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Queimadas e agricultura intensiva aceleram degradação do solo no sul da Amazônia (21 notícias)

Publicado em 09 de junho de 2025

Estudo revela que o uso contínuo do fogo e a conversão de florestas para cultivo, mesmo com boas práticas agrícolas, causam perdas severas de carbono e nitrogênio no solo, comprometendo sua saúde a longo prazo.

A combinação entre queimadas frequentes e o avanço da agricultura está provocando a deterioração acelerada dos solos no sul da Amazônia. Essa é a conclusão de um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros e estrangeiros na Estação de Pesquisa Tanguro, localizada no Arco do Desmatamento, região de transição entre Amazônia e Cerrado.

Segundo o pesquisador Mário Lucas Medeiros Naval, autor principal da pesquisa, o fogo analisado não é um fenômeno natural. “É resultado direto da expansão agropecuária, degradação florestal e secas intensificadas pelas mudanças climáticas, todas consequências da ação humana”, destaca. Os impactos observados afetam não apenas a matéria orgânica do solo, mas também diversas funções essenciais para a manutenção dos ecossistemas locais.

Publicado na revista científica Catena, o trabalho comparou quatro cenários: floresta intacta, floresta queimada anualmente, floresta queimada a cada três anos e área agrícola com práticas conservacionistas. Os resultados revelam reduções nos estoques de carbono do solo em 17% com queimas anuais, 19% com queimas trianuais e 38% com conversão para agricultura.

“Mesmo adotando práticas como plantio direto e rotação de culturas, os impactos negativos da agricultura sobre o solo ainda são mais intensos do que os das queimadas recorrentes”, afirma Naval. A pesquisa foi realizada em uma área de 150 hectares, permitindo análises robustas e representativas.

Nove anos após a última queimada, os pesquisadores constataram que os níveis de carbono e nitrogênio do solo ainda estavam significativamente reduzidos. Isso compromete a capacidade do solo de reter nutrientes, medida pela Capacidade de Troca Catiônica (CTC), um dos principais indicadores de sua saúde.

Além da perda de nutrientes, também foram registrados efeitos negativos sobre características físicas e químicas do solo, ampliando a dimensão da degradação ambiental provocada tanto pelo fogo quanto pela agricultura intensiva.

Ao contrário do Cerrado, onde o fogo é um elemento natural do ecossistema, na Amazônia ele é exógeno, ou seja, introduzido por mudanças no uso da terra. “Estamos interferindo em um ambiente não adaptado ao fogo, e os impactos são profundos e duradouros”, alerta Naval.

A análise total do carbono, somando o presente no solo e na biomassa vegetal, mostrou perdas de 33% em áreas com queima anual e 48% nas queimas trianuais. Esses dados reforçam os efeitos destrutivos dos incêndios sobre o equilíbrio ecológico da floresta.

Os pesquisadores recomendam políticas urgentes para frear o avanço da fronteira agrícola e prevenir incêndios florestais. Também sugerem a adoção de sistemas agroflorestais, capazes de preservar a biodiversidade, estocar carbono e manter a fertilidade do solo.

“A transição para modelos mais sustentáveis de produção é vital para garantir a saúde dos solos, a estabilidade climática global e a segurança alimentar”, explica Plínio Barbosa de Camargo, coordenador do projeto.

O estudo integra o projeto internacional Amazon PyroCarbon, financiado pela FAPESP e instituições do Reino Unido, com foco nos impactos do fogo sobre solos amazônicos. A pesquisa na Estação Tanguro é parte dessa ampla iniciativa liderada por Camargo e o britânico Ted Feldpausch, da Universidade de Exeter.