Publicado em 31 março 2020

Por Yuri Ferreira

Na última segunda-feira (30) o biólogo Átila Iamarino participou do Roda-Viva, programa de entrevistas da TV Cultura. O divulgador científico tem acumulado milhares de seguidores nas redes sociais por seu intensivo trabalho sobre a pandemia do coronavírus. Doutor formado pela USP e por Yale, ele é especialista em epidemias virais e tem se mostrado um ferrenho defensor do isolamento horizontal e de medidas de intensificação da quarentena. Mas quem é Átila Iamarino e por que você deve prestar atenção no que ele está dizendo?

Essa não foi a primeira participação de Iamarino no Roda Viva. Em 2009, ele havia participado como entrevistador na bancada que conversou com o Secretário de Saúde Luiz Roberto Barradas Barata sobre H1N1. Desde essa época, Átila mantinha um blog auxiliando a divulgação de informações sobre a epidemia de Gripe Suína, além de auxiliar a comunicação da OMS sobre o tema. Através desse espaço, ele ganhou visibilidade e foi convidado pelo Nerdcast – o podcast do Jovem Nerd – para falar sobre ciência no mundo Nerd – e posteriormente criou o Nerdologia, canal de Youtube de divulgação científica junto de Filipe Figueiredo, apresentador do Xadrez Verbal.

Formação acadêmica de Átila Iamarino

Átila Iamarino é formado em Ciências Biológicas e doutor em Virologia pela Universidade de São Paulo. Ao contrário do que muitos pensam, ele não é epidemiologista. Mas seus estudos sobre a evolução e espalhamento do Zika Vírus, além da natureza do Ebola lhe deram carga suficiente para compreender e avaliar a situação do coronavírus.

Suas pesquisas financiadas pela FAPESP (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo) compreendendo o HIV-1 e as evoluções virais em insetos o qualificam para falar sobre a Covid-19. Um de seus pós-doutorados foi realizado na Universidade de Yale.

Um dos mais ferrenhos críticos do trabalho de Átila cunhou a seguinte frase: “Só porque você estudou na USP, tem uns doutorados sobre virologia em Yale, você acha que pode falar sobre coronavírus?”.

Com um conhecimento amplo sobre virologia e comunicador nas redes sociais há anos, Átila explicou ao Roda Viva como o coronavírus é transmitido: “A Covid mata de 10 a 20 vezes mais que o vírus da gripe comum, hospitaliza de 10 a 20 vezes mais pessoas que a gripe comum, então ela satura o Sistema de Saúde muito rapidamente, ela pode se transmitir para duas a três pessoas logo em seguida, isso é mais viral que memes na internet, que normalmente se espalham para duas pessoas ou menos, em média”.

Principal referência sobre coronavírus

Átila ganhou muita visibilidade por ser um dos maiores divulgadores científicos do Brasil mesmo antes da epidemia de coronavírus. Foi através do seu canal Nerdologia que ele explicou diversos assuntos científicos e trouxe um canal de ciência – com rigor que a academia exige – que ele conquistou milhões de seguidores nas redes sociais. Mas se seu trabalho sobre questões da ciência tinham fins de entretenimento ou educação, hoje trata-se de uma questão de saúde pública.

Através de suas lives e um acompanhamento da situação desde o início do surto na China, em dezembro do ano passado, Iamarino tem acompanhado medidas de saúde pública e estudos sobre o vírus para alertar autoridades brasileiras, a imprensa e a população sobre os riscos de tentar fingir uma normalidade enquanto o coronavírus está sem controle.

Uma de suas falas mais polêmicas, baseada em um estudo da Imperial College, afirmou que se o Brasil não fizesse um confinamento rápido, teria mais de um milhão de mortos em agosto: “A gente tem o caminho da mitigação e o cenário da supressão. No cenário da mitigação, em que a gente não suprime as pessoas, não mantém elas em casa e deixa mais do que o básico funcionando, pelo menos 1 milhão de mortos até o fim de agosto”, afirmou em uma live que alcançou mais de 5 milhões de pessoas.

Criticado por setores conservadores, empresários e negacionistas do coronavírus, Iamarino tem tentado buscar dar um parecer científico em um momento onde a falta de racionalidade tem tomado conta. O desejo de ignorar o que está acontecendo e fingir uma normalidade se mantém, mas a situação não é normal.

Defensor da ciência

Durante o Roda Viva, Átila deixou bastante claro que um dos principais problemas que o Brasil criou para si mesmo foi a redução do financiamento de pesquisa. O biólogo, que alcançou seu doutorado e pós-doutorado com ajuda da FAPESP, reiterou o quão importante é que as instituições públicas de ensino mantenham bolsas para seus pesquisadores e denunciou o corte de bolsas promovido pela CAPES na última semana.

“No meio da pandemia, um amigo da UnB tá em um laboratório fazendo testes pra coronavírus. Ele tem um aluno de doutorado que mudou pra lá e parou o que ia fazer pra ajudar no diagnóstico de COVID-19. Acabou de descobrir que a bolsa de doutorado dele foi cortada da CAPES”, afirmou em seu Twitter.

Segundo Iamarino, o Brasil sucateou sua capacidade de fazer testes e reagentes químicos que poderiam nos ajudar na hora de testagem do coronavírus, problema reconhecido pelo Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Além disso, ele alertou para crescente descrença na imprensa e na academia, alertando que um lado positivo do coronavírus seja finalmente a recuperação da confiança dessas duas instituições.

“Temos duas ferramentas que estavam em descrédito. É bom renovar a confiança. A imprensa, que vem sendo atacada, é de extrema importância, é confiável gente competente que apura informação. A outra é a ciência. Seja histórica, para reconstruir e construir cenários, ou para prever, como a biologia”, afirmou no Roda Viva.

Segundo a jornalista Vera Magalhães, a participação de Átila Iamarino rendeu a maior audiência da história do programa, superando até o Ministro da Justiça Sérgio Fernando Moro. Confira a participação de Átila Iamarino no Roda Viva:

Átila fez também um maravilhoso Ted na USP explicando como a tecnologia muda e como as áreas de conhecimento estão cada vez mais se renovando e, por isso, é necessário observar o futuro para se preparar no presente, em todas as áreas da ciência.

Confira a polêmica live em que Átila fala sobre a possível morte de 1 milhão de brasileiros caso a política adotada no país fosse a de mitigação: