A qualidade do ar na Grande São Paulo poderá ser melhorada por meio do controle de emissões de poluentes por fontes ainda não reguladas e subestimadas, como a queima de lenha por pizzarias e de carvão vegetal por churrascarias, entre outras medidas.
A avaliação é de um estudo feito por pesquisadores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), em colaboração com colegas da University of Surrey, na Inglaterra, da North Carolina State University, dos Estados Unidos, e das Universidades Federal de Minas Gerais (UFMG) e Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). O estudo, que teve apoio da Fapesp, foi publicado na revista "Atmospheric Environment".
Apesar de a maioria das emissões de poluentes na região metropolitana de São Paulo ser proveniente da frota veicular, há outras fontes que devem ser consideradas, como a contribuição de queimadas oriundas dos processos agrícolas em SP e de florestas da Amazônia, e outras mais locais de queima de biomassa, como a de lenha por pizzarias e de carvão vegetal por churrascarias
"Ainda não sabemos qual a real contribuição dessas fontes de emissões de poluentes e até mesmo de outras muito maiores, como as industriais, que ainda carecem de uma melhor descrição e avaliação de seus impactos atmosféricos", afirmou.
Emissões por pizzarias
Os pesquisadores estudaram o transporte químico para a metrópole de aerossóis gerados pela queima de floresta na Amazônia e da palha da cana, no Estado de São Paulo, com o objetivo de distingui-los dos decorrentes de emissões locais, como as geradas pela queima de lenha e de carvão.
"Quando se medem as emissões de poluentes por queima de biomassa na região metropolitana de São Paulo sempre se supõe que é resultado do transporte de partículas emitidas pela queima da folhagem da cana-de-açúcar fora da metrópole, por exemplo, que percorre longas distâncias", disse Andrade.
"Mas, na verdade, pode ser que boa parte da massa de partículas com compostos carbonáceos [de carbono] seja proveniente da queima de biomassa dentro da cidade, como a proveniente da queima de lenha em pizzarias e de carvão vegetal em churrascarias", indicou.
Os pesquisadores conseguiram confirmar essa hipótese, apontando a queima de biomassa em fornos de pizzaria na cidade de São Paulo como fonte de poluição do ar.
De acordo com estimativas do estudo, há 11 mil pizzarias só em São Paulo – a segunda cidade que mais consome pizza no mundo, atrás apenas de Nova York. Aproximadamente 80% desses estabelecimentos queimam lenha, principalmente eucalipto, para produzir cerca de 1 milhão de pizzas por dia.
Raio-x do forno à lenha paulistano
A quantidade média de lenha usada pelas pizzarias na cidade é de 48 toneladas por ano. Esse número perfaz um total de 7,5 hectares de floresta de eucalipto queimados por mês e 307,2 mil toneladas de madeira incineradas por ano, que resultam na emissão para a atmosfera de cerca de 321 quilos (kg) por dia de material particulado com diâmetro menor do que 2,5 mícrons (µm) – considerado o mais relevante em termos de impactos à saúde, além de poder interferir no balanço radioativo.
Apesar de toda essa quantidade de queima de lenha por pizzarias, ela representa, aproximadamente, 3% das emissões diárias do total de poluentes gerados por veículos e indústrias, o que relativamente é muito pouco
Essas emissões não estão quantificadas e, consequentemente, não têm sido consideradas nos inventários de emissões de poluentes na metrópole, apontam os pesquisadores.
Uma vez que as emissões ocorrem no começo da noite – quando as condições atmosféricas estão mais estáveis e as partículas dispersam menos –, e as chaminés das pizzarias e churrascarias estão situadas no nível do solo, o efeito pode ser muito maior, especialmente durante os meses frios, quando as condições atmosféricas também ficam menos favoráveis à dispersão de poluentes.
Forno à lenha em cheque
Em Nova Déli, na Índia, onde se queima muita lenha, foi proposto recentemente que todos os restaurantes da cidade com capacidade de atender mais de 10 pessoas sentadas devem substituir a queima de carvão por aparelhos elétricos ou a gás natural para o preparo das refeições. As medidas devem resultar em uma redução de cerca de 67% nas emissões de material particulado com 10 e 2.5 µm de diâmetro, estimam os pesquisadores.